Diego e Diogo, 35 anos, os gêmeos que encantaram o torcedor do Inter no começo dos anos 2000, enfrentam o distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus com criatividade. Os irmãos moram com as famílias em um condomínio na zona sul de Porto Alegre — cada um em um apartamento — e mantêm treinos com a ajuda da tecnologia. A parada forçada na temporada fez com que eles buscassem maneiras de ficar em forma por conta própria.
— Cheguei ao Grêmio Bagé e comecei a treinar. Duas semanas depois, quando começava a me sentir bem, parou tudo — conta Diego, que espera a retomada da Divisão de Acesso do Gauchão.
Ele e o irmão Diogo, jogador do Esportivo, de Bento Gonçalves, na primeira divisão estadual, fazem corridas em um campo perto de casa para manter a preparação física. Cumprem 40 minutos de atividade diária usando máscaras e com todos os cuidados necessários. Um dos maiores obstáculos, no entanto, está em casa.
— Já não temos aquele mesmo porte físico de cinco ou seis anos atrás. O cuidado tem de ser maior, a recuperação é mais demorada. E a alimentação tem de ser controlada. Difícil é que a esposa está sempre cozinhando, a cunhada (esposa de Diogo) manda bolo, a filha faz pizza, daí já viu. Tem que se regrar, mas comer pelo menos um pedacinho, porque senão elas reclamam — brinca Diego.
Desde a segunda-feira (11), Diogo e os demais jogadores do Esportivo voltaram ao trabalho. Cada um em sua casa, conectam-se através de uma plataforma de chamada de vídeo em grupo e seguem os treinamentos passados pelo preparador físico do clube, Gustavo Correa. Segunda, quarta e sexta são dois turnos de treinos cada dia, e mais um na terça e outro na quinta.
— Está sendo muito bom, o treinador tem "tirado coelho da cartola" para variar as atividades — elogia Diogo, confessando que tem se sentido mais cansado do que nas semanas anteriores.
— Jogador está acostumado a uma certa rotina, e com a quarentena fugimos totalmente dela. Se não te regrar direitinho, acaba acordando mais tarde, comendo demais. Agora, com um treinamento às 10h da manhã e outro de tarde, a gente chega de noite até com mais sono e descansa melhor — explica.
As famílias dos dois mantêm contato constante pelo telefone nas semanas de distanciamento. Os dois irmãos, mais ainda. Ambos se motivam e chegam a competir para ver quem faz a pontuação mais alta em um aplicativo de exercícios no celular. A brincadeira revela uma característica dos gêmeos desde quando dividiam vestiário no Inter.
— Somos iguais, mas quando um está melhor, já puxa o outro pra buscar, até fisicamente. Sempre foi assim, está no sangue e na carreira — comenta Diogo.
Diego relembra o time de 2003 do Colorado como "muito forte ofensivamente" e diz ter sido o melhor grupo em que trabalhou. Ao lado do irmão Diogo e de outras revelações como Nilmar, Daniel Carvalho e Cleiton Xavier, encontrou no técnico Muricy Ramalho o comandante certo para mediar os experientes com moral e os que chegavam da base.
Perguntado sobre o eventual retorno do Gauchão, planejado pelos clubes e Federação Gaúcha de Futebol para a segunda semana de julho, Diogo acredita que o esporte em geral se reinventará. A consciência sobre os novos costumes, como usar máscara e lavar as mãos frequentemente, trarão também um novo jeito de os jogadores se relacionarem:
— Vamos ter de nos reeducarmos e tentarmos seguir o máximo possível o que for determinado. Principalmente se tratando de futebol, que é muito abraço, toque na mão de adversários ou brincadeira com os colegas, sempre tem muito contato.