Marianna Rodrigues, torcedora do Grêmio, vai a estádios desde os nove anos. É apaixonada por futebol, mesmo que o ambiente da arquibancada esteja longe de ser 100% agradável. Ao levantar a bandeira da diversidade, percebe manifestações de preconceito, o que a deixa até insegura algumas vezes. Neste Dia Internacional do Orgulho LGBT+, a psicóloga de 28 anos acredita e luta por mudanças rumo à inclusão, especialmente porque percebe com frequência manifestações de discriminação:
— Arquibancada sempre foi um lugar bastante hostil para qualquer expressão de gênero ou sexualidade “desviante”. É ruim ouvir o estádio inteiro cantando músicas que são contra aquilo que tu é, ou que uma pessoa do teu lado é.
Marianna afirma que a paixão pelo futebol acaba levando os torcedores a se vincular aos clubes – é identificada da Tribuna 77, que é reconhecida por ser uma organizada que levanta bandeiras pró-diversidade. Mas que do ponto de vista ético, é uma relação complicada, já que o futebol, na sua visão, ainda é um espaço repleto de preconceitos.
— A gente deixa de ser aquele torcedor que faz tudo pelo time e passa a ser cada vez mais crítico. E hoje minha relação como Grêmio é essa: historicamente apaixonada, mas que quanto menos o clube se posiciona, mais distante fica minha relação.
Embora faça ressalvas, Marianna elogia as iniciativas gremistas. Em 2019, o Tricolor criou o projeto Clube de Todos, visando o combate ao preconceito, valorizando a diversidade e a inclusão. É por meio deste núcleo que o Grêmio pensa em ações para conscientização dos torcedores. O conselheiro deliberativo Alexandre Bugin acredita que estes movimentos ajudam a transformar o futebol brasileiro em um ambiente mais acolhedor e inclusivo como um todo.
O Grêmio faz campanhas dentro e fora do estádio para valorizar a ideia das pessoas LGBT+ tenham mais espaço. Além das ações publicitárias, o Conselho Deliberativo nomeou uma comissão para trabalhar o tema.
Segundo Bugin, está por ser aprovada uma pré-proposta de alteração do estatuto do clube, incluindo um capítulo que trata sobre o combate ao preconceito e à discriminação.
— Estamos querendo deixar muito claro que somos um clube inclusivo, que precisa ter um combate permanente nessa questão da diversidade.
Marianna ressalta que as celebrações em datas comemorativas e as publicidades pró-diversidade são relevantes para a comunidade, mas ainda insuficientes. Segundo ela, poderiam ser organizadas ações para fortalecer e estimular os torcedores a irem ao estádio e levantar suas bandeiras, construindo um lugar sem constrangimentos.
— É possível torcer sem violência racista, misógina, transfóbica. Mas isto ainda não acontece nos estádios. Sonho que o futebol seja um espaço de lazer completo pra gente, não um lugar que a gente precisa se proteger tanto para poder torcer.
Dados no Brasil e no futebol
Conforme o Observatório de Mortes e Violência contra LGBT+, em 2021 foram registradas 316 mortes violentas contra este grupo de pessoas, sendo 285 casos de assassinato, 26 suicídios e cinco relacionados a outras causas. Mesmo com a publicação oficial dessas informações, a instituição reforça que os números devem ser bem maiores, por falta de dados oficiais.
Estamos querendo deixar muito claro que somos um clube inclusivo, que precisa ter um combate permanente nessa questão da diversidade.
ALEXANDRE BUGIN
Conselheiro gremista ligado ao projeto Clube de Todos
Pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou os dados de pessoas de 18 anos ou mais que se declaram lésbicas, gays ou bissexuais: são 1,8 milhões no Brasil e 171 mil pessoas no Rio Grande do Sul. Ao se tratar desses casos no futebol, os números são quase inexistentes.
No Brasil, não há jogador em atividade que tenha se declarado pertencente à comunidade LGBT+. No entanto, no dia 24 de junho, Richarlyson, ex-jogador conhecido pela sua passagem no São Paulo e Seleção Brasileira, em entrevista podcast do Globo Esporte, declarou ser bissexual, anos depois de pendurar as chuteiras. Ele é o primeiro jogador que atuou na Série A do Campeonato Brasileiro a falar abertamente sobre sua sexualidade.