O primeiro reforço para o elenco de Eduardo Coudet saiu da arquibancada para o campo. Peglow é a nova esperança da base colorada. Nascido como João Gabriel Martins Peglow, sobrenome de origem portuguesa e alemã, e com DNA colorado, o camisa 10 da seleção sub-17 campeã do mundo, que atua como meia e como atacante pelos lados, joga no Inter desde os nove anos de idade.
Imagine você ter a chance de jogar no time principal do clube do coração? O sonho de Peglow será realizado a partir dos primeiros dias de janeiro, quando será um dos reforços do técnico argentino. Depois de passar sufoco com contratações irrelevantes em 2019, a direção do Inter entendeu que é hora de voltar a apostar na base — afinal, é o pilar do clube, e não é à toa que faz parte até mesmo do hino do Inter. Assim, reforços pontuais virão, talvez até com novos estrangeiros desembarcando no Beira-Rio, mas, sobretudo, com o vestiário abrindo as portas para o CT de Alvorada.
Fã de Cristiano Ronaldo, Peglow é a nova joia da coroa colorada. O guri, que aos quatro anos de idade acompanhou o pai em jogos do Inter até fora de casa na campanha da Libertadores de 2006, agora, poderá ter o seu nome gritado pela torcida.
— O João Gabriel vai aos jogos do Inter desde que estava na barriga — diz a mãe da promessa do Inter, Léa, dona de três tatuagens, sendo uma delas o autógrafo de D'Alessandro.
— O nosso maior sonho agora é vê-lo no time principal. Mas é preciso ter calma, ir passo a passo, porque as coisas vão acontecendo — completa.
— Somos muito colorados. Levávamos o João ao Beira-Rio desde bebê. Sempre fomos sócios do Inter, nossas férias eram nas piscinas do Parque Gigante, fazíamos churrascos por lá, e o João Gabriel cresceu nesse ambiente. Do jeito que ele é colorado, teria muita dificuldade de jogar no Grêmio — conta Jorge Peglow, o pai-coruja.
Jorge, que também gosta de ser chamado de "Jorge das Facas", uma vez que abraçou o ofício da cutelaria e produz facas de aço-carbono, depois de trabalhar quase 30 anos como garçom na tradicional churrascaria Santo Antônio, em Porto Alegre, ainda tenta se acostumar à vida de pai de celebridade esportiva. Devido ao talento do filho, viu a família ascender socialmente.
Morador da zona norte, os Peglow agora residem em luxuoso condomínio no bairro Sarandi, em imóvel bancado pelo empresário do guri, Márcio Rivelino. A fama do camisa 10 da sub-17 também rendeu momentos surpreendentes à família. Jorge assistia no Bezerrão à final do Mundial, entre Brasil e México quando, no intervalo do jogo, foi ao banheiro. Percebeu que alguém o seguia. Ao se preparar para ficar frente e frente com o mictório, foi abordado por um desconhecido.
— Era um empresário de futebol. Disse que me daria R$ 1 milhão na mão para que eu repassasse a ele a procuração do João Gabriel. Agradeci, e disse que ele já tem um representante muito bom. Essas coisas ainda me surpreendem, não estou acostumado a isso — recorda.
O Inter sabe o que tem em mãos. Em 7 de janeiro de 2018, quando João Gabriel Peglow comemorou seu 16° aniversário, ganhou de presente o seu primeiro contrato profissional. O vínculo do meia-atacante destro, mas de chute potente de canhota, vai até o final de 2021. E, o principal, no momento: com multa rescisória de 60 milhões de euros (R$ 277,2 milhões).
O departamento de futebol colorado está ciente que Peglow está na mira dos grandes clubes europeus, e não é de hoje. Na verdade, a produção de jogadores da base já está voltada para as convocações da CBF. A movimentação de Peglow e a sua forma de atuar são comparadas por muitos no CT de Alvorada às de Philippe Coutinho. Na atual temporada, foi promovido da equipe sub-17 para a sub-20.
— Peglow ainda tem coisas a evoluir, em termos físicos, táticos e técnicos. Não adianta ser destaque da seleção sub-17 e não conseguir evoluir. Como todo adolescente, temos de tomar cuidado com a exposição do Peglow. E o que dará a evolução para ele agora é o clube. Neste ano, ele ficou dividido entre a seleção e o time sub-20, subiu para ter novos desafios. Na equipe sub-17, ele já estava sem esses desafios. E o fato de ele estar jogando em uma categoria acima já fez com que se destacasse mais na seleção — afirma Fábio Matias, técnico do time sub-20 do Inter, que treina o camisa 10 desde março.
O treinador do Inter lembra ainda que Peglow se sente mais confortável em campo atuando como extrema (pelo lado do campo) — função que faltou em qualidade ao Inter de Odair Hellmann, de Ricardo Colbachini e de Zé Ricardo o ano todo.
— Peglow tem boa leitura de jogo. Pelo lado, é onde ele se sente melhor, é mais agressivo, corta e finaliza com a perna direita. A boa capacidade de conclusão é a grande caraterística dele. Historicamente, poucos campeões mundiais na sub-17 tiveram grande sucesso no futebol profissional. Tomara que Peglow e a geração dele provem o contrário — conclui Matias.
Antes de Peglow, o Inter teve três campeões mundiais: o meia Diogo Rincón e o atacante Fábio Pinto (ambos em 1997), além do zagueiro João Guilherme (2003). Rincón teve sucesso no futebol ucraniano, vendido pelo Inter em 2002 ao Dínamo Kiev. Depois, já na reta final da carreira, atuou pelo Corinthians. Fábio Pinto surgiu como uma das maiores promessas da base colorada. Jamais vingou. Rodou por Espanha e Turquia, antes de ser anunciado como reforço do Grêmio de 2004, o ano do segundo rebaixamento.
Já o zagueiro João Guilherme, campeão mundial sub-17 com o goleiro Marcelo Lomba, foi vendido em 2007 ao Marítimo, de Portugal, onde permaneceu por cinco anos. Depois, foi para o futebol do Chipre. Atuou ainda na Arábia Saudita, retornando ao Brasil para defender Bangu, Cruzeiro-RS, e, no ano passado, o Volta Redonda.
— O João Gabriel é muito maduro, muito pé no chão, preparado. Ele sabe que é preciso matar um leão por dia, sempre, não vai se iludir com o título. Para o torcedor do Inter, eu deixo um recado: podem ter certeza que, se ele for promovido ao time principal, jamais vão faltar dedicação e esforço. É um jogador diferenciado. E é um colorado — finaliza o Peglow pai.
QUEM É
Nome: João Gabriel Peglow
Naturalidade: Porto Alegre (RS)
Data de nascimento: 7/1/2002
Altura: 1m72cm
Contrato até: 31/12/2021
Multa rescisória: 60 milhões de euros (R$ 277,2 milhões)