A saída de Coudet do Inter, substituído por Abel Braga, nessa segunda-feira (9), não foi um dos casos de demissão em reta final de campeonato. Porém, o Colorado já se viu outras vezes na situação de precisar encontrar um treinador para apenas finalizar a temporada buscando o objetivo mais próximo, mas com o entendimento mútuo de que o profissional não seguiria no cargo na temporada seguinte.
As duas experiências mais recentes tiveram resultados opostos. Em 2016, Lisca não conseguiu evitar o rebaixamento da equipe que já tinha sido comandada por Argel, Falcão e Celso Roth. Enquanto em 2019, Zé Ricardo chegou para fazer o interino Ricardo Colbachini voltar a ser auxiliar, depois dos dois anos de Odair Hellmann treinando o time principal, e consegue a classificação à Libertadores.
Os chamados técnicos "tampão" são figuras que evidenciam a cultura brasileira de não bancar projetos longevos de treinadores. Uma pesquisa inédita comandada pelo especialista em gestão esportiva Matheus Galdino, registra 594 trocas de técnicos na primeira divisão do Brasileirão entre 2003 e 2018 (média de 37 por ano, a mais alta do mundo). O estudo ainda aponta que esta rotatividade não tem efeito positivo no desempenho das equipes.
A última esperança
Lisca foi confirmado no Inter depois de empatar em 1 a 1 com a Ponte Preta, na 35ª rodada do Brasileirão de 2016. A missão era difícil, mas o técnico conhecia o caminho. No ano anterior, ele havia garantido o Ceará na Série B com quatro empates nos últimos cinco jogos. A probabilidade de queda dos cearenses era de 98%, e ele conseguiu ficar nos 2% de esperança.
Porém, no Inter, a história foi diferente. Os resultados dos antecessores não foram compensados a tempo, e o Colorado amargou o primeiro rebaixamento da história, sob o comando do treinador que tinha feito história nas categorias de base do clube. Comandou a equipe em três partidas, duas fora de casa: perdeu para o Corinthians na estreia, venceu a única contra o Cruzeiro e empatou a última com o Fluminense.
Transição projetada
O último trimestre de 2019 foi de mudanças que pareciam profundas no Inter. Após perder a Copa do Brasil para o Athletico-PR no Beira-Rio, a direção definiu que o time jogaria de outra forma no ano seguinte. Roberto Melo, então vice de futebol, foi com Alessandro Barcellos, diretor do departamento, até Buenos Aires, na tentativa de trazer Eduardo Coudet, então treinador do Racing, campeão argentino. Coudet aceitou a proposta, mas não deixaria a equipe antes do final da temporada.
Em Porto Alegre, o técnico do time B, Ricardo Colbachini comandava o elenco principal interinamente. Entre uma e outra especulação sobre a eminente vinda do argentino, surge o nome de um carioca. Zé Ricardo havia treinado o Botafogo e o Fortaleza, mas estava livre no mercado. Roger Machado, do Bahia, e Tiago Nunes, do campeão Athletico, não quiseram conversar com o Colorado.
A derrota por 1 a 0 para o Vasco, na 27ª rodada, foi a última de Colbachini no comando técnico do time principal. A partir do próximo jogo, ele virava auxiliar de Zé Ricardo, que vinha de quatro derrotas, dois empates e uma vitória no o Fortaleza. A estreia dele no Inter foi contra o Bahia, com vitória por 3 a 2, em Salvador.
As 10 rodadas finais da competição correram com três vitórias, três empates e quatro derrotas. Os 12 pontos foram suficientes para deixar o Inter na sétima colocação, classificando-se à fase eliminatória da Libertadores de 2020, com 57 pontos, graças às colocações de Athletico-PR e Flamengo, abrindo vagas na competição continental.