O técnico Eduardo Coudet concedeu entrevista exclusiva para GaúchaZH nesta terça-feira, onde avaliou os primeiros 55 dias de trabalho no Inter desde a apresentação do elenco em 8 de janeiro. O treinador ressaltou que o período ainda não permite que ele coloque todas as suas ideias em prática e que tem procurado adaptar sua proposta de jogo às características dos jogadores. O argentino falou sobre suas ideias e explicou algumas decisões, como a de escalar Musto e Lindoso juntos. Coudet revelou que sua ideia inicial era ter Nonato como meia central, mas que o garoto ainda precisa de tempo para recuperar o bom futebol.
— Eu pedi a contratação do Musto para disputar lugar com Lindoso e não para jogarem juntos. Mas o momento dos jogadores é que define o sistema. Minha ideia era ter Musto ou Lindoso com o Nonato na frente. Mas tenho de tratar de encontrar o melhor Nonato. Hoje, o Nonato precisa levantar o seu nível. Na coletiva após o jogo contra o Tolima me perguntaram sobre colocar um jogador mais ofensivo e citaram Marcos Guilherme, o Thiago Galhardo e não citaram o Nonato. Se vocês não citam, quer dizer que o nível do Nonato não está para jogar agora — disse Coudet.
O treinador do Inter seguiu falando sobre os jogadores que têm atuado no meio-campo. Ele fez muitos elogios a Edenilson e disse que Marcos Guilherme e Boschilia surpreenderam pela rápida adaptação ao seu modelo de jogo.
— Edenilson, para mim, é muito bom, muito inteligente. Os jogadores de meio devem ser dinâmicos e mais de características ofensivas. Eu gosto de jogar com um volante central, três meias e dois centroavantes. Esse é o meu ideal, depois me adapto aos jogadores que tenho. O Marcos Guilherme pode jogar como o meia da direita. Ele nunca havia jogado ali, tampouco o Boschilia e os dois estão indo bem. Eles tiveram de aprender a fechar o espaço, a como se mover na hora do lance ofensivo. É um processo que envolve aos atacantes, o que vão fazer para receber o passe. Assim, quando receber a bola, eles (meias), vão saber os movimentos dos outros. É necessário ter um trabalho tático e físico. Boschilia não vai correr o mesmo que fazia no Mônaco aberto ou como meia interno. Converso muito com eles sobre a adaptação. Eles sempre jogavam muito perto da linha e agora não mais. Há um trabalho sendo feito — ressaltou.
Ainda sobre a maneira de montar seu time, Coudet ressaltou que gosta de jogar com dois centroavantes e não descartou escalar Gustagol ao lado de Paolo Guerrero. O treinador ainda explicou que acredita que movimentação dos homens de meio-campo podem ser suficientes para suprir a ausência de velocista no ataque.
— Você começa a ganhar velocidade a partir do momento que entende a movimentação, quando um jogador sabe o que vai fazer o companheiro. Depois isso se complementa com um meio-campo veloz. No Racing, Lisandro López, Cvitanich nem Cristaldo são jogadores velozes. Normalmente os centroavantes não são, o Gabigol é exceção. O que vai complementar não é tanto um velocista, mas com a bola se movendo rápido. Se você toca devagar, permite o adversário se compactar. Se você toca rápido, pega o adversário aberto. Pelo que vejo, os times brasileiros se dividem quando atacam e defendem e o campo fica grande. Os times se alargam. Eu gosto que o meu time jogue de forma compacta.
Mais trechos da entrevista:
Jovens, destaque para o Praxedes, comparado a Lo Celso
Eu gosto de trabalhar com jovens. O Johnny é categoria 2001, o Heitor é também. O Praxedes é 2002. O Praxedes é um jogador que pode fazer essa função. Ele é um jogador que me encanta. Perguntei se ele se assustava de jogar a Libertadores e me disse que não. Isso me deixou feliz. Ele tem muita personalidade, o que me agrada muito. Ele é muito parecido ao Lo Celso.
Ele tem boas características e não joga como um garoto de 18 anos. Necessitamos ainda fazer uma adaptação. O Lo Celso passou por isso, ganhou cinco quilos de massa. O Praxedes vai passar pela adaptação. Ele tem de pensar que tudo vai acontecer mais rápido, pois há uma diferença grande de ritmo do sub-20 para o profissional. Algumas vezes ele perde a bola, mas tem muita qualidade e tem o último passe. Conversei com um amigo sobre ele e disse que tinha características parecidas com as do Lo Celso. É difícil encontrar um jovem que tenha esse último passe para gol. E ele tem esse passe para o centroavante. Tenho tratado de que ele também aprenda a jogar pelos lados, o que vem fazendo nos treinamentos. Esse é um processo. Não quero que a necessidade vire um processo. Eu digo que a bola não pede documento. Se tem 17 ou 18, pode jogar. De brincadeira digo, se pode ter filho, pode jogar na primeira divisão
Fica difícil marcar a saída de bola com D'Ale e Guerrero na frente?
Aí está porque jogaram Musto e Lindoso. Foi uma compensação. Por isso digo que tem que tratar de se adaptar ao que tenho neste momento. Seguramente, a equipe irá mudando. É um trabalho constante em que jogadores de maior aptidão ofensiva possam se adaptar. Esse é o caso do Marcos Guilherme e também do Boschilia. Eles vão nos agregar muito. Aí elogio o trabalho da direção porque eu não conheço todos os jogadores do Brasil e a possibilidade de contratá-los. Me apresentaram o Boschilia e disse seria um bom reforço. O Boschilia está se adaptando e cada dia vai se sentir melhor. O Marcos Guilherme vem de um futebol diferente. Não posso entrar no desespero de querer mostrar a equipe em campo do meu jeito. Tenho de saber levar isso sem querer acelerar processos apenas para mostrar minha ideia. A ideia irei mostrando a medida que o time for crescendo.