Não há restrições ao atleta, concluindo a sua carreira, ingressar na política da agremiação, seguindo os caminhos estatutariamente previstos. Os 10 anos de D'Alessandro no Inter foram comemorados com o envolvimento da comunidade colorada em prol da sua obra social. Há apenas um aspecto que fugiu à regra e, portanto, à tradição do clube e do jogador. Aproveitando os microfones, disse que a permanência está condicionada à sua avaliação do próximo presidente, indicando sua preferência pela atual direção.
Esse fato compõe quadro formado por outros episódios recentes, igualmente inusitados. Quando o time fazia campanha sofrível, conselheiros exararam críticas, apontando riscos e necessidade de reação. Com isso, exerceram o irrenunciável papel a eles reservado: ser a voz da torcida que estava indignada.
Em uma relação de causa e efeito, as críticas repercutiram gerando alterações na estrutura do futebol. Pois bem, o nosso D'Ale, respondeu diretamente aos conselheiros, embora paradoxalmente à sua irresignação, também tenha apresentado expressiva melhora de desempenho. Paralelamente, representou perante à Comissão de Ética do Conselho em face de um conselheiro, o que segundo sei é inédito no Inter e talvez no futebol brasileiro.
Repito: há um papel para jogadores, empregados do clube regidos pela CLT e pelas disposições contratuais e outro àqueles que integram a estrutura orgânica, sempre marcada pela natureza representativa. Membros da diretoria, conselheiros e candidatos não entram em campo, não marcam gols, não dão passes precisos como os do D'Ale. Assim, ele não deve e não pode ingressar em um ambiente que não lhe diz respeito. Não é adequado ser usado como cabo eleitoral, tentando interferir nos destinos políticos.
Qual seria o seu entendimento quanto à gestão de um orçamento anual de aproximadamente R$ 300 milhões? Sobre a indispensável profissionalização do clube? Acerca da organização das categorias de base? Bem como do equacionamento do déficit financeiro e tantos outros?
Ele não tem o direito de substituir, ameaçando com a descontinuidade do seu vínculo trabalhista, a vontade soberana do quadro social. O preocupante nesse engendrado protagonismo eleitoral é a permissividade da atual diretoria e a desastrada estratégia de marketing visivelmente eleitoreiro em curso. Alguém tem dúvida do quanto é deletéria a prévia combinação de conteúdo e de oportunidade para as declarações do nosso espetacular jogador?