No treino da carrancuda manhã de quinta-feira, no CT Parque Gigante, D'Alessandro voltou a ser o destaque. Há quase dois meses fora do time, ora por suspensão, ora por lesão, o camisa 10 parece ter voltado com fome para recuperar o tempo perdido. Se movimentou bem e marcou um golaço por cobertura em Keiller.
Após o segundo treino com bola nesta intertemporada, o capitão colorado foi convocado para a entrevista coletiva. E, como de costume, falou sobre tudo. E desabafou. Se mostrou chateado com comentários que escutou neste período de molho, até mesmo de torcedores do Inter que não querem o seu retorno à equipe titular, sobre o bom momento do time, disse que voltou para tentar vaga de titular outra vez, mesmo que para isto precise encarar a reserva em um primeiro momento.
D'Alessandro falou também sobre a denúncia que fez à Polícia, a respeito de ataques a sua honra que sofreu nas redes sociais. Pelo menos 30 internautas poderão ser indiciados por difamação.
– Intimação e processo a partir de agora, quando passarem dos limites – respondeu o camisa 10 do Inter.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como você está se sentindo, após essa parada?
Estou me sentindo melhor. Fiquei um pouco fora. Tive uma lesão. Não foi muscular. Vou começar cedo a falar. Falar as coisas como são. Falaram que me machuco muito. Ouvi cada coisa, que meu Deus do céu. Estou aqui para tirar dúvidas. O cara que fica atrás da mesinha (bate na bancada neste momento). Foi um lesão no tornozelo, não muscular. Faz tempo que não tenho lesão muscular. Mas melhorei. Infelizmente, fiquei fora do momento bom do time, mas feliz pelo grupo, pelo clube. Ainda não conseguimos nada, mas é um começo bom. Passaram 12 rodadas, e sempre falo a mesma coisa: o difícil não é chegar lá, mas se manter no bolo de cima. Entre os quatro ou seis, pensando jogo a jogo. E jogar cada partida como uma final.
Como fica para você voltar ao time e tentar buscar um lugar como titular?
Para mim, nunca foi diferente. Sempre busquei meu lugar. Ninguém fez favor para eu estar aqui. Estou há 10 anos, faço 10 anos aqui no mês que vem. O futebol brasileiro é competitivo, difícil. Não é qualquer um segue tanto tempo. É motivo de orgulho. Sempre joguei pelas minhas condições, pelo meu profissionalismo. Estando bem ou mal, sempre me doei. Não será diferente. Estou feliz pela sequência de oito jogos sem perder. O time conseguiu uma estabilidade boa. Ganhou fora, o que é importante no Brasileiro. Voltarei devagar. Respeitarei, como sempre fiz, o momento do grupo. Seguirei trabalhando. Tenho que respeitar. O treinador merece. Ele precisa seguir da maneira que tem trabalhado. Achou o equilibro nos últimos jogos. Trabalhar, seguir respeitando. Fiquei no banco contra o Palmeiras, no Gre-Nal, que não pude entrar. Sem reclamar e sem nada. Às vezes, falam "olha a cara do D'Ale". Eu nunca reclamei. De fato, fui poucas vezes para o banco, mas por mérito meu. Ninguém deu nada. Foi com trabalho e dedicação. Vou voltar a treinar normalmente e, quando o treinador precisar, estarei aí.
O que você ouviu que te incomodou?
Eu escuto há 10 anos as coisas e sigo aqui. Continuo usando a mesma roupa. Podem falar qualquer coisa do D'Alessandro, criticar o futebol dele. Mesmo sem jogar, pedem para eu não voltar ao time. Mesmo o torcedor do Inter. Isso faz parte, mas o que não faz é falta de respeito. Não reconhecer meu caráter, profissionalismo. Falar que D'Alessandro é baixinho, que tá magro, que é feio, mas duvidar do meu caráter, profissionalismo... aí entra em um terreno que preciso me defender.
O que te parece o momento atual do Inter?
Continuo pensando da mesma maneira, e foi isso q levou a este momento. Não se apequenar. Mas pensar jogo a jogo. Ter humildade quando o jogo está difícil. O time não se abateu nesta sequência. Fizemos jogos de igual apara igual. É a maturidade do time, confiança quando vem. Individualmente, ganhamos confiança. Isso vai junto. O importante é não achar que está bom pelo que fizemos até agora. Para que seja ainda pior aos adversários quando estão aqui. E jogar de igual para igual fora. Às vezes, gostamos de jogar bem, mas, quando o resultado não vem, é melhor buscar equilíbrio, confiança, que o resultado vem sozinho. Tem ocorrido. Tomara que siga com esta consciência. Todos tem consciência do que precisamos fazer. Há uma briga sadia no grupo: Nico, Lomba, Uendel... Só para citar alguns que entram e fazem sua parte. Nico fez gols, sem ser titular em todos os jogos. Isso faz bem ao grupo.
Por que você decidiu ir à Polícia e denunciar os haters, as pessoas que te ofenderam nas redes sociais?
Dar publicidade a estes caras, não vou dar mais. Não esperava que fizessem essa pergunta. Responderei rápido e conciso. Há advogados e a Polícia. Não me envolvo. Quem quiser falar, fala. Intimação e processo. Só preciso assinar um papel. Intimação e processo a partir de agora, quando passarem dos limites. Quando passam dos limites, graças a Deus encontramos uma maneira. Será isso. Não darei publicidade, mas gente insana, e gente que não tem moral nenhuma.
O quanto tem do trabalho do Odair para que esses resultados estejam acontecendo agora?
O trabalho dele começou faz tempo. O conheço há muito tempo. Era auxiliar, jogou aqui, trabalhou na base. Chegou onde sonhou e tem esta oportunidade. Óbvio quando o resultado não vem, o alvo é o treinador. Sempre estivemos tranquilos com ele. Sempre trabalhou da mesma maneira. Acreditamos no trabalho dele. Tínhamos confiança, e temos no que fazemos na semana. Não só eu, mas muitos atletas falaram ao longo das coletivas, mesmo quando o resultado não aparecia. Agora, temos conseguido. Pelo trabalho, há confiança, tranquilidade, respeito, tanto dele com os atletas, como vice-versa. E respeitamos as decisões dele. É tratar sempre de respeitar instituições, procura ser justo. É o mais importante para manter o ambiente.
O fato de o time ter rendido bem, tira um pouco do peso que há sobre você? Sobre a "Daledependência"?
Eu nunca achei que existisse Daledependência. Acho que foi criado, mais pelo tempo que estou aqui. Ninguém deu nada de favor. Sempre trabalhei para jogar. O momento que estiver bem fisicamente, brigarei pelo meu espaço. Sempre respeitando. Uma situação como agora, que apoiei de fora, o time vem ganhando. Temos que respeitar o momento, com alegria. O time tem ganhado, estamos em uma posição que muitos não acreditavam. Conseguimos com esforço, dedicação, ambiente, bom trabalho, bom futebol, nos impondo fora. Só tenho que respeitar a decisão do treinador e os meus companheiros. O líder, entre aspas, é isso. Você respeitar.
Você tem sofrido muito com a Argentina na Copa?
Argentina, sofremos, né? Nos classificamos, que era o objetivo, mas o caminho foi cheio de pedras. Nunca achei que o Mundial seria fácil. Mas que não seria tão difícil e sofrida a classificação. Começa outro campeonato agora. Temos a oportunidade de enfrentar uma seleção (França) que mostra um bom futebol, forte, e que, se conseguir ganhar sábado, acho que dará mais confiança. Aí pode encaixar de vez o objetivo de chegar a mais uma final.
Como você, estando de fora, analisa o time do Inter?
Analisar o time... Não sou treinador, ainda. Mas encontramos um equilíbrio importante. Quando falo equilíbrio, digo de parte ofensiva e defensiva. Conseguimos uma tranquilidade defensiva muito grande com esta evolução, tanto individual quanto coletivamente. Cresceram as individualidade. Acredito que podemos nos impor com um trabalho muito importante. Esta parte de transição, precisamos ser fortes e melhoramos muito. Em alguns jogos não mostramos bom futebol, mas fomos consistentes. Jogamos com humildade, corremos, como precisa. Nem sempre jogaremos bem, mas mostramos a cara de um time aguerrido, com raça. O time até pode não jogar bem, mas o torcedor pede entrega, dedicação. De defender até a morte o resultado. E todos em prol do objetivo, obviamente com resultado e sequencia, encaixaremos e as individualidades vão crescer.