As preocupações com três competições concomitantes ficaram para trás. O sonho de títulos se evaporou para o Inter. Ao menos nas copas, Libertadores e do Brasil. Restou o Campeonato Brasileiro, competição na qual a equipe de Odair Hellmann faz surpreendente campanha para quem tem um elenco limitado e que estava com as atenções divididas. Nove pontos atrás do líder, Flamengo, o Inter abrirá o segundo turno do Brasileirão neste domingo, às 11h, diante da Chapecoense, e em um Beira-Rio que certamente ainda estará vivenciando as dores da derrota para o Athletico-PR na final da Copa do Brasil.
O público de mais de 50 mil torcedores, que empurrou o time na decisão da quarta-feira passada, certamente será bem mais modesto. O torcedor ainda vivencia o luto pela perda de mais um título — algo que parece ter se tornado comum nesta fase atual do clube, que coleciona reveses desde 2016.
Se, em temporadas anteriores, a projeção de pontos necessários para o título eram até certo ponto modestas, o Flamengo de Jorge Jesus tratou de inflacionar os números da temporada 2019. Devido à campanha do primeiro turno, em que os cariocas somaram 42 pontos, a expectativa de pontuação para o título foi às nuvens: 84. É claro que, ao longo das rodadas, essa projeção pode mudar, acabar reduzida. Porém, para a abertura do returno, será preciso sair à caça do Rubro-Negro.
Caso repita a campanha, o Flamengo chegará aos 84 pontos, batendo a melhor campanha da história do Brasileirão de pontos corridos com 20 clubes, que pertence ao Corinthians de 2015, de Tite e do lateral-esquerdo colorado Uendel, que somou 81 pontos e se sagrou campeão com folga.
Dono de 33 pontos no primeiro turno, o Inter ficou na quarta colocação, com vaga direta à Libertadores até o momento, mas apenas um ponto à frente do quinto, o Corinthians. Ou seja: uma posição ameaçada. O time de Fábio Carille, porém, ainda está com as atenções divididas com a semifinal da Copa Sul-Americana (talvez por pouco tempo, uma vez que levou 2 a 0, em casa, do Independiente del Valle, no jogo de ida).
Acima do Inter, estão os três clubes que se dividiram na liderança do Campeonato Brasileiro nos meses iniciais: Flamengo (com 42 pontos), Palmeiras (39) e Santos (37). A dupla paulista, porém, tem apenas o Brasileirão no horizonte, ao contrário dos cariocas, que ainda disputarão com o Grêmio a vaga às finais da Libertadores.
— O primeiro passo é o Inter decidir o que se faz com Odair. Se ele não for empoderado pela direção, perde o grupo rapidinho. De alguma forma, a diretoria tem que decidir: ele fica? Mass fica mesmo? Então, esse é o primeiro passo para dar um foco ao time — afirma o comentarista dos canais SporTV Sérgio Xavier Filho. — Com relação à equipe, não tem muita alternativa. Tem o sistema básico, que é o que todos conhecem, e poderia aproveitar alguns jogadores do time alternativo. Não adianta mudar esquema a essa altura do ano, mas Odair pode, sim, rodar mais o time. O título não depende mais do Inter, depende de uma queda brusca de Flamengo, Palmeiras e Santos. O Inter tem que focar no G-4 ou G-6, tem que acabar o ano com chance de Libertadores, mesmo que seja a pré — acrescenta Xavier.
A derrota para o Athletico-PR caiu como uma bomba no vestiário colorado. Jogadores que produziram perto de zero nas finais, como Edenilson, Patrick e Paolo Guerrero, até então alguns dos pilares da equipe no ano, foram cobrados, e a expectativa para o segundo turno no Brasileirão segue alta. Internamente, brigar pelo título (algo que parece irreal até o momento) será uma exigência até o raiar de dezembro. Com eleição à vista ao final do ano que vem, e com o vice de futebol Roberto Melo sendo o candidato da situação à sucessão de Marcelo Medeiros, mais uma temporada de derrotas não chega a ser uma boa propaganda — apesar da recuperação de um clube que estava na Série B quando a atual gestão assumiu.
Além disso, para 2020, o grupo será reformulado. E haverá muitas saídas. D'Alessandro pode anunciar a sua aposentadoria ao final deste ano. Rafael Sobis tem contrato somente até dezembro. Nico López poderá ser vendido ao Tigres-MEX. Rodrigo Dourado segue sem perspectiva de retornar a campo, por causa de sua lesão no joelho.
Jogadores como Tréllez, Bruno Silva, Natanael, Galdezani, Rithely, Bruno, Dudu e Neilton deverão deixar o clube no encerramento da temporada. Emerson Santos e Guilherme Parede precisarão ser comprados junto a Palmeiras e a Coritiba, respectivamente, para permanecer. Já novatos como Zé Aldo, Zé Gabriel, Heitor, Erik, Johnny, Roberto e Bruno Fuchs deverão receber mais chances. E o segundo turno do Brasileirão surge como a melhor oportunidade para quem precisa se garantir no clube para a temporada seguinte.
— Se ganhássemos o título (da Copa do Brasil), não seríamos o melhor time do mundo, nem tudo estaria perfeito. Perdemos, mas lutamos, buscamos. Penso que merecíamos (o título), mas esse "merece" não acontece, porque futebol é bola na rede. Penso que essa construção do caminho de vencer está correta. Não foi hoje (quarta), infelizmente. Mas visualizando tudo isso, nós precisamos conseguir nossas vitórias no Brasileiro e buscar a parte de cima da tabela — disse Odair, em seu discurso de remobilização da tropa, após a derrota em casa para o Athletico.
Para a projeção de vaga direta à Libertadores, o Inter precisa repetir a campanha do primeiro turno. Ou seja: somar mais 33 pontos. Para ser campeão, porém, terá de somar 51 pontos em 57 possíveis. Algo que surge um tanto ficcional para o momento.
— Ainda faltando as definições de Copa Sul-Americana e de Libertadores, o desenho do Brasileirão talvez agora seja aquele imaginado lá no começo: com Flamengo e Palmeiras disputando o título, com algumas casas à frente dos outros. Não vejo algum outro time disputando com eles, pelos elencos e pelos trinadores que têm. O Inter tem um campeonato com os paulistas, Santos, São Paulo e Corinthians. Será uma briga com os paulistas pela vaga à Libertadores, pelo terceiro ou quarto lugar. A recuperação do Inter no Campeonato Brasileiro se deve muito ao time reserva. O título dificilmente será conquistado, é bem mais plausível a briga pelo terceiro lugar. Para isso, será preciso recomeçar ganhando em casa da Chapecoense e ir com tudo em confrontos diretos — entende o comentarista paulista Arnaldo Ribeiro.
Por enquanto, o limite deste Inter parece apenas a conquista de vaga à Libertadores. Resta ao técnico Odair Hellmann tentar provar o contrário. Afinal, também ele precisa renovar contrato para 2020.