Alberto Guerra completa 10 meses como presidente do Grêmio no próximo 16. Uma gestão que tem como meta reestruturar o clube após as dificuldades dos últimos anos, dentro e fora de campo. Em cerca de uma hora de entrevista, Guerra fez um balanço das ações que a direção tomou para trazer mais de 53 mil novos associados. Um movimento que teve em Suárez, a principal contratação para a temporada, como pilar.
Apesar das enormes dificuldades financeiras, o título do campeonato gaúcho e ter alcançado a semifinal da Copa do Brasil no ano seguinte a disputa da Série B são motivos de confiança de que a estratégia de não vender jogadores nesta última janela de transferências ajudará na missão de manter a equipe competitiva para buscar, no mínimo, uma vaga direta à próxima Libertadores. Confira a entrevista abaixo.
Qual é a marca mais importante que sua gestão alcançou até agora?
A posse foi em 16 de novembro, são nove meses para 10. Parece que estou aqui faz uma eternidade, mas é pouco tempo do ponto de vista empresarial. Se pedem de dois a três anos quando se tem um novo processo em administração ou marketing. Mas no futebol, não temos esse tempo. Apesar deste pouco tempo, vejo que fizemos muitas coisas. Sei que tem muito a ser feito. Temos campo para crescer bastante. O principal, e que muito nos orgulha, é o resgate da confiança do torcedor no clube. São quase 53 mil novos sócios em dia. São 114 mil sócios em dia. Isso é a base principal de tudo para todas as mudanças que estamos implementando.
Qual é o seu diagnóstico até o momento da gestão. Está mais fácil ou mais difícil do que imaginava?
É difícil. Minha chegada se deu muito fortemente pelas minhas passagens no futebol. Temos muito em mente essas questões, mas aqui dentro vemos a complexidade que é uma empresa do tamanho do Grêmio. Somos quase 10 milhões de torcedores, todos proprietários e donos do clube, com opiniões diferentes. Do ponto de vista do futebol, acho que estou contente pela retomada de onde saímos para até onde chegamos. Não é o suficiente, sempre queremos os títulos, mas é quase impensável o que conseguimos. Temos muitas frentes para combater ainda, cada uma com um grau diferente de dificuldade. Não imaginava isso, mas o futebol, hoje, não é a área que ocupa mais meu tempo. Até gostaria que fosse.
Não imaginava isso, mas o futebol, hoje, não é a área que ocupa mais meu tempo. Até gostaria que fosse.
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Entre os clubes que estão no G-6, o Grêmio é o único que não é SAF ou que está em boa situação financeira. E com técnico brasileiro. A presença do Renato é algo fundamental para os resultados?
Mas também somos um dos maiores clubes do país, somos o maior da Região Sul. Não é a primeira vez que nos recuperamos de uma situação bem ruim e na outra temporada dá um salto. Acredito na qualidade das pessoas, independentemente da nacionalidade. O Renato sempre mostrou qualidade e entregou mais do que se exigia. Acredito na competência dele, do clube e na força da nossa torcida. Abraçaram a ideia. Se não fossem eles, não sairíamos dessa situação.
A Arena Porto-Alegrense tem repetido problemas na operação. Qual o diagnóstico da origem desses problemas?
Essa dificuldade não é de hoje. Vem desde o dia 1 . Estamos no ano 11 dessa parceria. Esse ano melhorou o tratamento com o associado do clube. Tivemos o anúncio do Suárez no dia 31 de dezembro, tinham dado férias aos colaboradores, e recebemos 40 mil pessoas no dia 4 de janeiro. Mas também aconteceram eventos problemas, como o jogo contra o Flamengo e nesse último jogo contra o Cuiabá. A gente tem se reunido semanalmente e conversamos diariamente. Nem tudo conseguimos implementar. Nosso limite é o contrato. Houve melhoras significativas. Consideramos que ainda está abaixo do que gostaríamos que fosse dado ao torcedor, mas reconhecemos o esforço da Arena. Melhorou comparado aos anos anteriores. E falo isso como torcedor que vinha ao estádio.
Como o senhor avalia o serviço para o torcedor na Arena?
Depende do jogo. Como no caso do Cuiabá, embora ache que tenha ocorrido falhas na operação, teve problemas no trânsito. O que foge do controle da Arena, como também situações do clima com chuvas e alagamentos. Tem jogos que é ok, alguns abaixo da crítica e outros que são como a operação deveria ser sempre. É obrigação nossa prestar um bom serviço ao nosso torcedor. Poderia falar de outras questões, como o gramado. O gramado deste ano é o melhor que tivemos nos últimos anos, mas ainda está abaixo daquilo que um time do tamanho do Grêmio deveria exigir.
O que é feito para o gramado estar melhor?
A cada seis meses, o gramado é trocado para a grama da estação. O que podemos falar é a dificuldade de arrumar. Quando tem um problema, para retirar e colocar novamente, leva um mês. E o Grêmio não tem um mês. Houve uma explicação técnica na colocação de parte da última troca. Foi em parte do campo. No jogo contra o Bahia, ficou visível. Acontece, foi dado a explicação e entendemos. Quem estava acostumado com a grama do Olímpico e do CT, o gramado da Arena ainda tem uma distância.
Hoje em dia (a compra da gesytão da Arena) até foge de Grêmio e Arena Porto-Alegrense. Agora tem outros partícipes. A prefeitura com o Olímpico, os bancos credores e outros fundos interessados. A condição pós-Lava Jato e a recuperação judicial. São muitas pontas para serem acertadas
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Qual é sua posição sobre a compra da gestão do Grêmio?
Obviamente, é um tema sempre na mesa. Mas tem um contrato assinado em vigor. Somos cumpridores de contrato. Pegamos nessa condição e nos cabe cumprir o vínculo. Nos reunimos com eles semanalmente. A questão da aquisição da gestão sempre está na mesa, pode ser que aconteça. Depende do interesse das partes. Hoje em dia até foge de Grêmio e Arena Porto-Alegrense. Agora tem outros partícipes. A prefeitura com o Olímpico, os bancos credores e outros fundos interessados. A condição pós-Lava Jato e a recuperação judicial. São muitas pontas para serem acertadas. O assunto Arena é o que mais ocupa tempo da gestão. Temos dois vice-presidente do CA (Conselho de Administração) em tempo integral neste assunto. O que posso dizer é isso. Fazemos o que podemos.
A questão do leilão influencia?
Aconteceu a penhora, mas até que se nomeie um avaliador essa discussão pode levar quatro ou cinco anos. Quando se apresentar um laudo, mais quatro ou cinco anos. Não é algo que acontecerá nessa gestão ou na próxima da Arena ir a leilão. É um caminho longo, não acredito que aconteça.
Mas a posição da gestão. Será buscado ativamente a compra da gestão do estádio?
O que posso dizer publicamente é que a questão Arena é tão prioridade quanto o futebol. Estamos trabalhando em busca do melhor para o nosso torcedor. Queremos resolver esse problemas de uma maneira ou de outra. Tudo isso passa pelo atendimento ao nosso torcedor. Se tivéssemos um serviço melhor, ninguém estaria questionado a compra ou não. Estamos buscando uma solução, seja ela qual for.
A questão Libra e a Liga Forte virou quase um Gre-Nal. Essa movimentação está mais próxima de trazer benefícios aos clubes?
A formação de uma liga de 40 clubes ficou adiada. Hoje, temos blocos de negociação. A Libra, a Liga Forte e o movimento União. O que posso dizer da parte do Grêmio é que não temos nos reunido apenas entre nós, mas também com empresas compradoras dos direitos de transmissão, tratando das questões dos times da Libra. Temos mais ou menos, em termos de torcida e audiência, cerca de 75% do Brasil. Estamos trabalhando fortemente. São discussões diárias para colocar o produto na rua para 2025. Precisa ser vendido o quanto antes. É algo que será resolvido muito em breve.
A liga de clubes surgirá em qual momento?
A ideia que a liga seja retomada depois. Os direitos de transmissão são apenas um dos ativos que poderíamos ter. Eu, praticamente, acredito que assim poderíamos explorar muito melhor outras fontes de receitas. Isso tudo necessita de uma discussão maior. Precisa de mais tempo para formação. Acredito que a liga poderá ser formada. Ainda acho ela viável, mas será em um momento posterior. Se suspendeu isso por ainda envolver mais um ou dois anos de trabalho.
Sabendo das condições financeiras do Grêmio, qual a importância dessa receita da venda dos direitos?
As três maiores fontes de receita de um clube de futebol são direitos de transmissão, venda de jogadores e o quadro social. O que está na nossa mão, e que pudemos trabalhar, foi o quadro social. E mais do que duplicamos essa receita. Se dividirmos por ano, pode nos colocar em superávit. O contrato antigo que o Grêmio fez, um vínculo de oito nos, com luvas por esse período, proporcionalmente naquela época, era um valor muito alto. Colocou o clube em outro patamar. Os direitos podem ser comercializados por três ou cinco anos. Será proporcional ao período negociado. É melhor passar um sufoco agora e negociar por só três anos, e depois se negocie novamente por uma valor maior. Uma das discussões hoje na Libra é o tempo do contrato. Entendemos que três anos é o ideal. As compradoras entendem que seria um período de cinco. Será um valor bem significativo para o clube.
Não liquidamos os ativos para mostrar números melhores, com um futebol pior e sem objetivos alcançados. Esse é o cobertor curto de todo clube de futebol. Apostamos que a gente vai alcançar os resultados e depois fazer melhores vendas, com outras competições e mais premiações. Aí melhorará os números.
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Hoje, a situação financeira do Grêmio está equalizada ou ainda é um processo que levará tempo?
Ainda levará algum tempo. estamos em situação delicada, mas controlada. Optamos por essa estratégia. Poderíamos ter chegado com a conta zerada. Temos ofertas, mas baixas. Se tivéssemos aceitado, talvez não estivéssemos em terceiro lugar. Estamos segurando nossos ativos para os valorizar um pouco mais e os vender com um preço melhor lá na frente. E também chegaremos melhor no Brasileirão, que nos garante uma premiação alta e a vaga na Libertadores. Essa é a nossa estratégia no momento, mesmo sabendo que os números são delicados. Não liquidamos os ativos para mostrar números melhores, com um futebol pior e sem objetivos alcançados. Esse é o cobertor curto de todo clube de futebol. Apostamos que a gente vai alcançar os resultados e depois fazer melhores vendas, com outras competições e mais premiações. Aí melhorará os números.
Com a questão da saída do Suárez resolvida para 2024, como se substitui um jogador deste tamanho?
Estou mais preocupado com o Brasileirão agora do que lá na frente. Mas se dissesse que não estamos pensando no time do ano que vem, estaria mentindo. Na régua entre 0 e 100, estou em 80 neste ano e 20 em 2024. O Suárez é insubstituível. Sabemos da repercussão que foi a contratação. Querer substituir alguém insubstituível não é nosso objetivo. Temos que repor um jogador que dentro de campo deu reposta positiva. Se pudermos associar um nome que entregue em campo e que também tenha apelo de marketing, vamos correr atrás. A nossa ação nele não morre. Talvez não seja sair um e entrar outro. Tem a ver com oportunidade de mercado. Mas entendemos a lição, que foi melhor do que esperávamos, de ter um jogador desse tamanho. Estamos atentos. Não é no dia seguinte que sai um e entra outro do mesmo tamanho. Queremos primeiro a resposta desportiva, como o Suárez entregou. Teve outros casos de grandes jogadores contratados e não deu certo. E aí tem o problema desportivo e o de fora de campo.
É possível manter o grau de acerto das contratações deste ano para o futuro?
Trabalhamos para isso. Procuramos minimizar os erros. Tenho uma preocupação grande com os números que temos para gastar. E tudo é questão de custo-benefício. Quanto pagamos e quanto nos entregam. Nesse cenário, diria que não erramos em ninguém. Especialmente o Brum (Antônio, vice de futebol) trabalha para isso. Ele é obcecado em analisar jogadores. Faz um filtro, e ele esteve por trás da maioria das contratações. Ele tem um viés muito de associar a parte técnica com a questão fora de campo. Nessa contratações também teve o CDD ( Centro de Digital de Dados) do Grêmio, a participação do Luís Vagner (executivo) e a comissão técnica. Quando passa por todos esses setores, a chance de errar é menor.
Pelas mudanças que o Renato tem feito neste ano, com os planos A, B ou C, os resultados abrem o caminho para a permanência dele?
É a terceira vez que trabalho com ele. Foram todas muitos parecidas. Em 2010, 13 anos atrás, vieram Paulão, Gilson, Diego Clementino e Gilson. Todos deram resposta e ajudaram. O que mudou de lá para cá é que ficamos mais experientes. Aprendemos com as situações. Em 2018, conversávamos e víamos dois ou três esquemas em um mesmo jogo. Todas as vezes que ele veio para o Grêmio, entregou mais do que o esperado. É um grande treinador, um cara identificado com o clube. Um catalisador da nossa torcida. Grêmio e Renato tem tudo sempre para dar certo. Não vejo como pensar o contrário.
Todas as vezes que ele (Renato) veio para o Grêmio, entregou mais do que o esperado. É um grande treinador, um cara identificado com o clube. Um catalisador da nossa torcida. Grêmio e Renato tem tudo sempre para dar certo
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
A ideia então é manter o Renato para ano que vem?
Estamos no meio do Brasileirão. Tem muita coisa pela frente. Nem se pensa nisso, mas também não se pensa em fim de relacionamento. Nosso foco está no próximo jogo. E aí alcançar o objetivo, que é , no mínimo, a vaga direta na Libertadores.
Dá para acreditar que o Grêmio ainda pode conquistar o título? Ou pelo contexto do clube ter vindo da Série B uma vaga direta à Libertadores seria um grande feito?
Se pensar com o chapéu de presidente, quando preciso ser mais racional e menos emocional, ficaria contente com a vaga. Mas como torcedor, e já vimos grandes arrancadas, enquanto tiver chances matemáticas, vamos lutar. Não tem nenhum jogo no Brasileirão que dá para dizer que não temos condições de vencer. Se vencermos o próximo, nos habilitamos para o seguinte. A questão se abre, dependendo dos resultados paralelos. Ganhar do Bragantino nos permite sonhar mais.
Uma participação na Libertadores permite investir mais ou seria necessário manter?
A circunstância determina isso. Precisamos melhorar os números. Depende se vamos vender alguém, ainda não fizemos nenhuma negociação significativa. Alguma coisa teríamos que investir a mais para a Libertadores. Sempre entramos para ganhar. Mas hoje temos que ter os pés no chão.
Bruno Henrique está no radar do Grêmio?
Posso dizer que é um grande jogador, mas que não tem absolutamente nada conosco. Não procuramos ou conversamos. Tem contrato com o Flamengo. É um grandessíssimo jogador. Mas que por enquanto não tem nada. Nem sondagem.
O que falta para esse primeiro ano de gestão?
Sempre fui muito responsável com os números. Gostaria de dar uma equalizada na situação financeira até o final do ano, mas sem abandonar o futebol. Poderia ter feito isso, atrapalhando a qualidade do futebol. É um trabalho de toda a gestão neste ano de reconstrução para enfrentar esses problemas para termos uma capacidade melhor de investimento no futebol no ano que vem.
Nenhum clube, mesmo o Flamengo, sobrevive sem a venda de jogadores. Desde criança, ouço isso dos dirigentes. Não é diferente agora
ALBERTO GUERRA
Presidente do Grêmio
Quanto o Grêmio precisa arrecadar para fechar o ano sem déficit?
São os R$ 96 milhões já mostrados. Esse é o tamanho do endividamento do clube neste ano.
Para resolver isso precisa vender?
Precisa. São aquelas três fontes de receitas grandes. Nenhum clube, mesmo o Flamengo, sobrevive sem a venda de jogadores. Desde criança, ouço isso dos dirigentes. Não é diferente agora. O ideal, e esse é um sonho, é encaixar as despesas com as receitas ordinárias e não depender isso. Mas o fato é que atualmente todos os clubes precisam vender para equilibrar as contas.
É preciso que aconteça alguma saída ainda nesta janela europeia?
Tudo pode acontecer. Basta chegar uma proposta boa. As que chegaram, entendemos que não valorizaram nossos jogadores.
*Colaborou Bruno Flores
Nenhum clube, mesmo o Flamengo, sobrevive sem a venda de jogadores. Desde criança, ouço isso dos dirigentes. Não é diferente agora