Durou 101 dias a Era Miguel Ángel Ramírez no Beira-Rio. A eliminação na primeira fase em que participou na Copa do Brasil, para um time da Série B, perdendo em casa por 3 a 1, somou-se ao mau começo no Brasileirão, ao vice do Gauchão e a desempenhos considerados insatisfatórios, apesar do primeiro lugar, na Libertadores, e tudo isso deixou o ambiente insustentável para o treinador.
O clube está à procura de substitutos, naturalmente. Mas não só de nomes para compor uma comissão técnica. Existe a ideia de escolher alguém para o cargo de coordenador técnico, promessa da campanha da chapa vencedora na última eleição e que, de fato, até agora não foi preenchida.
O plano inicial era contratar essa figura antes de buscar um treinador. Mas como disse o próprio vice-presidente de futebol colorado João Patrício Herrmann, há urgência para "achar uma solução no curtíssimo prazo", o que pode, mais uma vez, virar a prioridade.
Assim, dois nomes emergem com mais força para a casamata: Lisca e Diego Aguirre. Em comum, ambos têm ligação com o Inter, o primeiro por ter sido técnico da base, auxiliar e ter aceitado a missão de comandar o time nos três últimos jogos de 2016, quando a queda era inevitável; o segundo, por ter sido jogador no final dos anos 1980 e técnico em 2015, na campanha que culminou na semifinal da Libertadores daquele ano, além do título gaúcho.
Por ora, o Inter não vai falar abertamente sobre nomes. Disse Herrmann:
— Não temos nenhum nome na nossa lista, nosso treinador se chama Osmar Loss, já treinou de tarde, tem experiência no futebol e vem acompanhando os trabalhos.
Quando perguntado sobre Lisca, porém, elogiou o treinador, ainda que cauteloso com as palavras:
— Lisca tem uma história muito bonita no Inter. Mas não tenho nada a dizer sobre ele nem qualquer outro.
O outro nome especulado com mais força ao longo do dia foi o do português Marco Silva, oferecido por empresários. Técnico com passagem na Premier League, ele chegou a ter o nome ligado ao Flamengo e ao São Paulo, mas os negócios não evoluíram.
Os três, por mais que não façam declarações públicas, aceitariam trabalhar no Inter mesmo com a temporada em andamento. As negociações seguirão a pleno no fim de semana, mas a tendência é de que os dois próximos jogos (domingo contra o Bahia e quarta-feira contra o Atlético-MG) tenham Osmar Loss na casamata. Ao mesmo tempo, o clube garimpa o mercado atrás de alguém para ser o coordenador técnico.
Bastidores do acordo
Desde a derrota para o Vitória e a eliminação na Copa do Brasil, estava claro que Miguel Ángel Ramírez não seria mais técnico do Inter. A alta cúpula da direção se reuniu após o jogo e, ainda na madrugada, decidiu por conversar com o treinador na manhã para chegar a um acordo. Isso é importante porque na atual regra do futebol brasileiro, um time só pode demitir um treinador — mas trocas em "comum acordo" estão liberadas.
— Nós, junto com treinador, encontramos uma solução para a sua saída, entendemos todos que era o momento — fez questão de falar, e até repetir, o vice de futebol colorado, João Patrício Herrmann.
Foi a isso que se prestou a reunião da tarde de sexta-feira. Ramírez não abriu mão de receber valores a que tem direito, mas aceitou um acordo para uma rescisão amigável. O espanhol ganhará cerca de R$ 10 milhões, que serão pagos parceladamente. Isso pesará no orçamento do clube, que já é apertado, e possivelmente, precisará usar verba das iminentes negociações por Praxedes e Peglow para sanar as dívidas.
O encontro entre dirigentes e comissão técnica foi feito em uma chamada de vídeo, já que o treinador está infectado pelo coronavírus. Ate por essa razão, Ramírez não tem intenção de convocar uma entrevista coletiva para os próximos dias. Ele estuda uma manifestação pelas redes sociais. Com o técnico, saem também o auxiliar Martín Anselmi, o preparador físico Cristóbal Fuentes e o analista de desempenho Luis Piedrahita.
Apesar dessas saídas, Herrmann afirmou que havia confiança e respaldo no trabalho de Ramírez e garantiu que o projeto continuará, mas agora sob outro comando:
— A nossa convicção nele continua, mas questões internas, resultados imediatos, que acabaram não dando certo, fizeram a gente chegar nessa decisão. Existia uma ânsia muito grande para a troca dessa comissão técnica. O mais importante era que o trabalho dele era de médio e longo prazo, mas estávamos tendo dificuldades no curto.