Caso que havia permanecido em segundo plano até então nas investigações da Operação Lava-Jato, o suposto recebimento de R$ 500 mil pelo ex-presidente da Grêmio Empreendimentos Eduardo Antonini se tornou alvo de apuração oficial das autoridades. O Ministério Público Federal enviou na sexta-feira requisição à Polícia Federal para que um inquérito seja aberto a fim de apurar o pagamento a Antonini, além de outras duas remessas de dinheiro que chegaram ao Estado.
Antes da deflagração da 1ª fase da Lava-Jato, em março de 2014, a PF fez escutas telefônicas e descobriu que o doleiro Alberto Youssef mandou um de seus mensageiros entregar R$ 500 mil na casa de Antonini, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. Ao providenciar a entrega, Youssef cumpria uma determinação da OAS, remetente do dinheiro e responsável pela construção da Arena do Grêmio, que teve Antonini como um dos seus principais gerentes. Mais tarde, já preso, Youssef confirmou, em delação premiada, que um de seus funcionários fez a entrega do dinheiro em Porto Alegre, na residência do executivo.
Outras duas remessas de dinheiro teriam chegado ao Estado, uma delas em Canoas e outra em escritório da OAS localizado dentro da Arena do Grêmio. Ainda é considerado obscuro o motivo de Antonini supostamente ter sido beneficiado com os R$ 500 mil.
Ainda na 1ª fase da Lava-Jato, buscas foram feitas na casa do dirigente. Mas, com o crescente envolvimento de executivos da Petrobras, grandes empreiteiras e políticos no esquema, o episódio foi ficando para trás. Na força-tarefa do Ministério Público Federal, há acordo entre os procuradores de que a apuração sobre Antonini precisa ser retomada. Em decorrência desse entendimento, eles já enviaram o pedido de abertura de inquérito específico.
- É uma quantia grande, envolve uma pessoa conhecida, e o fato tem de ser esclarecido. Além de ele ter sido presidente da Grêmio Empreendimentos, também é servidor publico (Antonini é do Tribunal Regional do Trabalho). Se alguém recebe R$ 500 mil, não dá simplesmente para deixar por isso mesmo - diz o procurador Antônio Carlos Welter, da força-tarefa da operação Lava-Jato.
Embora a Andrade Gutierrez, responsável pela reforma do Beira-Rio, esteja implicada nas investigaçãoes da Lava-Jato, com dirigentes e o seu presidente presos, a obra no estádio do Inter, no momento, não é alvo de nenhum procedimento.
As garantias do acordo entre Andrade Gutierrez e BNDES para a reforma do Beira-Rio
- A investigação não é motivada por estádios. O que motiva é a relação com Alberto Youssef e o pagamento de propina em contratos da Petrobras. Se surgirem fatos sobre estádios, poderemos ter desmembramento de inquérito, para investigar em separado - explicou o delegado Luciano Flores de Lima, da força-tarefa da PF.
É justamente a suposta ligação com Youssef que leva Antonini a ser alvo de apuração. O inquérito tentará elucidar os pagamentos feitos no Estado, e não a obra que ergueu o estádio gremista.
O que diz Eduardo Antonini:
- Não tenho como fazer contraponto sobre algo que desconheço. Houve investigação ano passado, fizeram buscas na minha casa e não encontraram nada, prestei esclarecimentos e apresentei documentação. O resultado disso é que não houve nenhum indiciamento. Enquanto diversas outras pessoas estão presas, comigo não houve nada. Nunca vi esse cidadão (Alberto Youssef) na minha vida. A única coisa que tinham era o meu endereço em uma tabela. Durante algum tempo trabalhei com consultoria no futebol, não com a OAS. Aí eu tive contato com empresários, fundos de investimento. Até falei no depoimento que é compreensível que exista meu endereço daqui a pouco na lista de um investidor. Fiquei muito desgastado com essa situação.