A trajetória de Miguel Ángel Ramírez à frente do Inter foi encerrada na tarde desta sexta-feira (11). Após 101 dias comandando o Colorado o espanhol foi demitido pelo presidente Alessandro Barcellos depois de sequência de insucessos no Brasileirão e Copa do Brasil.
A Era Ramírez acaba com 22 partidas, duas delas, sem estar na casamata (Ypiranga, por não estar regularizado, e Vitória, afastado por covid-19). O estrangeiro teve 11 vitórias, quatro empates e sete derrotas, com 43 gols marcados e 25 sofridos, um aproveitamento de 56%.
A demissão vem logo após a eliminação na Copa do Brasil na última quinta-feira, quando tinha a vantagem por ter vencido no Barradão, mas foi derrotado, no Beira-Rio, por 3 a 1 pelo Vitória.
Confira cinco motivos que levaram a demissão de Ramírez
Modelo de jogo x jogadores
O treinador espanhol foi contratado para mudar o jeito que o Inter vinha jogando nos últimos anos, principalmente com Odair Hellmann. Ramírez veio para tornar a equipe colorada propositiva. Em 100 dias, tentou implementar o Jogo de Posição no elenco, algo completamente diferente do que vinha sendo feito dentro do clube.
Acabou esbarrando nas dificuldades intrínsecas ao processo. Ainda que o treinador e até mesmo os jogadores negassem que houve problema na compreensão do modelo, isso ficou evidente em algumas partidas. Como uma tentativa praticamente desesperada de permanecer, o treinador abriu mão de certos conceitos e deixou o time menos com a sua cara contra o Vitória, como admitido por Patrick no intervalo do jogo. Não adiantou.
Perda de qualidade
O começo de trabalho de Ramírez era animador. Ainda que estivesse implementando a sua maneira de jogar, o Inter não só tinha boas atuações, com um futebol intenso e satisfatório, como também goleava. Fez 6 a 1 contra o Aimoré, 5 a 0 contra o Esportivo, 4 a 0 contra o Deportivo Táchira e 6 a 1 contra o Olimpia. Fazia muitos gols e sofria poucos.
No entanto, com o passar do tempo, quando era esperado um salto de qualidade pelo tempo que já estava à frente da equipe, o Colorado começou a dar mostras que ainda sofria com as mudanças feitas pelo treinador no modelo de jogo. Perdeu o Gauchão, sofreu uma virada na Venezuela pela Libertadores, empatou com o Always Ready-BOL em casa e viu a classificação na Copa do Brasil se esvair após vitória no jogo de ida.
Falta de respaldo
Eleito com um discurso de mudar o jeito de fazer futebol no Inter, o presidente Alessandro Barcellos demorou pouco mais de cinco meses para repetir uma sina colorada nos últimos anos: demitir o treinador em meio a uma temporada. Com o começo do trabalho de Barcellos e de Ramírez parecia que as coisas haviam mudado, com o mandatário garantindo que o espanhol permaneceria no clube e cumpriria os dois anos de contrato pré-estabelecidos.
Mesmo com a perda do Gauchão para o Grêmio no fim de maio, a convicção da diretoria colorada era de manter o treinador. Na coletiva após o vice-campeonato, Barcellos disse:
— O projeto não é do Ramírez, é do Inter. Ele faz parte do contexto e foi contratado para executar esta mudança, para ser protagonista, buscar jogo, sair do momento reativo e sofrer 90 minutos por uma bola. Estamos iniciando o processo.
De 23 de maio a 11 de junho, a questão mudou de figura. Depois da derrota por 5 a 1 para o Fortaleza no último domingo, o discurso já havia sofrido uma alteração. A fala de João Patrício Herrmann, vice de futebol do clube, apontava para uma mudança de rota no Inter. O que acabou acontecendo de maneira mais brusca nesta sexta.
Sombra de Abel x pressão da torcida
A chegada de Ramírez no Inter vem logo após um retorno de Abel Braga, um dos maiores técnicos da história do Inter, que quase acabou com o título brasileiro em 2020. Pode parecer pouco, mas a troca do ex-treinador pelo espanhol causou, em parte da torcida, um certo desconforto e desaprovação.
A pressão desta parcela de torcedores começou a se intensificar conforme o Inter foi perdendo desempenho na temporada de 2021. Nem mesmo as goleadas pelo Gauchão e pela Libertadores acalmaram a torcida e a campanha pela saída de Ramírez ganhou forma nas redes sociais.
Insatisfação com decisões
Recentemente, a a direção do Inter não gostou da decisão do treinador de preservar titulares no Castelão, na goleada contra o Fortaleza, de olho na partida contra o Vitória, pela Copa do Brasil. Uma conversa entre dirigentes e treinadores, inclusive, havia batido o martelo para que o treinador fizesse menos mudanças de um jogo para o outro, ainda que o espanhol seguisse com liberdade para fazer ajustes na equipe de uma partida para outra.