Buscar um treinador fora do Brasil não é novidade para o Inter. Na história recente do clube, os uruguaios Jorge Fossati e Diego Aguirre passaram pelo Beira-Rio. Um argentino, no entanto, não dirige o time desde 1950, quando os dirigentes da época buscaram Alfredo González para retomar a hegemonia estadual. Quase setenta anos depois, o plano é mais audacioso: tirar o técnico do Racing para comandar o vestiário em 2020 — último ano da gestão Marcelo Medeiros. Mas quem é esse portenho tratado como "ficha 1" pelos dirigentes colorados?
Eduardo Germán Coudet nasceu e cresceu no bairro de Saavedra, na zona norte de Buenos Aires. Foi por lá também que ganhou o apelido que carrega até hoje: Chacho. Segundo os mais próximos, seria uma referência a Claudio "Chacho" Cabrera, jogador do Vélez Sarsfield nos anos 1980, que usava cabelos compridos. Quando surgiu no Platense, em 1993, Coudet tinha o mesmo visual. Ofuscou, por exemplo, o surgimento do francês David Trezeguet, que também iniciou na mesma época no Estádio Ciudad de Vicente López. Irreverente, brincalhão, era apontado como "louco" pelos repórteres que cobriam o time, hoje na segunda divisão nacional. Como ele próprio contou à Revista El Gráfico, de 2005, trocou as sessões de terapia pelos campos de futebol.
— Tinham me mandado para o psicólogo pelas travessuras que eu fazia no colégio. Como coincidiam com os horários dos treinos, o deixava esperando e ia para o clube. Quando passei em um dos testes, avisei aos meus pais para que deixassem de pagar o psicólogo — relatou.
Aliás, a cabeça do jogador é a prova viva de sua imprevisibilidade. Se hoje adota uma postura mais sóbria, chamando atenção apenas pelas mangas curtas com um cachecol no pescoço, já se destacou em campo por atuar de cabelo descolorido — ou platinado, como chamam os argentinos. Mas a fama de maluco é minimizada pelos amigos.
— Ele apenas era um jogador divertido, que tentava manter o plantel alegre. Sempre tinha um sorriso na cara, mas muito sério dentro de campo. Este era Chacho. Um grande amigo. Nos conhecemos desde os 18 anos, quando ele debutou no Platense. Temos uma grande amizade até hoje e nos falamos quase que diariamente — conta Mariano Dalla Líbera, ex-atleta que dividiu o vestiário com Coudet, mas que trata logo de despistar quando questionado sobre o futuro do amigo. — Não falamos sobre este tema — disse, jurando se tratar da verdade.
É assim que o Racing também tem feito desde que o treinador atendeu à imprensa local e reagiu de maneira tensa, ameaçando abandonar a entrevista, quando questionado insistentemente sobre a proposta colorada. Porém, nas ruas de Avellaneda, ninguém é capaz de assegurar sua permanência no clube para 2020.
Detentor do último título do Campeonato Argentino, em 2018/2019, o Racing ainda busca reagir depois de má largada nesta temporada. Em 15 de dezembro, pode conquistar mais uma taça: o Troféu dos Campeões, uma espécie de Recopa, que o colocará frente a frente, em partida única, contra o Tigre, campeão da Copa da Superliga. Para alguns, esta pode ser a despedida do treinador. Para outros, ainda há a esperança em buscar um feito continental no ano que vem.
— Creio que ele deva ficar, pelo menos, até a Libertadores. Vem fazendo um grande trabalho. Penso que poderia usar mais os jogadores jovens, como fez no Rosario Central. Mas é um bom treinador — atesta Lucas Farroni, torcedor do Racing.
Entretanto, Coudet está longe de ser unanimidade para a apaixonada torcida azul celeste. O atacante Lisandro López e o manager Diego Milito, por exemplo, são muito mais festejados do que ele. Aliás, basta caminhar alguns passos do Estádio El Cilindro até o primeiro bar, na esquina das ruas Alsina e Colón, para ouvir uma opinião completamente oposta a que um ídolo mereceria.
— Ele é um "pecho frío" (sem sangue). É torcedor do Rosario Central e do River Plate, não do Racing. Não gosto dele. Por mim, já pode ir — dispara Tito Castro, que trabalha como garçom no estabelecimento.
De certa forma, ele não está de todo errado. Como atleta, Coudet passou por quatro clubes ao longo da carreira. Mas foi na cidade de Rosário, distante 300 quilômetros de Buenos Aires, onde gozou da maior idolatria. Como atleta, conquistou a Copa Conmebol de 1995, em cima do Atlético-MG. Vinte anos depois, voltaria para fazer sua estreia como treinador. À frente do Rosario Central, inclusive, apareceu pela primeira vez com maior incidência no noticiário esportivo gaúcho, ao eliminar o Grêmio de Roger Machado das quartas de final da Libertadores de 2016. Ainda assim, depois de duas temporadas animadoras, resolveu deixar tudo para trás e ir embora.
— A equipe jogava de maneira muito intensa, vertical, mas não era protagonista pelos títulos. Até que, em 2017, ele resolveu pôr um ponto final em busca de novos horizontes. A diretoria lhe ofereceu uma proposta para continuar, mas Chacho disse que não. Assim, desta maneira, seu representante e amigo, Christian Bragarnik, o levou ao Tijuana, do México. Por isso digo que, se a oferta do Inter for boa, muito alta, não tenho dúvida de que ele vai aceitar — acredita Mariano Bereznicki, repórter do jornal La Capital, de Rosário.