Recomeços nem sempre são fáceis. Ainda mais quando um clube parece ter se desacostumado às conquistas. Dois anos atrás, o Inter tentava renascer das cinzas da Série B. Nessa quarta-feira, jogou no Beira-Rio a final da Copa do Brasil. Perdeu. Porque recomeços nem sempre são fáceis. A derrota por 2 a 1 deu ao Athletico-PR (que venceu a partida de ida por 1 a 0) a taça, os R$ 52 milhões em prêmios, além da vaga direta à Libertadores de 2020.
Faltou energia e alguma organização a um Inter que perdeu D'Alessandro por lesão horas antes da final, e que precisava vencer por escore mínimo para, ao menos, levar a decisão para os pênaltis. Não conseguiu.
Se em 2009 o Corinthians de Ronaldo Nazário ganhou a Copa do Brasil no Beira-Rio, dessa vez foi o Athletico de Bruno Guimarães que ergueu o troféu e que recebeu as medalhas douradas, no centro do gramado do estádio colorado. Porque recomeços nem sempre são fáceis, e o Inter não ganha um campeonato nacional há 27 anos. E até agora nada indica que vá conquistar o Brasileirão.
Uma hora antes de a finalíssima começar, o anúncio da escalação com Wellington Silva no lugar de D'Alessandro, e de D'Alessandro no banco de reservas, apenas como figurante, por não ter as mínimas condições de jogo, devido à lesão muscular do treino de domingo, fez correr pelas arquibancadas do Beira-Rio um ar pesaroso. Afinal, o camisa 10, o capitão do time, o quarto jogador da história que mais vezes vestiu a camisa colorada estava fora da decisão. Antes do apito do árbitro goiano Wilton Pereira Sampaio, a CBF montou um show de fogos, luzes e som, homenageando a competição, e os dois clubes finalistas.
Sem, D'Alessandro, mas com 50 mil torcedores dentro do Beira-Rio, além de outros muitos milhares no pátio do estádio, sem ingressos (a Brigada Militar estimou em até 25 mil torcedores), mas vivenciando a final do torneio somente pelo rádio e pelas reações que emanavam desde a parte interna dos portões, o Inter passou a buscar a tão sonhada vitória.
Logo a 10 segundos de jogo, o ex-colorado Wellington Martins se jogou ao chão após ser tocado por Guerrero, em evidente cera - que teve início com o jogo. Um minuto depois, Nico recebia do peruano e, na pequena área, chutava sobre Santos. A pressão colorada prometia ser insana.
O Athletico travava o jogo em constante cera. Wellington Martins, Marco Ruben, Rony e Léo Pereira foram ao chão em divididas e faltas, sempre demorando a se erguer. Nos primeiros oito minutos de partida, quase metade se perdeu com a bola parada. Catimba à parte, porém, o Inter com 71% de posse de bola pouco conseguia construir, a não ser jogadas pelas pontas, que se transformavam em faltas, que geravam cruzamentos na área para a defesa paranaense cortar. Chute a gol, nenhum.
A pressão sem chutes do Inter até então teve um revés aos 23 minutos. Em uma das raras escapadas do Athletico, Rony saiu carregando a defesa do Inter de arrasto — enquanto Wellington Martins se jogava ao chão, uma vez mais, em uma bela atuação dramática —, encontrou Marco Ruben que, dentro da área, e com um toque, passou para Léo Cittadini ganhar a frente de de Lindoso e bater para marcar o 1 a 0. Na comemoração, Wellington Martins estava são e correu para fazer a festa com seus companheiros.
Com o gol, torcida e time do Inter murcharam. Sem articulação, o Inter passou a atacar em modo desespero. Ainda restava muito jogo pela frente, e o empate surgiu em um daqueles lances que só uma final proporciona. Nico cobrou o escanteio e a bola passou por Guerrero, Moledo, Cuesta, todos tentavam concluir a gol, até que Lindoso cabeceou no travessão e, no rebote, Nico (aquele que havia batido o escanteio) empurrou para o gol: 1 a 1. Torcida e time tentaram renascer.
No segundo tempo, o talismã Rafael Sobis entrou no lugar do inoperante Patrick. Não demorou para que Odair sacasse Bruno (antes que fosse expulso, por só conseguir parar Rony a faltas) e colocasse Nonato. O tempo passava e o Inter não criava uma chance clara de gol sequer. O magro 1 a 0 do Athletico na Arena parecia mais do que suficiente para o título.
Não houve pressão, não houve grande indignação, sequer lampejos de de fúria houve com o pálido empate no Beira-Rio. O Inter, já na metade do segundo tempo, parecia aceitar passivamente a superioridade do Athletico - para o desespero dos torcedores nas arquibancadas. E, o toque final, Cirino, ex-Inter, deu um baile em Edenilson, Sobis e Lindoso, passou para Rony, que marcou o 2 a 1. O Athletico fez a festa na casa dos colorados.
O resto da vida do Inter recomeçará com os primeiros raios de sol do domingo, na abertura do returno do Brasileirão, contra a Chapecoense, às 11h, em um Beira-Rio ainda sofrendo com as dores de mais um quase título.
Copa do Brasil — Final (volta) — 18/9/2019
INTER 1
Marcelo Lomba; Bruno (Nonato, 9'/2°T), Rodrigo Moledo, Víctor Cuesta e Uendel; Rodrigo Lindoso, Edenilson, Patrick (Rafael Sobis, int.), Wellington Silva (Guilherme Parede, 35'/2°T), Nico López; Paolo Guerrero. Técnico: Odair Hellmann
ATHLETICO-PR 2
Santos; Khellven (Madson, 15'/2°T), Robson Bambu, Léo Pereira e Márcio Azevedo; Wellington Martins, Léo Cittadini (Lucho Gonzáles, 38'/2°T), Bruno Guimarães; Nikão, Marco Ruben (Marcelo Cirino, 22'/2°T) e Rony. Técnico: Tiago Nunes
GOLS: Léo Cittadini (A), aos 23min e Nico López (I), aos 30min do primeiro tempo; Rony (A), aos 51min do segundo tempo
CARTÕES AMARELOS: Nico López, Bruno e Rodrigo Moledo (I); Wellington Martins e Marco Ruben (A)
ARBITRAGEM: Wilton Pereira Sampaio (GO-Fifa), auxiliado por Émerson de Carvalho (SP-Fifa) e Bruno Raphael Pires (GO-Fifa) VAR: Bráulio Machado (SC-Fifa)
PÚBLICO: 50.355 pessoas (44.804 pagantes)
RENDA: R$ 2.742.150
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre
Próximo jogo
Domingo, 22/9 — 11h
Inter x Chapecoense
Beira-Rio — Brasileirão