Dentro do projeto de reestruturação e profissionalização do Inter, um dos reforços mais relevantes será apresentado nesta quinta-feira (11), quase com pompa de atleta. Às 11h45min, haverá uma entrevista coletiva para que sejam ouvidas as primeiras palavras de Gustavo Grossi. O argentino chega com o status de ter sido diretor esportivo em um dos períodos mais gloriosos da história do River Plate, modelo para a América do Sul.
Antes de ser companheiro de Marcello Gallardo, foi dirigente no Rosario Central e no Racing e diretor de scouting (para descobrir jovens talentos) da Udinese para a América do Sul. Mas foi no Monumental de Núñez onde desenvolveu seu trabalho mais relevante. De 2016 até 2020, fez parte do projeto de reconstrução vivido pelo clube. Com respaldo da direção e compreensão do departamento profissional, reestruturou a categoria de base, criando processos para captação e para a formação dos atletas.
Foi graças a esse trabalho que despertou o interesse dos dirigentes do Inter e os incentivou a fazer o investimento de buscá-lo na Argentina. Aos 45 anos, ele desembarca em Porto Alegre para seu primeiro trabalho no Brasil. E o idioma não será problema: fala português bastante compreensível, além de italiano. Isso é possível constatar em uma entrevista que concedeu ao Footure — produtor de conteúdos sobre futebol — em novembro de 2020. Em duas frases, basicamente explicou que entende do processo da base:
— Um diretor não trabalha para que o time ganhe no final de semana. Trabalha para que o clube ganhe no projeto.
Esse projeto no River deu resultado prático em números. Conquistas e fracassos esportivos à parte, o fato é que na Libertadores de 2020, dos 30 atletas inscritos por Gallardo, 12 foram criados nas categorias inferiores.
— A base vai evitar que a direção busque jogadores para fazer parte do grupo. As contratações são para fazer diferença — analisou.
Para isso, prega ser fundamental uma "linha de produção". Quando houver um jogador na mira do futebol europeu, o clube precisa ter a reposição na categoria de base. Ou, no pior cenário, engatilhada dentro da realidade do mercado.
Parte do projeto dos Millonarios estava em padronizar os treinos e as atividades das categorias, para que os atletas tivessem uma metodologia semelhante conforme avançavam. Na formação, evitava que algum jogador pulasse etapas. Por exemplo: nenhum menino do sub-17 estrearia no time principal apenas por se destacar entre os companheiros da mesma idade. Ele seria alçado ao sub-20 e, se mantivesse o bom desempenho, subiria ao grupo profissional para, depois de meio ano, começar a ganhar minutos em campo.
— O pior que nos pode acontecer é que um atleta suba para o profissional, jogue e volte para a base — complementa.
Sua missão no River, segundo o jornalista Juan Cortese, da TyC Sports, envolvia captação de jogadores muito jovens, para as primeiras categorias. Algumas contratações ocorreram quando já estava lá, como a de Nico de la Cruz, então promessa do Liverpool-URU, e irmão do ídolo do clube Carlos Sánchez. A ascensão de jogadores como Julián Álvarez, atual camisa 9 do time, também teve sua participação.
— Foi um trabalho de coordenação permanente com Gallardo e havia uma comunhão importante em ambos — amplia Cortese.
Além desse currículo, seus contatos constantes com o Brasil encorajaram a direção colorada a buscá-lo. Foi quando entrou em ação o executivo Paulo Bracks.
— A relação saiu de admiração, respeito e acompanhamento pelo que fazia no River Plate e virou de amizade pela comunicação frequente institucional que tínhamos. E agora vai ser uma relação de trabalho, o que me deixa orgulhoso demais. Não há pessoa melhor para coordenar esse trabalho — revelou o dirigente.
É por isso tudo que o Inter trata a contratação como uma das mais relevantes da temporada. Gustavo Grossi tentará ser um marco nas categorias de base, um salto. E para ajudá-lo, Gilberto Monteiro, 32 anos, que estava no Atlético-MG e anteriormente ocupou o cargo em Red Bull Brasil e América-MG, será o coordenador de captação de jovens talentos para o clube gaúcho.
Quem é
- Gustavo Grossi, 45 anos
- Argentino
- Jornalista com especialização em jornalismo esportivo
- Formação em direito esportivo
- Principais trabalhos
- Diretor esportivo do Racing (2011-2012)
- Diretor de Scouting da Udinese na América do Sul (2013-2014)
- Diretor esportivo do Rosario Central (2014-2015)
- Diretor esportivo do River Plate (2016-2020)
O que ele já disse
No site pessoal, Gustavo Grossi disponibiliza algumas reportagens nas quais foi personagem. Uma delas foi uma entrevista coletiva concedida durante um evento de futebol no Equador. Duas perguntas e respostas chamam atenção.
Os olheiros, algumas vezes, dão apenas 15 minutos para que os meninos mostrem seu futebol em peneiras ou jogos. É suficiente?
Os grandes clubes não buscam talentos. Buscam prodígios. E esses você encontra em três ou quatro minutos. Um prodígio é alguém fora do comum, que identifica na hora. Os 10 ou 15 minutos são mais do que suficientes.
Mas não é um tempo muito reduzido?
O futebol de alto nível é cruel. À criança, ao jovem e ao adulto, pede-se efetividade. Devem dominar os nervos, a pressão da família. É uma combinação de tudo, porque às vezes há apenas uma oportunidade.