Responsável por montar o projeto do CT de Guaíba, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) José Aquino Flôres de Camargo, deixou a vice-presidência de Negócios Estratégicos do Inter na sexta-feira.
Há quase 30 anos como conselheiro do clube, Aquino pediu para deixar o cargo por entender que já não tinha "mais como contribuir com a gestão". Segundo ele, o planejamento do novo Centro de Treinamentos do clube foi entregue em agosto e jamais foi dado um andamento pelo Conselho de Gestão.
- Nunca houve uma definição. Achei que, politicamente, era o momento de sair. Entreguei alternativas para o CT, para ser feito em módulos, com um modelo integrando base e profissional, outro somente com a base, dependendo do volume do investimento, e inclusive com empresas da Europa interessadas em bancar as obras. Enfim, o Plano Diretor do CT está pronto. É um projeto de R$ 70 milhões, para os próximos 20 anos do Inter, pelo menos, mas que pode ter o custo reduzido. Não sei por que não ocorreu uma definição, cheguei ao meu limite. Dali para a frente seria só desgaste. O certo é que o clube precisa definir qual é o projeto dele - disse Aquino.
Conselheiro independente, Aquino se mostra preocupado com o futuro do clube. Elogia a gestão Marcelo Medeiros que, conforme ele, está "recuperando a credibilidade do clube", e defende que as lideranças coloradas se reúnam antes do final da Copa do Mundo para um amplo debate sobre o Inter e a eleição presidencial de 2018.
- Nos próximos 60 dias, todas as lideranças do clube têm de conversar. As pessoa que se sentem responsáveis pelo Inter devem se reunir, independente de quem esteja apoiando quem. É aí que pode sair uma síntese de pensamento sobre o clube. Espero que essa seja uma eleição mais tranquila do que as de anos anteriores. Não há razão para termos uma disputa fratricida. O pior já passou e a atual gestão não tem problemas de credibilidade - afirmou José Aquino Flores de Camargo.
O desembargador aposentado não nega o desejo de se candidatar à sucessão de Medeiros, tangencia com o lugar do comum de que "todo o colorado se sentiria honrado". Mas, acostumado ao xadrez político do clube, Aquino vê um Inter fragmentado e lamenta o silêncio dos ex-presidentes.
- Saindo da gestão fico livre para pensar, para conversar. O clube está fragmentado, os ex-presidentes estão quietos, fora da vida política, e o clube está sem referências. A gestão de 2016 jogou o Inter em uma crise de credibilidade e financeira muito grandes. Isto tudo vem sendo recuperado, a crise financeira afeta a todos, mas é preciso parar com o discurso de coitadismo atual. Este discurso que aceita uma inferioridade, algo que não é afeito ao Inter - declarou. - Esta coisa de entrar num Brasileirão e não ser postulante a título, é preciso ir para um Gre-Nal para ganhar, mesmo que o Grêmio esteja mais forte, desafiar. Isto tem de mudar. O torcedor não quer mais este discurso. Falta dinheiro? Sim. Mas falta para quase todos - emenda.
Aquino ainda faz uma crítica pontual à maneira como o futebol do Inter é gerido desde 2002. Somente dirigentes ligados ao MIG (Movimento Inter Grande, de Fernando Carvalho, Giovanni Luigi, Marcelo Medeiros, e que teve em Vitorio Piffero um de seus fundadores, além de Roberto Siegmann mais Luciano Davi; os três últimos não integram mais o grupo) são ungidos á vice-presidência de futebol do clube.
- Talvez o MIG tenha de largar o poder. É uma questão que deve ser discutida. Eu, por exemplo, jamais tive a chance de me aproximar do futebol do Inter. O MIG tem excelentes quadros, mas acho que é hora de trocar o poder, de oxigenar o modelo de gestão do futebol, que já rendeu grandes vitórias - apontou Aquino. - O trabalho do Roberto (o vice de futebol Roberto Melo) é bom, mas o clube precisa avançar. O Inter tem sucesso na base, com uma política agressiva, mas está faltando completar este processo no profissional - completou.
O Povo do Clube também deixou a gestão
Antes de Aquino, em março, foi a vez de o movimento O Povo do Clube deixar a gestão do Inter. Segundo maior grupo político no Conselho Deliberativo do Inter, com 54 cadeiras, atrás apenas do situacionista MIG, O Povo retirou os seus quatro conselheiros da Diretoria de Torcidas e Ambiente de Jogo: Ricardo Rogoski, Letícia Vieira de Jesus, Juan Castro Ahumada e Luis Otávio Ramos.
De acordo com Rogoski, um dos líderes do movimento, o grupo decidiu se afastar em virtude de "decepções" com determinados integrantes da administração do clube, além de algumas promessas de campanha que não foram cumpridas, como a criação de um setor sem cadeiras (e não apenas o espaço atual, no setor sul, para a banda da Guarda Popular), além da falta de liberação do segundo lote para novos associados a R$ 10, o plano Academia do Povo. No tabuleiro da eleição colorada, O Povo não descarta até mesmo lançar um candidato à presidência.
- Não queremos nos manter na gestão por cargos, mas para trabalhar pelo Inter. Esta nossa saída não teve motivação política, ainda não estamos pensando na eleição. Foi uma decisão tomada porque estávamos desconfortáveis. O presidente descumpriu promessas de campanha, não houve avanço em certas questões, e nem parece haver vontade política para determinados assuntos. Podemos ter, sim, candidatura própria à presidência, mas ainda não deliberamos sobre isso - respondeu Ricardo Rogoski, ao justificar o desligamento do grupo da gestão atual.