Lá se vão mais de 100 dias desde que Marcelo Medeiros tomou posse como o 64° presidente do Inter. Foi o primeiro da história do clube a receber a gestão na segunda divisão. De lá para cá, enfrentou algumas tempestades, da Suíça ao Maranhão, e chega para o começo da decisão contra o Caxias, às 19h, no Beira-Rio, convicto de já ter conseguido montar um time "de Série A". Os empates nos clássicos contra Grêmio, pelo Estadual, e Corinthians, na Copa do Brasil, emprestam ao dirigente tal confiança.
_ Melhor coisa que tem é ganhar Gre-Nal. E se nós ganharmos esse Gauchão em cima deles, vai ter um sabor especial – responde Medeiros, questionado por Zero Hora sobre o seu sonho imediato.
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Nesta entrevista a ZH, o presidente do Inter fala sobre a remontagem do time, o caixa do clube, o Caso Victor Ramos, CBF, D'Alessandro, chegadas e partidas, os planos para a temporada e, mostrando absoluta convicção, assegura: o Inter jogará a Série A em 2018.
Confira os principais trechos da entrevista:
Passados 100 dias de gestão, o que dá para dizer sobre este momento, com o time na semifinal do Gauchão, na quarta fase da Copa do Brasil? Deu acalmada nos assuntos fora de campo?
Não existe calma no ambiente do futebol. Tu pode ter uma vitória na quarta-feira e, na quinta, um outro tipo de problema que está fora do teu alcance. As coisas começaram a ser mostradas que estamos no caminho certo. Principalmente, no desempenho de campo. Vínhamos desde o início da temporada tentando, não só a questão anímica e questão tática com os jogadores e nova comissão. E, em um determinado momento, alguns atletas lesionaram. Perdemos um pouco aquele time que fez uma boa atuação, como no segundo tempo do Gre-nal. Do outro lado, na questão administrativas, já falamos sobre situação financeira que encontramos o clube. Ela já foi bastante publicidade, sobre o endividamento de mais de R$ 25 milhões. Estamos em processo de radiografia do clube. Contratamos a ERNST & Young Auditores Independentes, que está na metade do trabalho. Vai nos apontar outros rumos ou melhores rumos que o clube deva seguir, que diz respeito a sistemas, processos, gastos. Estamos trabalhando e tem muita coisa pela frente.
Zago já deu a resposta que vocês esperavam neste início?
Acho que sim. Os grandes times do Inter sempre tiveram uma maneira de jogar. Sempre jogamos futebol: o grande time de 70, o Gre-Nal do Século, o time que foi montado no início do novo milênio. O Inter tem uma maneira de jogar. Nós não jogamos por uma bola, não jogamos de maneira fortuita, e acho que isso é uma coisa que estamos resgatando, que é a postura, com recomposição, triangulações, com jogadores com qualidade e se completam. Zago trouxe isso de volta. Fazia um tempo que o Inter não tinha essa maneira de se apresentar. É um time em formação, em início de trabalho. Mas temos de ter a sensibilidade que o torcedor vem de uma temporada machucada. E isso é uma equação que temos de administrar.
O Inter encarou de igual para igual o Grêmio e Corinthians. Vocês montaram um time a nível de série A?
O Inter tem um nível de Série A. E está se aprimorando. Este exemplos que citaste estão trabalhando há muito tempo junto. Essa é a diferença. Por isso que estamos avaliando que o desempenho mostra que o trabalho que está no caminho certo. O time que foi montado recentemente conseguiu jogar de igual para igual com equipes que estão formadas há mais tempo e qualificados, ficamos em um mesmo nível.
Vocês já fizeram mais de 10 contratações. Vai chegar um meia para substituir o D'Alessandro?
Na quarta, estreou o Felipe (Gutiérrez). O Danilo já está treinando. E o Pottker vai chegar após o paulista. O clube está sempre aberto. E estamos sempre pensando na qualificação da equipe.
Independente dos resultados no Gauchão e Copa do Brasil, o trabalho do Zago pode ser revisto para a Série B?
Não. O Zago é nosso treinador. Tem amplo e total apoio dos profissionais, presidência e conselho de gestão.
Você falou em esgotamento do caso Victor Ramos. O resultou chegou aonde o Inter queria, em limpar a imagem do clube?
A história do Inter é muito grande, rica e bonita. Não acho que tenha ficado manchado. Houve um mal posicionamento no ano passado. A melhor maneira de o Inter se recuperar é jogando futebol com as suas virtudes, capacidade de superação com dignidade. Quando assumimos, a questão Victor Ramos já estava em tramitação. O assunto foi esgotado porque, na esfera da justiça desportiva, fomos até última instância. Trazer isso para outro foro, além de aventureiro, não vai dar resultado algum. Segue a vida, vamos jogar bola e voltar para a Série A dentro de campo.
CBF acusou o Inter de falsificação. E será julgado o recurso.
Essa questão é um acessório do principal. Eu acho, suponho e espero que esse assunto tenha encerramento. Não existe mais o objetvo a ser discutido. Nem o fato de o Inter ter defendido o seu direito, não significa que o Inter esteja distanciado da CBF. Está tudo bem, esse episódio que está tramitando no STJD, vai ter o encerramento sem um dano ao Inter.
Já teve reuniões com clubes da Séria A e Série B. Como você sentiu o respeito ao Inter?
Continua com o mesmo respeito, grandeza. Tem uma série de clubes que passam por dificuldade, passam por experiências como a nossa. Mas temos de levantar e fazer desse episódio um passo importante para escrevermos a nossa história bonita.
Recentemente, houve uma polêmica envolvendo uma possível troca de Valdívia por Giovanni Augusto. A direção do Inter sempre foi muito discreta nas contratações deste ano.
Vamos continuar tendo a mesma postura e a nossa maneira de conduzir as coisas dentro do futebol. Eu não posso responder sobre o que os outros falam. Eu não sei o que acontece em São Paulo, para que dirigentes de clubes tão grande tenham esse ou aquele discurso. Sempre que termina a partida do Inter, eu chego em casa e assisto de novo. E acompanhamos os comentaristas. E o engraçado que todos diziam que o Inter ganhou muito com esse negócio, porque o Valdívia é muito melhor do que o Giovanni Augusto. E nunca fizemos esse movimento. Valdívia é uma joia do clube, passou por uma lesão séria. Quando ocorreu a lesão, ele poderia ser um dos protagonistas da seleção olímpica e, para um menino de 20 anos, isso é um baque muito grande. O gol que ele fez contra o Cruzeiro é importante para ele, para aumentar a sua autoestima. Vamos continuar tratando tudo da mesma maneira e ninguém tem que provar nada a ninguém, porque a gente não ofereceu ninguém.
Na segunda-feira, as contas da gestão Piffero vão ser avaliadas no Conselho Deliberativo. O que esperar?
Eu espero civilidade, discernimento, que apesar de opiniões contrárias, as coisas possam ser conduzidas de uma maneira tranquilas. O assunto é muito polêmico, profundo e até pela profundidade da matéria, há a possibilidade que ele não se encerre nessa reunião de segunda, podendo haver desdobramentos e questionamentos.
Algum momento você falou com o ex-presidente Vitorio Piffero?
Nos cumprimentamos na posse. Ele me desejou boa sorte. E nunca mais falei com o presidente Vitorio.
O torcedor ficou mais exigente por tudo que ganhou na história e pelo rebaixamento?
Eu acho que a torcida ficou muito machucada. Ela jamais imaginou passar por isso, e caiu. E tu não cai por um jogo, por um erro de arbitragem. Ficamos 14 jogos sem vencer e foi por uma série de desmandos: troca de treinador, falta de critério, grupo mal formado, falta de liderança e experiência. E os episódios com a imagem do clube, acentuou. Foi triste como o clube se pronunciou. No momento que troca de gestão, temos outra forma de atuar, atender o torcedor. O jogo de quarta, contra o Corinthians, tinha 37 mil pessoas. A nossa relação com a parceira do estádio (Brio) melhorou. Os espaços estavam melhor preenchidos. E queremos fazer do Beira-Rio onde vamos decidir a nossa volta à Séria A. E acho que essa nuvem começou a se dissipar. A dor começou a ser aliviada. Torcedor saiu do Beira-Rio (contra o Corinthians) mais seguro de como o time joga. Vai ajudando na autoestima, oxigenando.
O grupo do Inter também conseguiu oxigenar?
Com certeza, sim. Nós mudamos muito em relação ao grupo do ano passado. Chegaram 12 ou 13, mas saíram quase 20. Vimos, no início, que o abatimento era maior. Mas estamos trabalhando de uma maneira que eles possam se integrar, principalmente com os novos e o D'Alessandro, que tem uma liderança positiva muito grande.
Dos que foram rebaixados, o Ernando parece ter uma tatuagem mais profunda. Tem como recuperar esse jogador ou o destino é sair do Inter?
Não gosto de falar em individualidade. Principalmente, tentando culpar A ou B pela queda. É normal que o torcedor faça essa distinção, mas o dirigente não pode. Ernando está no grupo, tem qualidade. Está se recuperando, como outros jogadores que estavam no ano passado, estão focados
Paulão e Ernando então ficam para esta temporada?
Eles são atletas do Inter.
O Inter sobe?
O Inter sobe.
O que há de certo sobre a Andrade Gutiérrez querer vender a sua parte?
A AG é sócia da Brio. Para um negócio deste tamanho acontecer, tem todo um processo para ser realizado. Foi feito o melhor negócio da Copa do Mundo, da modernização do estádios. O Inter não tem nenhuma pendência. Esta manifestação não nos diz respeito. E, na nossa opinião, foi inadequada.
Não foi adiante isso?
Não. Pelo contrário. O que nós, do Inter, queremos: um Beira-Rio lotado. Não posso boicotar a parceira. Preciso trabalhar em conjunto para que as áreas dela e as nossas sejam ocupadas. Acho que quarta-feira pôde se visualizar que as áreas estavam bem preenchidas, e vamos trabalhar para isso contra o Caxias. Cabe mais gente ainda.
O fato de consagração de goleiros, como foi o Danilo Fernandes e foi o Lomba na quarta-feira, é a questão de um time não estar estruturado?
Eu acho que não. Futebol são 11. O centroavante tem uma das melhores médias de aproveitamento do ano no cenário nacional e não teve a felicidade de fazer gol, não quer dizer que nosso sistema ofensivo, não funcione. Todo mundo tem que jogar. E o goleiro também. O Marcelo tem trabalhado muito. O (Daniel, preparador de goleiros do Inter) Pavan faz um baita trabalho. E ele está aí para defender, faz parte.
Inter tem o Caxias e o Corinthians pela frente. O que esperar desses dois jogos?O futebol é resultado. Fizemos um excelente jogo contra o Corinthians. Eu ouvi que o treinador do Corinthians disse que foi a melhor partida do time na temporada. E a mídia local disse que foi a melhor apresentação do Inter. Foi um baita jogo, né? E temos a mesma condição de jogar da mesma maneira contra o Corinthians. Mas, desta vez, eles terão menos tempo de descanso. Jogam no domingo contra o São Paulo. E estou confiante na classificação e chegada à final do Gauchão.
O Inter vai ser heptacampeão gaúcho?
Nós queremos muito o hepta. Uma vez só na história fomos, em 1975, e eu estava lá. Lembro da escalação até hoje. Se conquistarmos esse título pela segunda vez, tenho certeza que daqui a 40 anos, jovens colorados lembrarão. Mas temos um desafio com um clube que tá muito bem montado, um ex atleta do Inter, que é o Luiz Carlos Winck. E vão ser dois jogos muito difíceis. Temos o maior respeito pelo Caxias, mas temos uma confiança no nosso grupo. E se conseguirmos superar o Caxias, vamos incomodar na final.
Quem o Inter quer de adversário para a final?
O Grêmio. Melhor coisa que tem é ganhar Gre-Nal. E se nós ganharmos esse Gauchão em cima deles, vai ter um sabor especial.
É muito cedo para falar em uma renovação do D'Alessandro?
É.
Tiveram tempo de pensar sobre o patrimônio do Inter? Tem algo em andamento?
Temos uma vice-presidência de Novos Negócios e essa questão envolvendo o entorno. Existe um projeto que não passou pelo Conselho. E vai ter uma comissão com pessoas que tenham experiência no assunto. O Inter precisa ter, neste projeto, a maior lucratividade possível. De concreto, não tem nada.
Não é para essa gestão então?
Esse ano temos de voltar para Série A. Estamos focados as nossas energias, tempo, dinheiro para voltar para Série A. É esse o foco do Internacional. Temos de entender que tem uma série de outros os assuntos.
Clube está dando um passo importante no futebol feminino. Há poucos dias, assinou contrato de imagem com as jogadoras do profissional, sub-17 e sub-15.
Apesar de sermos uma instituição privada, essas questões legais, o clube tem que ter um cuidado muito rígido do cumprimento. O futebol feminino transcende. Primeiro, que a mulher no âmbito do futebol, humaniza. Quando fizemos aquele jogo com homenagem à mulher, até o som do estádio mudou. O grito mudou. E foi uma festa. Então, o futebol feminino pode e será um atrativo para que o Inter aumente o número de mulheres em seu quadro social. E hoje temos o privilégio de ser o clube que tem o maior percentual de mulheres sócias em um clube de futebol. Queremos ampliar isso. Por outro lado, é o futebol propriamente dito como um departamento. E todo aquele processo de construção, de estruturação do departamento, principalmente a peneira que foi feita em Alvorada, foi muito legal. A quantidade de pessoas envolvidas e meninas com a esperança de jogar no Inter, mexe com a gente. Trazer de volta a Duda, que tem uma história no clube. Estamos muito feliz que isso está crescendo e vai crescer.
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