A boa fase do Inter nas últimas 10 rodadas do Brasileirão (com oito vitórias e dois empates) casa também com a consolidação de dois jogadores no time titular. Desde a chegada do técnico Abel Braga, Rodinei e Moisés se firmaram na equipe considerada ideal pelo treinador e vêm sendo pilares das boas atuações no campeonato. Com Eduardo Coudet, os laterais apresentaram momentos de bastante oscilação, principalmente no quesito ofensivo, o que os levou para um período na reserva de Heitor e Uendel. Porém, com o atual treinador, ambos retomaram a confiança para essa sequência que aproxima o Colorado do tetra do Campeonato Brasileiro.
Essa melhora pode ter explicação em uma questão tática implementada por Abel, diferentemente do que vinha sendo feito pelo comandante argentino, que trocou Porto Alegre por Vigo, na Espanha, no início de novembro passado.
— Se estão jogando é porque me satisfazem plenamente. O Rodinei dá a garantia de não ser driblado. O Moisés, no mano a mano, tem uma colaboração muito boa. Ele também faz um falso terceiro zagueiro. Nos ajuda muito individualmente e também na parte tática — elogiou o treinador recentemente.
No esquema de Coudet, os laterais eram mais exigidos, tanto na parte ofensiva quanto na defensiva. Para ter muitos jogadores perto do gol pela faixa central, os laterais eram responsáveis pela amplitude do time no gramado. Eles marcavam como laterais em linha de quatro, mas atacavam como os antigos ponteiros. Agora, Patrick e Caio Vidal fazem as funções pelas extremas, o que desgasta menos os laterais — o que ajuda a explicar a força com que Moisés e Rodinei costumam encarar seus adversários.
Outra explicação pela preferência de Abel pelos dois está na estrutura física de Rodinei e Moisés. Ambos são mais altos e mais fortes do que os concorrentes, o que auxilia também na bola aérea — jogada com a qual o Inter tem feito boa parte de seus gols e parou de vazar tanto defensivamente. Rodinei tem 1,75m, um centímetro a mais que Heitor. Moisés tem dois centímetros a mais que Uendel (1,81m contra 1,79m).
— O Inter se tornou um time muito competitivo com o Abel, pode até jogar mal, mas compete até o final. Os dois laterais são assim também, jogando com uma transição da defesa para o ataque muito física — aponta Leonardo Miranda, analista tático do ge.globo.
A importância dos dois, a partir da chegada do novo treinador, pode ser vista e destacada também fora das quatro linhas. Mesmo que tenham chegado no começo de 2020 ao Beira-Rio, Moisés e Rodinei alcançaram um espaço importante no grupo colorado. Ainda que existam lideranças fortes no vestiário, como Marcelo Lomba, Edenilson e Danilo Fernandes, os dois laterais sempre se mostraram muito falantes, seja durante as partidas, mas também nas imagens de bastidores divulgadas pelo o Inter. Rodinei, inclusive, é visto sempre brincando e orientando os jovens da equipe, como quando brincou com Praxedes, após a vitória contra o Goiás, quando deu assistência para o garoto.
Rodinei, o vigoroso
Emprestado pelo Flamengo até maio de 2021, o lateral-direito chegou ao Inter há pouco mais de um ano, tendo estreado no dia 26 de janeiro, quando o Colorado ganhou do Pelotas por 3 a 1 no Gauchão. Mesmo sendo o titular escolhido por Coudet para as primeiras partidas da temporada passada, Rodinei teve um começo de jornada no clube recheado de altos e baixos, o que fez o o ex-técnico colorado pedir a contratação de Renzo Saravia, que veio por empréstimo do Porto. Com a chegada do argentino, o camisa 22 colorado acabou sendo posto no banco de reservas, jogando apenas quando a equipe alternativa era escalada.
No entanto, em setembro, Saravia acabou sofrendo uma lesão no ligamento cruzado do joelho direito, o que fez com que Coudet tivesse que escolher entre Rodinei e Heitor pela vaga na lateral-direita, com o primeiro levando vantagem. Mesmo que já fosse titular da equipe, foi com Abel que ganhou ainda mais confiança e se tornou dono da lateral-direita colorada. Brilhou na vitória por 1 a 0 sobre o Boca Juniors em plena Bombonera (que não evitou a eliminação da Libertadores nos pênaltis por 5 a 4). Rodinei anulou Villa, que tinha atormentado Heitor na derrota por 1 a 0 no Beira-Rio. A partir daí, o camisa 22 apenas subiu no conceito do treinador colorado.
— Eu credencio esse crescimento ao Abel. Ele é muito importante, sabe lidar muito com o grupo. O Rodinei, visivelmente, é um jogador que desperta a motivação do grupo e o Abel sabe tirar isso dos atletas. O Rodinei é um cara que se entrega muito na partida, não desiste, tem uma boa saída com a bola, é um jogador muito voluntarioso — afirma Nei, lateral-direito campeão da Libertadores de 2010 com o Inter.
Apesar de ter apenas um gol e uma assistência na temporada, o lateral também se destaca ofensivamente, sendo o terceiro jogador do Inter que mais acertou dribles no Brasileirão, com um aproveitamento de 90% — em 10 tentados, acertou nove. No entanto, Rodinei ainda não tem permanência assegurada para a temporada de 2021, mesmo que seu contrato de empréstimo se encerre daqui quatro meses, o Colorado ainda não iniciou as tratativas de renovação do vínculo do atleta e irá esperar o fim do Brasileirão para avaliar os jogadores que irão permanecer para o restante do trabalho.
O Flamengo, dono do passe do jogador, conforme informado pelo ge.globo, não quer mais contar com o jogador. O clube carioca entende que o lateral de 28 anos se valorizou atuando pelo Inter, mas caso o time gaúcho queira adquirir o Rodinei terá que desembolsar cerca de 4 milhões de euros (R$ 26 milhões).
Moisés, o assistente
Assim como Rodinei, o lateral-esquerdo também está emprestado no Inter, mas seu contrato com a equipe gaúcha vai até o fim de 2021, quando o Colorado terá que definir se irá comprar o passe do jogador do Bahia, atual dono dos direitos do atleta. O camisa 16 chegou à Porto Alegre no começo de janeiro de 2020, praticamente com as mesmas características de seu companheiro na direita.
Por ser um jogador bastante físico, Moisés era constantemente elogiado por Eduardo Coudet e encaixava-se no modelo de jogo do argentino. Ele nunca chegou a perder a vaga na equipe titular, mas acabou perdendo algumas partidas da Libertadores, depois de ser expulso no Gre-Nal da competição sul-americana, o que lhe rendeu uma punição de quatro jogos de suspensão.
E foi, casualmente, também na competição sul-americana que o lateral iniciou a sua volta ao ápice de confiança, agora já treinado por Abel Braga. Na partida de volta das oitavas de final, contra o Boca Juniors, na Bombonera, ele ajudou o Inter a vencer no tempo normal por 1 a 0, participando da jogada do gol colorado. Foi dele o cruzamento que tinha foco para Marcos Guilherme, mas que acabou cortado por Fabra para o fundo das redes, para a vitória.
— O Moisés veio para ser titular, a cobrança aqui é muito grande, o torcedor quer ver algo diferente e quando não vê acaba cobrando. Hoje, tu já vê ele sendo efetivo atrás, fazendo uma transição, isso tudo tem a ver com adaptação ao clube, ao trabalho e confiança do treinador. Assim, ele consegue dar assistências e fazer gols. Antes, a gente via ele com uma dificuldade no terço final do gramado, o cruzamento não chegava com qualidade. Ele sempre teve uma boa marcação, hoje consegue cumprir essas fases do jogo de maneira equilibrada — observa Daniel Franco, ex-lateral do Inter de 1989 a a 1993.
Essa constância entre as duas fases do jogo, defensiva e ofensiva, citadas por Daniel, podem ser observadas também nos números do jogador no Brasileirão. Moisés é o segundo jogador do Inter com mais desarmes na competição (40), ficando atrás apenas de Patrick. Além disso, é o atleta do Colorado que mais acertou cruzamentos no campeonato (24) e o terceiro que mais deu assistências, com quatro.
Os passes para gol, inclusive, são os que mais têm chamado a atenção nas últimas semanas. Nas últimas três partidas, ele participou de dois gols, contra o Fortaleza, quando cruzou para Rodrigo Dourado marcar, e contra o São Paulo, quando Cuesta marcou. Como seu contrato só termina no final deste ano, a direção colorada ainda mantém cautela quanto a renovação de vínculo do atleta.