A decisão da comissão especial que investiga a gestão 2015/2016 do Inter apresentou pontos que haviam sido antecipados pelo GDI, o grupo de investigação da RBS. Em um documento de 83 páginas, os conselheiros que investigaram a administração de Vitorio Piffero constataram "falta de limites" nos saques na boca do caixa, pagamentos de "grandes quantias em dinheiro", adiantamentos superiores a R$ 10 milhões, uso "abusivo do cartão corporativo".
O relatório confirma que juntou cópias de matérias de Zero Hora, publicadas entre março e junho, e pede punições por "gestão temerária" a quatro ex-dirigentes: além do próprio Piffero, estão citados também Pedro Affattato (ex-vice de finanças), Emídio Ferreira (ex-vice de patrimônio) e Alexandre Limeira (ex-vice de administração), solicitando que fiquem inelegíveis por 10 anos. O material será enviado ao conselho deliberativo, ao conselho de gestão e ao Ministério Público.
Veja abaixo:
Contra Piffero pesa, principalmente, o fato de não ter seguido orientação do conselho fiscal para incluir limites nos valores sacados por adiantamento. Diz o texto: "o ex-presidente já era um dirigente com larga experiência. Não era um dirigente ingênuo, novato ou principiante. Longe disso. Já havia sido vice-presidente de finanças e presidente em três gestões (seis anos).
Sabia o que estava fazendo ou deixando de fazer. Sabia o que estava acontecendo no Clube. Se é verdade que dava autonomia aos seus vice-presidentes, também é verdade que era muito próximo e amigo do seu primeiro vice-presidente e vice de finanças, Pedro Affatato. Não pode alegar o ex-Presidente que ignorava os fatos e não tinha conhecimento dos altos valores sacados através do sistema de adiantamentos. Havia sido pessoalmente notificado pelo Conselho Fiscal, que advertia e recomendava providências para estancar a verdadeira sangria que estava ocorrendo".
O documento fala, ainda, que "é inaceitável a sua alegação de que os fatos ocorridos 'fazem parte da cultura corporativa da instituição'. Nunca foi "prática histórica" em nosso clube o vice-presidente de finanças sacar milhões de reais em dinheiro, direto do caixa da tesouraria do clube, com a conivência do presidente. Pelo contrário, é procedimento anormal e inédito".
É sobre Pedro Affattato que estão as denúncias mais importantes. Como Zero Hora já havia mostrado, houve um adiantamento superior a R$ 10 milhões por parte do ex-dirigente. No relatório, os conselheiros apontam: "Destoa completamente a soma dos adiantamentos tomados pela vice-presidência de finanças. Atinge R$ 10.252.017,02. O somatório dos adiantamentos de todas as demais vice-presidências e da presidência não chega nem perto do elevado montante sacado pela VP de finanças (...) considerados apenas os adiantamentos acima de R$ 10.000,00, o VP de Finanças retirou 147 adiantamentos entre fevereiro/15 e fevereiro/16, sacando dinheiro vivo diretamente do caixa da tesouraria do clube, em valores que totalizaram mais de R$ 9,9 milhões". Ainda há o pagamento à empresa Rodoseg, que é da família de Pedro Affattato _ o que é vetado pelo Profut.
Há também denúncias de empresas que receberam dinheiro para realizar obras e serviços "que nunca existiram", feitos pelas empresas Keoma, Pier, Estela, Rejane e Egel. "Efetuar pagamentos em dinheiro, na casa dos 80, 90, 100 mil reais? No mundo dos negócios lícitos e limpos, as pessoas não pagam, nem recebem, com malotes de dinheiro. Fazem uma transferência bancária, um TED, um DOC. Pagam com cheque. O ex-vice-presidente de patrimônio, Emídio Ferreira, colaborou diretamente com as práticas do ex-VP de finanças, pois assinou grande parte das notas fiscais apresentadas na tesouraria por Affatato", diz o relatório.
A respeito do futebol, o item 5 aponta que foram pagos R$ 1,3 milhão de comissões sem notas e também aponta ausência de notas para pagamentos de direito de imagem. O Ministério Público receberá o documento para decidir se solicita ou não a quebra dos sigilos bancário e fiscal.
O documento também traz detalhes sobre o uso dos cartões corporativos do clube. Desde o pagamento apenas parcial de uma fatura de R$ 400 mil, que gerou R$ 61 mil em juros no mês seguinte a gastos próximos a R$ 1 mil em casas noturnas, restaurantes de luxo em até três refeições no mesmo dia.
A mesa diretora do Conselho Deliberativo e a Comissão Especial prestarão esclarecimentos sobre os procedimentos relativos à decisão da comissão especial, em uma entrevista coletiva marcada para segunda-feira, no Beira-Rio.