Tão logo encerrou a partida contra o Athletico-PR, na Arena da Baixada, na última quinta-feira (4), Abel Braga confirmou os substitutos de Moisés e Rodrigo Lindoso, que cumprirão suspensão automática diante do Sport, no Beira-Rio.
— O Uendel joga, não vou inventar. O (Rodrigo) Dourado volta e, depois, o resto da equipe a gente define durante os treinamentos da semana — garantiu o treinador.
De fato, não há motivos para mistério. O primeiro se explica pelo fato de ser o reserva imediato da lateral esquerda. O segundo é nada mais, nada menos que o capitão do Inter nesta reta final de Brasileirão.
Uma situação bem diferente à do confronto com os pernambucanos pelo primeiro turno. No dia 14 de outubro, depois de iniciar no banco de reservas, o volante voltou a participar de uma partida oficial depois de 462 dias de afastamento.
— Só eu e as pessoas próximas de mim sabem o que passei e sofri. Passa muita coisa na cabeça, até pensei que não conseguiria voltar a jogar bola. Agradecer a todo mundo que me ajudou a retomar minha carreira de alguma forma a estar aqui dentro de campo — disse ele na saída de campo, na Ilha do Retiro, após a vitória por 5 a 3.
A emoção não era à toa. Calado, sem conceder entrevistas, o pelotense de 26 anos saiu dos holofotes para encarar o adversário mais difícil de sua carreira: o próprio corpo. Depois de sofrer uma entorse no joelho esquerdo, na partida contra o Palestino-CHI, pela fase preliminar da Libertadores de 2019, Dourado deu início a um tratamento conservador.
No sacrifício, disputou mais algumas partidas, como o Gre-Nal da final do Gauchão e contra o River Plate, no torneio continental. Vencido pelas dores, foi submetido a uma artroscopia em maio. Retornou dois meses depois, diante do Palmeiras pela Copa do Brasil, mas tombou outra vez. Em outubro, realizou novo procedimento cirúrgico para curar de vez o edema ósseo. Porém, os meses foram passando e o volante nunca mais pôde ser utilizado.
Desesperado para jogar novamente, Dourado resolveu partir atrás de uma solução incomum. No início de 2020, aceitou a sugestão para realizar um tratamento com células-tronco, que já havia sido feito por Cristiano Ronaldo e Rafael Nadal.
Com o aval do departamento médico colorado, foram aplicadas células da medula óssea do próprio jogador na região lesionada, com o objetivo de acelerar a cicatrização do edema ósseo que lhe causava as dores. A técnica gerou resultado e, em julho, o volante passou a integrar os treinos com bola com o restante do elenco.
Embora tenha ressurgido pelas mãos de Coudet, o camisa 13 não foi imediatamente fixado na equipe. Pelo contrário, disputou apenas mais duas partidas, ingressando no segundo tempo contra Vasco e Flamengo. O renascimento de Dourado se dá, de fato, a partir da troca no comando técnico.
Logo em seu segundo jogo à frente do Inter, diante do Santos, na Vila Belmiro, Abel Braga devolveu o prata da casa à titularidade. Desde então, das 18 partidas com a nova comissão, Dourado atuou em 15, e passou a usar a braçadeira de capitão como nos velhos tempos.
— O Rodrigo se comprometeu e se aplicou muito. Havia preocupação e ansiedade para que retornasse aos treinos, porém ele teve paciência, passou por todas etapas necessárias para que não regredisse e sentisse dores novamente. Estamos muito felizes com a sua recuperação, por estar atuando em alto nível e com regularidade. Seu desempenho está cada vez melhor. Muito mérito do atleta, sua dedicação e seu comprometimento. Hoje está recebendo tudo que plantou — relata o preparador físico Cristiano Nunes, que viu todos os passos do processo de recuperação.
Já foram dois gols marcados (contra Bahia e Fortaleza) e, de acordo com dados do site SofaScore, Dourado se destaca em dois quesitos neste Brasileirão. Apresenta a segunda maior média de interceptações do elenco (1,8 por jogo), aparecendo atrás somente do zagueiro Bruno Fuchs (1,9), que disputou apenas as duas primeiras rodadas, antes de ser vendido à Rússia. Além disso, tem o segundo maior índice de acerto de passes (88%), superado apenas pelo argentino Musto e pelo zagueiro Pedro Henrique (89%), que atuou por menos de 70 minutos na derrota para o Goiás, no Estádio da Serrinha.
Além da qualidade, representa também um sentimento de torcedor que saiu da arquibancada e foi vestir a camisa em campo. Isso atestado por quem o conhece bem.
— Trabalhei com o Rodrigo desde a base. Sei da qualidade, da liderança e do coloradismo dele. Quando o Inter foi rebaixado, ele poderia ter ido embora, mas quis permanecer, porque queria trazer o Inter de volta. Ele só parou de jogar porque não estava aguentando mesmo. Isso para um atleta é a pior coisa que tem. Quem sabe, se tudo der certo, é ele quem vai levantar a taça do tetracampeonato. Então, é um cara que merece tudo isso que está vivendo realmente — comenta o ex-vice-presidente de futebol Roberto Melo.
Mas, antes de pensar em erguer o troféu, Dourado terá de guiar o Inter em mais um embate nesta quarta-feira, contra aquele mesmo Sport que lhe viu ressurgir das cinzas em outubro do ano passado.
Números de Rodrigo Dourado na atual temporada
- 18 jogos (15 com Abel Braga)
- 2 gols (contra Bahia e Fortaleza)
- 1097 minutos em campo (1043 minutos com Abel Braga)
- 2ª maior média de interceptações: 1,8 por jogo
- 2º maior índice de passes certos: 88%