Trinta e três anos depois, o Grêmio tem a chance de repetir a história de recuperação escrita pelo goleiro Mazaropi e seus companheiros para confirmar o título gaúcho. Como em 1989, a vitória do Estadual seria o penta. E depois de meses em que o torcedor sofreu com o rebaixamento, a saída das grandes contratações do ano passado, a histórica eliminação na primeira fase da Copa do Brasil e também um início de Gauchão sob desconfiança.
As semelhanças entre 2022 e 1989, a última vez que o Grêmio conquistou o penta e a atual oportunidade de repetir, ficam mais nas ações de ajustes de rumo. Como aconteceu nos anos 1980, o clube também reagiu no Gauchão com a mudança do comando da comissão técnica.
O ponto de virada veio em uma decisão antecipada. Na última rodada do segundo turno, o Grêmio precisaria de uma vitória sobre o Glória para avançar. Se não conseguisse o resultado contra o líder invicto como mandante e time de melhor campanha geral da competição, teria de enfrentar o octogonal da morte após quatro títulos consecutivos de Gauchão. Uma disputa entre as equipes de pior rendimento para determinar quais cairiam para a segunda divisão. Com gols de Almir e Edinho, em cobrança de pênalti, o Grêmio conseguiu vencer a decisão em Vacaria e seguiu com chances de título.
— Aquela partida contra o Glória mudou tudo. Foi o resultado que nos deu um outro ânimo. E uma expectativa de que seria possível a conquista do penta. A pressão era muito grande, o momento era difícil, Os jogos do Interior eram muito complicados. Foi o divisor de águas. O rendimento não era suficiente, estávamos muito pressionados. A pressão aumentava a cada jogo. Até a chegada do trio de reforços, o jogo em Vacaria para uma partida de vida ou morte — lembra Mazaropi, um dos personagens da campanha, acompanhado por Luís Eduardo, ex-zagueiro da equipe e atual técnico do time sub-20 gremista:
— Na noite da véspera do jogo contra o Glória, nos reunimos e entre jogadores e comissão técnica demos um basta no que vinha acontecendo. E depois dali conseguimos sair daquela situação.
O ponta esquerda Paulo Egídio, um dos reforços para aquela temporada, lembra da dificuldade de lidar com as cobranças dos torcedores. A contratação de Cláudio Duarte para assumir a equipe, além da chegada de três reforços de peso: Edinho, zagueiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, o lateral-esquerdo Hélcio do Guarani e o volante Jandir também do Flu:
— Pressão existe sempre em um time do tamanho do Grêmio. O torcedor estava desconfiado, mas demos a volta por cima.
Nos 13 jogos seguintes após a vitória sobre o Glória, o Grêmio não perdeu mais. E o título veio em um clássico, na última rodada do hexagonal final. Uma conquista confirmada em um Gre-Nal histórico, o encontro de número 300 entre os rivais. E com um personagem que estampou a capa de Zero Hora no dia do clássico: Mazaropi. Com a manchete "O carisma de Mazaropi", a foto da página da edição de 18 de junho de 1989 trazia o goleiro abraçado com o filho Marcos Vinícius.
Após o empate em 0 a 0 no tempo normal no Olímpico. a confirmação do penta aconteceu na disputa por pênaltis. O goleiro gremista defendeu duas cobranças e terminou a tarde como herói da conquista do quinto título gaúcho de forma consecutiva sobre o rival. E após o Inter ter vencido os quatro campeonatos anteriores.
— Foi um jogo feio. Mas a gente foi feliz no final. É difícil até de descrever. Foi um dos momentos mais gostosos da minha carreira. Fui uma contratação contestada, voltei de Portugal machucado e fiz minha cirurgia aqui. Meu segundo Gre-Nal e já saí com um título — lembra Paulo Egídio.
O Grêmio de 2022, com o torcedor machucado pelo rebaixamento e a dificuldade de apresentar um futebol convincente no início do Gauchão, se encontrava em situação parecida. A direção trocou a comissão técnica, com o retorno de Roger Machado no lugar de Vagner Mancini, e viu o novo técnico encontrar soluções que estavam no grupo de jogadores à disposição desde o início da competição encontrarem lugar no time. Rodrigues, Villasanti, Lucas Silva e Campaz foram algumas das mudanças promovidas por Roger, que deram suporte para a equipe recuperar a competitividade.
— É um título, importante, mas também significaria que essa conquista gere um ambiente de confiança para a Série B. A vitória é importante, aconteceria apenas pela quarta vez na história centenária do clube. É um marco da reformulação do time — citou o presidente Romildo Bolzan.
Como também se apresentou a partida entre Grêmio e Ypiranga na fase de grupos, quando o resultado da partida definiria o caminho gremista para a decisão do campeonato. A vitória sobre a equipe com melhor campanha geral colocou o Gre-Nal na semifinal. Na primeira partidas das finais, reencontro com o Ypiranga. Mas desta vez em Erechim, onde o time do técnico Luizinho Vieira acumulava sete vitórias em sete partidas. Com o gol de Lucas Silva nos acréscimos, o Grêmio quebrou a sequência e construiu a vantagem para o jogo de amanhã na Arena depois de um início de ano cheio de turbulências.
— Para o Grêmio, nada é fácil — resumiu Luís Eduardo.
A história está ao alcance de Roger Machado e seus comandados. Basta confirmar a vantagem de jogar até pelo empate neste sábado para confirmar a conquista do Gauchão.