Tinha tudo para dar errado. Chovia a cântaros. A bateria do celular estava por terminar. O relógio apontava que estavam atrasados. Mesmo assim, Brunno de Souza e o filho Matheus saíram de casa, em Canoas, munidos de um guarda-chuva para os dois. Pegaram o Trensurb e foram tentar a sorte no CT Luiz Carvalho. Contra todas as probabilidades, ela sorriu para os dois na tarde de quinta-feira (14).
O alvo era Walter Kannemann. Para chamar atenção do zagueiro do Grêmio, confeccionaram um cartaz pedindo ao presidente Romildo Bolzan Júnior para renovar o contrato do zagueiro argentino, que se encerra no fim do ano. Como medida para aumentar as chances de êxito, Brunno se vestiu de Homem-Aranha, fantasia utilizada nos tempos bicudos em que se paramentava para vender balas de gomas pelas ruas. O "super-herói" era oferecido como moeda de troca para a permanência do campeão da Libertadores de 2017.
Quando chegaram ao Centro de Treinamentos, a maioria dos jogadores já tinha passado para a parte interna. A salvação foi o retardatário Edilson. A cena fisgou o interesse do lateral. Ele sacou o celular, fotografou pai e filho e disse que mostraria a imagem para o companheiro de defesa. Enquanto esperava, a dupla se espremia para se proteger dos incontáveis pingos que caiam do céu.
— O segurança avisou que o Kannemann estava vindo. Ele passou reto, mas não muito rápido. Achei que não ia parar, mas parou e desceu. Aí já esbarrei no choro — relata Matheus, de 10 anos.
Nas mãos, o argentino tinha uma camisa comemorativa para dar para o pequeno torcedor. Ainda pediu desculpas por não ter uma de jogo para presentear o garoto, pois tem ficado de fora das últimas partidas. Com a morte da bateria do celular de Brunno, as fotos foram tiradas com o aparelho do jogador. Depois de mais uma gentileza, era hora de se despedir enquanto o mundo desabava na zona norte de Porto Alegre.
— Ele perguntou como íamos embora. Fiquei sem bateria para chamar um aplicativo e disse que iríamos até o Trensurb. Ele disse que nos daria uma carona — conta Bruno, auxiliar de pista do Aeroporto Salgado Filho.
Além de evitarem ficar encharcados, pai e filho ganharam um motorista de luxo. No trajeto, conversaram bastante sobre o Grêmio, sobre a lesão sofrida por Kannemann e sobre o futuro. Tão felizes quanto com a carona e o mimo recebido, a dupla ficou com as informações de que as conversas do zagueiro com o clube sobre a renovação estão caminhando para um bom rumo — e sem a necessidade de fazer a trocar com o Homem-Aranha.
— Quando entrei no carro foi um sonho. O Kannemann foi na maior humildade — revela Matheus. — Foi gente fina para caramba. Mandou muito bem de Uber, mas ainda é melhor como zagueiro — emendou o pai.
Quem não quis desafiar a sorte foi Eduardo, irmão mais velho de Matheus. O adolescente de 15 anos preferiu driblar a chuva e ficar em casa. Desde então, as brincadeiras em casa são monotemáticas. Para compensar a frustração de Eduardo, se tudo der certo, o trio estará na Arena para ver a partida contra o Tombense. Tudo o que querem é serem no sábado (16) tão afortunados quanto na quinta-feira.