Chegou ao fim a passagem de Miguel Ángel Ramírez no comando do Inter. Após a eliminação para o Vitória na Copa do Brasil, a direção colorada optou pela demissão do técnico, três meses depois da chegada do profissional.
Contratado com a missão de implementar um novo modelo de jogo no Colorado, pesou para a saída do treinador a falta de evolução no desempenho da equipe. Abaixo, GZH recorda 10 momentos vividos pelo espanhol no período em que esteve no Beira-Rio:
1) Apresentação e primeiros dias de trabalho
Ramírez foi apresentado no Inter no dia 5 de março, quatro dias após chegar a Porto Alegre. Na primeira coletiva como comandante do Colorado, o treinador destacou a confiança no projeto de futebol do clube gaúcho.
— Eu acredito muito nesse projeto. Temos uma comissão de muita capacidade. Desde o primeiro momento, tive a certeza que era esse o novo local, que era esse o nosso próximo passo. Estamos convencidos de que os torcedores vão estar contentes com a sua equipe. O futebol é um espetáculo, se paga para se divertir, e, claro, para ganhar. Viemos para isso, ninguém joga para perder. Viemos ganhar e vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para convencer o grupo de jogadores, para que possamos ser campeões. Espero que possamos construir uma história bonita juntos — afirmou.
O grupo colorado se reapresentou para a temporada de 2021 no dia 8 de março. A primeira atividade liderada por Ramírez ocorreu um dia depois. Na ocasião, o profissional começava a estabelecer os conceitos do modelo de jogo que desejava implementar no Inter.
2) Estreia na casamata
Por conta de questões burocráticas, Ramírez não pôde ficar na casamata no confronto diante do Ypiranga, pela quarta rodada do Gauchão. Sob o comando do auxiliar Martín Anselmi, o Inter venceu o duelo por 4 a 1. A estreia à beira do gramado ocorreu no dia 21 de março. O Colorado ganhou do Novo Hamburgo por 1 a 0, também pelo Estadual, com gol de Marcos Guilherme.
— Estamos vendo algumas evoluções, apesar dos erros. Haverá erros, acontece. É o preço que temos de pagar. Vamos tentar reduzir o número de erros, e minha responsabilidade é fazer isso no menor tempo possível. O grupo tem uma capacidade para assimilar o que propomos, de entender o que pedimos. No dia a dia, estamos encontrando respostas. É um grupo muito trabalhador e estamos usando todos os meios que temos para introduzir a nossa ideia — disse o treinador logo após a estreia.
3) Sequência de goleadas
O breve período de Ramírez no comando do Inter também foi marcado por grandes goleadas. Os placares elásticos até deram a impressão de que as proposições do técnico espanhol estavam sendo bem entendidas pelos jogadores. No Gauchão, destaque para o 6 a 1 contra o Aimoré, em São Leopoldo, e o 5 a 0 diante do Esportivo, no Beira-Rio. Na Libertadores, teve 6 a 1 no Olimpia e 4 a 0 no Deportivo Táchira, ambas em Porto Alegre.
— Treinamos para gerar muitas chances (de gol). Temos muita qualidade. Somos capazes de entregar a bola em boas condições para os nossos atacantes. Estamos muito felizes. Estamos satisfeitos — pontuou Ramírez após o 4 a o no Táchira, pela fase de grupos da Libertadores.
4) Insucessos em Gre-Nais
A primeira derrota de Ramírez pelo Inter veio diante do maior rival. No dia 3 de abril, o Colorado foi até a Arena para a disputa do Gre-Nal 430. O clássico esteve empatado até os 43 minutos do segundo tempo, mas Léo Chú marcou o gol que deu a vitória aos gremistas.
O reencontro com o Grêmio ocorreu nas finais do Gauchão. No jogo de ida, após abrir o placar com Thiago Galhardo, o Colorado sofreu a virada e perdeu por 2 a 1, em pleno Beira-RIo. Na volta, empate em 1 a 1. Com o desfecho, além de perder o título estadual, viu aumentar a desconfiança em relação ao trabalho desenvolvido.
5) Perda do Gauchão
Com o avanço da temporada anterior em 2021, o Inter iniciou o Gauchão com uma equipe alternativa. Com Fábio Matias como treinador, os jovens da base colorada, acrescidos de atletas do grupo principal, tiveram um aproveitamento não muito animador, com uma vitória, um empate e uma derrota. Ramírez entrou na competição com a missão de quebrar um tabu. O Colorado não vence o campeonato desde 2016.
Apesar das goleadas realizadas no Estadual, o grande obstáculo acabou sendo mesmo o Grêmio. Na semifinal, o Inter até encontrou dificuldades no duelo com o Juventude, tanto que perdeu o confronto de ida por 1 a 0, mas resolveu na volta com o triunfo por 4 a 1. Na decisão, derrota em casa e empate como visitante diante do rival deixaram o Colorado mais um ano sem o título estadual.
6) Classificação na Libertadores
O desempenho do Inter na fase de grupos da Libertadores foi marcado por altos baixos. Se tiveram goleadas contra Olimpia e Deportivo Táchira, no Beira-Rio, fora de casa o Colorado não foi bem. Em um grupo considerado fácil, a equipe de Miguel Ángel Ramírez ficou com a pior campanha entre os líderes das chaves. A derrota na estreia para o Always Ready por 2 a 0 e a virada sofrida para o Deportivo Táchira, na Venezuela, deixaram os torcedores com dúvidas sobre a sequência do clube na competição internacional.
— O Inter fez o que tinha de fazer nesta fase, que era passar em primeiro. Nosso objetivo foi alcançado. Agora, começa outra coisa, com Brasileirão, Copa do Brasil, e teremos dias até começar as (fases) eliminatórias. Vamos ver quem estará no plantel, quem sairá, quem estará disponível até lá — argumentou Ramírez depois do 0 a 0 com o Always Ready, no Beira-Rio, que confirmou o Inter como líder do Grupo B.
7) Mudanças constantes na equipe
Em 22 partidas, 22 escalações diferentes. Todos jogadores do plantel receberam uma média de 180 minutos em campo nos jogos iniciais do Gauchão para que Ramírez e sua comissão pudessem observá-los em campo. À medida que cada sessão de treino e jogo mostravam como e quanto cada atleta assimilava as ideias do novo modelo, a estrutura de time ia sendo consolidada. Ainda assim, cerca de meia equipe variava.
O que determinava quem começaria o jogo, segundo o próprio treinador espanhol, eram as circunstâncias da semana de trabalho. Lesões, desgaste físico, contágio por covid-19 e a característica do adversário conduziam as escolhas da comissão a cada escalação. Em uma dessas adaptações, Ramírez preferiu poupar titulares no Brasileirão para enfrentar o Vitória pela Copa do Brasil no meio da semana.
8) Vexame contra Fortaleza
O Inter saiu da Arena Castelão com o pior placar em todas competições desde 2015. Além da escalação de reservas, as substituições feitas por Ramírez foram com o objetivo de ir para o ataque depois de ter o zagueiro Pedro Henrique expulso. Após a partida, o discurso do vice de futebol, João Patrício Herrmann, foi forte.
— Estamos extremamente envergonhados. É a maior vergonha que eu passei como dirigente na história do Inter. O trabalho tem ajustes para fazer internamente. O Ramírez não é inflexível, está escutando o meio e os colegas — assegurou o dirigente.
9) Cobranças e afastamento por conta da covid-19
Pressionado, Ramírez sofreu cobranças da direção colorada para fazer ajustes em alguns conceitos. Dentre as mudanças pretendidas estava a manutenção de um time titular. Na visão dos dirigentes, a repetição das escalações ajudaria no aperfeiçoamento do modelo de jogo. Trocas pontuais por lesões ou desgaste físico continuariam acontecendo. A preservação de vários atletas ao mesmo não seria mais vista.
Em meio aos ajustes, o treinador acabou sendo diagnosticado com o coronavírus. O resultado positivo para a covid-19 foi divulgado pelo Inter na quarta-feira (9), véspera do confronto do Vitória. Na ausência de Ramírez, em isolamento, o Colorado foi comandado pelo auxiliar Martín Anselmi.
10) Eliminação na Copa do Brasil
Depois do 1 a 0 no jogo de ida contra o Vitória, na Copa do Brasil, o confronto de volta, no Beira-Rio, e a oportunidade da confirmar a vaga nas oitavas de final da competição, parecia uma boa chance para o Inter reverter o mau momento na temporada. No entanto, o que já era ruim, ficou ainda pior.
Sem poder contar com Ramírez na casamata, Martín Anselmi esteve à frente do Colorado na eliminação para o Vitória. Ao final do duelo, o presidente Alessandro Barcellos deixou claro que o trabalho da comissão técnica estava sob avaliação.
— Temos a obrigação de sentar e reavaliar todos os processos que dizem respeito às questões que estamos enfrentando e precisam ser resolvidos. Precisamos buscar saídas para termos resultados que nos coloquem em outro patamar — ressaltou Barcellos.