Antes de Patrick se tornar uma alternativa importante do técnico Odair Hellman neste começo de temporada do Inter, ele foi capitão do time da Rua Wilson, em Olaria, subúrbio do Rio, há pouco mais de uma década. Entre o final da infância e a adolescência, o atual volante colorado era meio dono da equipe da quadra. Mais por uma questão geográfica: Patrick era o único que, de fato, morava na Rua Wilson.
Daquele time, que conquistou alguns dos tradicionais torneios de bairro, comuns nas comunidades cariocas, o volante de 25 anos levou todos os troféus e medalhas. Era por isso que fazia questão que os moleques jogassem em sua equipe na Arena Furão, o "estádio" da rua. Queria colecionar as lembranças.
– Mas ele não era o craque. Bom mesmo era o Felipe Dorme Sujo. Era nosso centroavante, fazia gol à beça, matador mesmo – entrega o autônomo Felipe Klaim, 26 anos, amigo de Patrick há pelo menos 20.
Mas Felipe Dorme Sujo não saiu jogador.
– Ele acabou fazendo algumas escolhas, sabe como é – completa.
Patrick nunca fez essas escolhas. Era absolutamente concentrado em jogar bola. A cara de mau e os cabelos descoloridos eram para fazer tipo: fingir uma maldade que não tinha, mas precisava fingir ter para evitar apanhar depois de vencer.
– Nem sou muito do futebol. Mas o Patrick me convencia a ir. Então acabei jogando no time dele. Primeiro pela amizade, depois por interesse mesmo – reconhece Jorge Rômulo, o Jotão, 26 anos, auxiliar administrativo e terceiro integrante do trio de amigos.
É de se entender o tal interesse citado por Jotão. A fama de Patrick se espalhou por Olaria e ele foi chamado para jogar na categoria de base do clube homônimo, frequente participante do Campeonato Carioca. Fazer parte da equipe lhe permitia algumas regalias: a melhor delas era poder usar a piscina do clube. O aspirante a jogador, então, chamava os amigos para sobreviver ao verão carioca – aquele período de 10 meses do ano – nadando.
Essa generosidade, Patrick herdou da mãe. Dona Célia era a professora dos meninos da região. E ensinava bem mais do que o plano de aula previa:
– A gente chegava lá pelo meio-dia e ela nos dava almoço. Não era fácil aquela época, e mesmo assim nunca nos negou nada. Eles formam uma família sensacional – recorda Jotão.
O sucesso de Patrick no futebol acabou afastando o trio, ao menos fisicamente. Para correr atrás da bola, o volante passou por Caxias, Operário, Goiás e Sport. O contato passou a ser virtual, com trocas de mensagens constantes. O jogador só voltava ao Rio de férias ou para eventos especiais, como o batizado de Jorge Guilherme, o Guigui, há dois anos. O filho de Jotão é afilhado de Patrick.
A ideia de dar atenção para uma criança vai ser cada vez mais frequente para o jogador do Inter. Sua mulher, a quem conhece desde os tempos de Olaria, está grávida. Vem aí o João Patrick.
– Patrick esteve aqui nas férias e nossos churrascos só tinham esses papos de adulto, dinheiro, filho. A gente vai mudando – reflete Jotão.
– Passamos o reveillón juntos, foi ótimo conviver com ele de novo. Até fui eu que o levei ao aeroporto – relata Felipe, que acabou sendo também o autor da foto postada pelo jogador para rebater a alegação de que tinha chegado acima do peso:
– A imagem não mente. Patrick é jogador profissional. Queria ganhar sempre, imagina agora aí no Inter. É o grande salto da carreira – finaliza Felipe.
O próprio jogador, apontado por Roberto Melo, vice de futebol, como "vigoroso, polivalente e com fome de jogar e de vencer na carreira", foi quem disse, em sua apresentação:
– O Inter está sempre brigando por títulos, é uma equipe grande no cenário mundial. Esse fator pesou bastante para eu vir para cá.
Se quer manter a fama de sua infância, de conquistador de títulos, Patrick já sabe o que fazer. Só não poderá levar o troféu para casa.