Dentre as missões dadas a Zé Ricardo em seu mês e meio de Inter, a partir de agora, está a de recuperar os gols de Paolo Guerrero. O camisa 9 não marca há 48 dias, desde que fez dois na única goleada colorada em 2019: os 3 a 0 sobre o Cruzeiro na semifinal da Copa do Brasil.
Por conhecer bem Guerrero, que foi seu jogador entre 2016 e de 2017, quando ele comandou o Flamengo pós-Muricy e pré-Reinaldo Rueda, Zé Ricardo anunciou em sua apresentação que pretende recuperar o peruano.
— Paolo é um grande atleta. Tomara que faça o que já fez quanto tive junto dele, que ele foi muito bem na passagem que teve comigo pelo Flamengo. Foram os dois melhores anos dele como artilheiro. Passa por um momento difícil, mas, como artilheiro, rapidamente ele pode voltar a fazer gols — disse Zé Ricardo, em sua primeira coletiva no Inter.
Assim como o Inter de Odair Hellmann, o Flamengo de Zé Ricardo atuava no 4-2-3-1, tendo Guerrero no comando do ataque e, a dá-lo suporte, a base do meio-campo contava com Willian Arão e Márcio Araújo (atualmente na Chapecoense); Éverton (atualmente no São Paulo), Diego e Gabriel (atualmente no Kashiwa Reysol).
Na reserva de Guerrero, Leandro Damião. Sob o comando de Zé Ricardo, Paolo Guerrero marcou 29 gols em 66 jogos — média de 0,43 gol por jogo. Curiosamente, apesar da seca momentânea com o Inter, a média de gols de Guerrero pelo Flamengo é a mesma que o camisa 9 tem no Inter: 0,43 — tendo marcado 13 gols em 30 partidas.
— A parceria entre Zé Ricardo e Guerrero deu certo no Flamengo, sobretudo em 2017. Foi quando Guerrero assumiu protagonismo que não tinha conseguido desde 2015, e quando viveu sua melhor temporada no Brasil, marcando 20 gols em 44 jogos, mesmo atuando em uma equipe em formação e que demorou a ter plantel de qualidade, pois ele tinha como parceiro no ataque Gabriel ou Marlos Moreno — diz Diogo Dantas, setorista de Flamengo em O Globo, que completa:
— Jogando com o Zé Ricardo, Guerrero teve ótimos momentos. Ele desenvolveu uma equipe construtiva, mas não tão dominante, enquanto que Guerrero fazia esse papel importante, segurando a bola para quem chegava de trás. Acredito que essa parceria volte a se repetir. Se o Guerrero voltasse hoje para o Flamengo, certamente estaria jogando o seu melhor futebol, mas, naquela época, ele destoava do restante do elenco, e se sacrificava para o time.
Esquema tático, desgaste físico, contusões, convocações ou mesmo o isolamento no ataque. Seja qual for a justificativa, o fato é que Guerrero não foi diferencial em jogos fundamentais para o Inter em 2019, como nos Gre-Nais finais do Gauchão, no mata-mata da Libertadores diante do Flamengo, e nas finais da Copa do Brasil frente ao Athletico-PR.
Nesses seis jogos decisivos, ele passou em branco. É bem verdade que o ataque do Inter está em baixa. No returno do Campeonato Brasileiro, dos seis gols marcados pelo time em oito rodadas, apenas um foi de atacante: o segundo gol sobre o Avaí, feito por Sarrafiore. Os demais, todos pertencem a volantes: Patrick (dois gols), Lindoso, Edenilson e Nonato. Muito pouco para quem pretende voltar à Libertadores em 2020.
No primeiro treino de Zé Ricardo com o Inter, na manhã dessa quarta-feira, o treinador cumpriu o que prometeu: colocar o time no ataque. Sem poder contar com os suspensos Patrick e D'Alessandro, nem com Guerrero, que realizou apenas trabalhos físicos, uma vez que nos últimos 10 dias disputou quatro jogos (dois pelo Inter, dois pela seleção peruana) Zé Ricardo promoveu alterações táticas na equipe.
Saiu do tripé de volantes, sistema preferido por Odair Hellmann, e alternou entre o 4-2-3-1 e o tradicional 4-4-2. Outra mudança significativa foi a saída de Nico López do time titular. A ideia de Zé Ricardo é trabalhar com marcação adiantada e apostar na velocidade pelas extremas, ocupadas por Guilherme Parede e Wellington Silva, com Neilton na armação.
O novo jeito de atuar de Zé Ricardo apresentou uma equipe com constante troca de posições e agressiva. Porém, algumas fragilidades defensivas acabaram acontecendo, quem sabe ainda fruto da maneira como o Inter se acostumou a atuar sob o comando de Odair. E foi desta forma, que o time reserva aproveitou espaços para marcar três gols, dois de Sarrafiore, um de William Pottker. Neilton, em jogada de Parede, descontou para os titulares.
Zé Ricardo montou uma primeira ideia de time para enfrentar o Bahia no 4-2-3-1, sem Nico López, e com Marcelo Lomba; Heitor, Bruno Fuchs, Cuesta e Zeca; Rodrigo Lindoso, Edenilson Guilherme Parede e Neilton; Wellington Silva e Rafael Sobis. Paolo Guerrero, escalado para a primeira entrevista na Era Zé Ricardo, foi todo elogios ao novo treinador e acredita que um novo Inter surgirá nesta reta final de Brasileirão.
— O Zé tem um jeito muito bom de jogar. Gosta das linhas adiantadas, onde todos atacam e tem obrigação de marcar. Temos de mudar a maneira de jogar. No Flamengo, o Zé arrumou o time. A equipe vai melhorar muito nestes 11 jogos, ele vai dar o plus que precisamos — declarou o camisa 9.
É provável que Sobis dê lugar a Paolo Guerrero. E que Zé Ricardo, tentando mudar a cultura da retranca do Inter, faça Guerrero sorrir novamente.
Para onde foram os gols? Os números de Guerrero no Inter
- Jogos: 30
- Gols: 13
- Minutos jogados: 2.555
- O gol mais recente: aos 25 minutos do segundo tempo, na goleada de 3 a 0 sobre o Cruzeiro, pelo jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil, no dia 4 de setembro. Nesse mesmo clássico, marcou dois, o primeiro, aos 40 minutos do primeiro tempo.
- Maior sequência de gols: foram 11 em 17 partidas, entre 6 de abril (Inter 2x0 Caxias, a sua estreia, pelo Gauchão) e 31 de julho (Inter 2x0 Nacional-URU, pela Libertadores).
- Maior seca de gols: sete jogos. Não faz um gol há 48 dias. Passou em branco nos dois jogos contra o Athletico, além de Chapecoense, Flamengo, Cruzeiro, Avaí e Vasco.