De "jogador dos sonhos" do ex-craque e atual jornalista Tostão, Jean Pyerre passou a peça afastada pelo Grêmio em apenas um ano. Dias antes da confirmação do rebaixamento, no fim de 2021, o meia de 23 anos e mais seis jogadores foram comunicados que não fariam mais parte do grupo de Vagner Mancini. GZH conta como uma das grandes promessas das categorias de base espera por liberação para se transferir à Turquia em busca de sequência na carreira. Uma história de altos e baixos em quatro anos de relação, desde sua estreia como profissional.
Menino de personalidade forte, chamou atenção da torcida tanto pelos lances em campo como por sua atividade fora dos gramados. As brincadeiras, no entanto, ficavam do lado de fora do CT Luiz Carvalho. Duda Kroeff, Paulo Luz, Marcos Herrmann e Denis Abrahão, todos os vices de futebol com quem Jean conviveu no Grêmio, negaram episódios de indisciplina no clube.
— Nenhum. É um menino muito querido, mas precisa jogar. Precisa tomar novos ares — disse Abrahão.
Dono de passe certeiro e chutes precisos, Jean Pyerre era o símbolo de uma nova geração da base. Hoje, é alvo de críticas. Teve em Maicon seu grande defensor – era ele quem tinha a ingrata tarefa de marcar o menino esguio nos treinos do profissional contra o time sub-20. Com o apoio do capitão, acabou promovido ao grupo principal.
O primeiro momento de pressão veio em 2019. No dia 20 de setembro, durante um treinamento, sofreu lesão muscular na coxa direita. A dor foi tanta que saiu do gramado carregado por membros da comissão técnica. Problema que o deveria afastá-lo dos gramados por um mês, segundo o diagnóstico inicial. Ficou cinco meses sem jogar.
O episódio, que se alongou pelo longo período de recuperação, é apontado como o primeiro foco de atrito entre clube e jogador. O motivo foi o tratamento conservador adotado pelo departamento médico, alvo de cobranças de Jean Pyerre após a monotonia dos trabalhos na academia e das corridas no gramado. Com dor para chutar, foi liberado para treinar com bola ainda em 2019. De férias, participou de uma pelada com amigos. E acabou cobrado pelo episódio, mesmo autorizado para executar todos os movimentos sem limitação.
Na reapresentação, em 2020, o problema seguia incomodando o meia. Jean pediu, então, para não realizar o teste isocinético, que mede a força da perna, com temor de sofrer nova lesão. Além da fisioterapia, também tinha a medicação: injeções de corticoide, que causaram ganho de peso e motivaram uma bronca pública de Renato Portaluppi no gramado do CT, antes de um treino. Após saber do motivo, o pedido de desculpas do treinador ao jogador se deu no privado, o que desgastou a relação.
O episódio foi superado com notas oficiais do Grêmio e da assessoria do meia. E, em seguida, Jean viveu a melhor fase da carreira. Entre o segundo semestre de 2020 e o início de 2021, encontrou sua melhor forma e ganhou o apoio de Tostão como possível nome para a Seleção Brasileira. Mas o meia afundou com o declínio técnico do Grêmio na temporada.
Na mesma época, outros dois episódios mostraram bem o desgaste da relação entre o clube e o atleta. Ao completar 100 jogos, Jean não recebeu a tradicional cerimônia que comemora esta marca. Naquele dia, depois da partida contra o Athletico-PR – que antecedeu o início da decisão da Copa do Brasil contra o Palmeiras –, uma camisa comemorativa foi colocada no armário do jogador no CT. E só. Um mês antes, Jean Pyerre foi visto em uma festa de família sem máscara, e o clube publicou nota oficial condenando o episódio.
Mas o ponto que minou a relação se deu com a chegada de Douglas Costa. Jean Pyerre havia ganhado a camisa 10 meses antes.
Dessa vez, foi comunicado pelo CEO Carlos Amodeo que o novo reforço usaria o número, e que eles deveriam conversar entre si para determinar a situação. Algumas mensagens resolveram o tema, sem a influência do clube.
– Não teve problemas de indisciplina, bater boca. Muito pelo contrário. O Jean Pyerre é um menino muito esclarecido, inteligente. Cada um reage da sua maneira, sempre foi profissional. Pode ter ficado chateado uma vez ou outra em treinamentos, cada um reage da sua forma. Mas nunca teve indisciplina no meio – disse Marcelo Oliveira, ex-coordenador técnico do Grêmio, que tinha o papel de fazer o elo entre jogadores, comissão técnica e direção e foi colega de Jean Pyerre.
Quem acompanhou o vestiário gremista nos últimos anos, aponta que o jogador tinha boa relação com todos. Inclusive os jogadores mais velhos. Que mesmo nos momentos de baixa, seguiu trabalhando. Foi comunicado por Vagner Mancini da decisão de afastamento, com a justificativa de necessidade de reduzir o grupo para as rodadas finais.
Para amigos próximos, Jean elogia o trabalho de Mancini e da comissão técnica. Só lamenta como aconteceu o fim de passagem pelo Grêmio. Afirmou que “nunca quis sair do Grêmio”, mas gostaria que “as coisas fossem melhores para ele dentro do clube”.
Na expectativa de ter o acerto com o Giresunspor confirmado, Jean faz uma pré-temporada particular. Treina em uma quadra de Alvorada, esperando pela chance de voltar a campo.