Quando todos imaginavam que Abel Braga anunciaria o fim de sua sétima passagem pelo Inter, o treinador surpreendeu. Após a vitória de 2 a 1 sobre o Bahia, neste domingo (27), que garantiu o Colorado no G-4 do Brasileirão no último compromisso do ano, o treinador concedeu entrevista e manteve o mistério sobre sua continuidade à frente da equipe.
A viagem do futuro presidente Alessandro Barcellos, acompanhando a delegação em Salvador, contribuiu para que o técnico repensasse sua condição no clube. Depois de uma conversa na noite de sábado, Abel prometeu que ambos voltariam a se encontrar em Porto Alegre, quando será definido.
— Ontem (sábado), conversei com o presidente por meia hora, expus meu ponto de vista, ele expôs o dele. Eu sei o que ele pensa, o que ele acha. Está muito tranquilo e claro. Faltou definir e pedi para definirmos nesta semana — declarou o comandante, único a se manifestar após a partida.
Além do status de ser o único técnico que conduziu o Inter ao título mundial, em 2006, Abel também ganhou força pelos resultados de campo. Depois de um início trôpego, com as eliminações na Copa do Brasil e Libertadores, o time engatou uma campanha de recuperação e, graças aos três pontos conquistados na Arena Fonte Nova, o Colorado fecha 2020 entre os quatro primeiros da tabela.
— Sempre brinquei que fiz o primeiro gol do ano e ia fazer o último também. Mas vou dedicar esse gol ao presidente, porque é o último jogo dele, por tudo que ele fez durante a gestão, por ter me trazido e dado a oportunidade. Estou feliz por continuar na cola do São Paulo, estar no G-4. Quando conseguimos três vitórias consecutivas, sabemos que seguiremos na parte de cima, brigando — disse o goleador Thiago Galhardo, que marcou de pênalti, depois de Rodrigo Dourado ter aberto o placar, e interrompeu uma série de 10 jogos sem balançar as redes.
Aliás, a troca de gestão evidenciada pelo atacante colorado trará mudanças não só na presidência, como no departamento de futebol. E é exatamente isso que incomoda o atual comandante colorado.
Apalavrada com Miguel Ángel Ramírez desde as eleições, a próxima diretoria do Inter ofereceu ao espanhol um planejamento de que os primeiros dias de 2021 serviriam para que ele se ambientasse à cidade e ao clube. Assim, até fevereiro, Abel seguiria comandando o time na reta final do campeonato nacional. Esta perspectiva, no entanto, foi totalmente riscada pelo atual treinador.
— Ele (Ramírez) não é auxiliar técnico e nem eu. Ele trabalha de um lado e eu do outro. Isso não tem hipótese. O que vai ficar resolvido é se eu saio ou continuo. Não está definido — resumiu — Minha ideia é ficar até dezembro do ano que vem, ficar no clube um ano, coisa que me tiraram em 2015, quando terminei o Brasileiro em terceiro lugar. É a única coisa que me dói em relação ao Inter. Mas o presidente é soberano, ele vai resolver. Tanto pelo meu lado, como no lado da presidência, vai ser escolhido o que é melhor para o Inter — concluiu.
A ideia é ter a situação encaminhada até o dia 7 de janeiro, quando o Inter enfrentará o Ceará, no Castelão. Caso Abel não permaneça, o auxiliar Osmar Loss poderia herdar a função.
Além disso, outras definições também precisam ser oficializadas. Uma delas diz respeito ao anúncio de Paulo Bracks, atual diretor-executivo do América-MG, como substituto de Rodrigo Caetano. No cargo político do departamento de futebol, o ungido será João Patrício Hermann, que até o dia 31 de dezembro ocupa o cargo de vice-presidente da gestão de Marcelo Medeiros. O presidente colorado se despedirá do cargo nesta segunda-feira, às 16h, em entrevista coletiva.
Enfim, o Colorado começa a se moldar conforme Barcellos e seus pares projetaram. Resta saber se Abel aceitará se encaixar no que foi desenhado. Enquanto isso, direto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, Ramírez aguarda as novas coordenadas — que podem incluir até mesmo uma antecipação naquilo que foi planejado.