O futuro de Abel Braga ainda está indefinido. Sabedor do acerto da futura gestão do Inter com o espanhol Miguel Ángel Ramírez, o treinador deixou claro que não aceitará ficar até fevereiro, exigindo uma temporada inteira à frente da equipe.
Na mesma entrevista em que revelou suas vontades, o atual comandante colorado citou uma mágoa sobre sua última passagem pelo Beira-Rio.
— Minha ideia é ficar até dezembro do ano que vem, ficar no clube um ano, coisa que me tiraram em 2015, quando terminei o Brasileiro em terceiro lugar. É a única coisa que me dói em relação ao Inter. Mas o presidente é soberano, ele vai resolver. Tanto pelo meu lado, como no lado da presidência, vai ser escolhido o que é melhor para o Inter — declarou ele após a vitória sobre o Bahia, neste domingo (27).
GZH recorda a sequência de fatos destacada por Abel que o deixou magoado com os dirigentes naquela época.
Vaga direta
O Inter encerrou o Brasileirão de 2014 em terceiro lugar, com vaga direta para a Libertadores do ano seguinte.
No dia 6 de dezembro de 2014, o Colorado venceu o Figueirense por 2 a 1, em Florianópolis, pela última rodada. A equipe saiu atrás do placar, com gol marcado por Pablo, hoje no São Paulo, no início do segundo tempo. Quando parecia que seria derrotado — o que o faria acabar em quarto lugar e, portanto, tendo de disputar as fases preliminares da Libertadores —, o cenário mudou. Aos 42 minutos, Rafael Moura empatou e, nos acréscimos, o lateral Wellington Silva decretou a virada.
O resultado fez com que o Inter ultrapassasse o Corinthians, alcançando classificação direta para a fase de grupos da Libertadores.
— Aqui, formamos uma família. Tem respeito, tem amizade, tem doação. Poderíamos fazer melhor, mas foram tantos problemas. Tem de dar parabéns aos jogadores, foram dignos demais, a camiseta do Inter se sente muito mais cheia pela dignidade com que os jogadores a representaram — destacou o próprio treinador após a partida, disputada no Estádio Orlando Scarpelli.
Oposição vence a eleição
Uma semana depois do encerramento do Brasileirão, os colorados foram às urnas para escolher o presidente que comandaria o clube entre 2015 e 2016. Marcelo Medeiros, que era até então o vice-presidente de futebol de Giovanni Luigi, concorria como candidato da situação. Com ele, a permanência de Abel era certa.
Do outro lado do páreo, porém, surgia o ex-presidente Vitorio Piffero, que, sob os gritos de "o campeão voltou", levou 71,75% dos votos dos associados e acabou eleito.
— Assim que eu tiver o meu departamento de futebol, e não será hoje, anunciaremos o nome do novo técnico. Vamos fazer um time forte para conquistar os títulos — anunciou o candidato vencedor.
O não de Tite
Apesar de ter convivido com Abel nas conquistas de 2006, Piffero elegeu Tite como seu técnico da preferência para 2015. Naquela época, o agora técnico da Seleção Brasileira estava livre no mercado e também tinha em mãos uma proposta do Corinthians, que acabaria sendo seu destino final.
Na biografia escrita pela jornalista Camila Mattoso, o episódio é relatado, citando que pesou na decisão do treinador o fato de poder retornar ao clube onde conquistou o Mundial de Clubes de 2012 e também a relação conturbada com D'Alessandro, com quem brigou em sua passagem pelo Beira-Rio, em 2009: "Tite teve a proposta de trabalhar com o meia de novo em 2015, convidado por Vitorio Piffero a assumir o Internacional mais uma vez. Afirma que não teria problema em dirigi-lo de novo, mas que certamente não haveria 'o mesmo nível de confiança'", escreveu a jornalista.
Diego Aguirre, a quinta opção
Ao receber o "não" de Tite, Piffero se voltou para Abel, em uma tentativa de renovação de contrato. O treinador campeão do mundo, no entanto, não aceitou mais conversar. Estava incomodado por ter sido deixado em segundo plano.
Com menos alternativas no mercado, o presidente recém-eleito foi sendo descartado por cada um dos profissionais que procurava — Mano Menezes e Vanderlei Luxemburgo, entre eles.
A saída foi ir ao Uruguai para fechar a contratação do ex-atacante Diego Aguirre. Assim, em 2015, o Colorado abriu a temporada sem o treinador de sua preferência e também sem conseguir segurar Abel Braga.
— O Inter é um clube gigante, com muitas opções. Ser lembrado é uma honra — declarou o uruguaio, em sua apresentação.