A Justiça Federal do Rio Grande do Sul determinou o arquivamento de inquérito da Operação Lava-Jato que investigava há nove anos o ex-vice-presidente do Grêmio, Eduardo Antonini, 52 anos, por suposta lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a investigação não encontrou qualquer indício de que o ex-dirigente tenha recebido valores de forma ilícita.
Antonini foi alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal em sua residência no dia 17 de março de 2014, na primeira fase da Operação Lava-Jato. A suspeita era a de que o ex-dirigente teria recebido R$ 500 mil da empreiteira OAS, responsável pela construção do estádio tricolor, por intermédio do doleiro Alberto Youssef. Contudo, após a investigação, em dezembro passado, nenhuma quantia foi encontrada, e Antonini não chegou a ser indiciado.
— Sempre pautei minha vida pela mais absoluta correção nos meus atos. Essa investigação durou bastante tempo, um período bastante longo e sofrido, mas serviu para que não reste qualquer dúvida sobre a minha integridade, ainda mais que tive todos os meus sigilos quebrados: bancârio, telefônico, celular e e-mails. Nunca utilizei qualquer instrumento jurídico para tentar atrapalhar ou reduzir a investigação, pois sempre quis que não restasse qualquer dúvida sobre a minha inocência — declarou Antonini a GZH.
Engenheiro concursado do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª região, onde trabalha hoje, Antonini foi vice-presidente do Conselho de Administração do Grêmio nas duas últimas gestões do presidente Paulo Odone, em 2005/2008 e 2011/2012. Em ambas, foi o principal responsável pelo projeto de construção da Arena do Grêmio, inaugurada em 2012. Entre 2011 e 2013, o dirigente foi ainda presidente da Grêmio Empreendimentos, empresa criada para gerir o relacionamento entre o clube e a construtora OAS.
Nesta função, Antonini mantinha contatos frequentes com executivos da empreiteira responsável pela obra. Em um dos documentos apreendidos na operação constava o endereço do ex-vice-presidente gremista, o que levou a Polícia Federal a investigar a possibilidade de que o ex-dirigente tivesse recebido valores da construtora por intermédio de Alberto Youssef. Contudo, após incriminar dezenas de políticos e executivos, o doleiro declarou que sequer conhecia Antonini. A investigação também não encontrou indícios de prática ilícita do ex-dirigente nos demais depoimentos e documentos analisados.
— Essa investigação ocorreu em 2014, quando eu já não fazia mais parte da diretoria do Grêmio e muito tempo após a conclusão das obras da Arena. Mesmo assim, como o sigilo foi quebrado de forma retroativa a cinco anos antes do início das investigações, toda minha atuação frente à Arena esteve à disposição da investigação. Em um projeto de quase R$ 1 bilhão, nada de ilícito foi encontrado — declara o ex-dirigente.
Antonini lamenta o prejuízo que a investigação causou à sua vida pessoal:
— É até difícil explicar a dimensão de uma coisa dessa magnitude, ainda mais quando se tem família e filhos pequenos. Na prática, foi como se tivesse sido julgado, condenado e cumprido pena de quase nove anos, tanto na vida pessoal quanto profissional, até que tudo isso acabasse. Lamento que muitas pessoas não tenham me concedido o benefício da dúvida.
Entenda o caso:
17/3/2014
Na primeira fase da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal prende o doleiro Alberto Youssef, além de outras 16 pessoas. Na mesma fase, a PF executa mandado de busca e apreensão na residência de Eduardo Antonini em busca por provas de que o ex-dirigente teria recebido R$ 500 mil da OAS, por intermédio do doleiro Alberto Youssef. Nada é encontrado.
26/6/2015
O Ministério Público Federal solicita à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar o suposto recebimento de R$ 500 mil por Antonini. O inquérito é aberto.
16/12/2022
A pedido do Ministério Público, a Justiça Federal arquiva o inquérito sem indiciamentos por ausência de indícios que justificassem o oferecimento de uma denúncia.