Ainda não há uma definição quanto às datas das finais da Copa do Brasil, mas o Grêmio teve a oportunidade de fazer observações importantes sobre o Palmeiras, último adversário no caminho ao hexacampeonato. No empate por 1 a 1 na última sexta-feira (15), em São Paulo, pela 30ª rodada do Brasileirão, o Tricolor viveu situações completamente distintas.
Depois de terem sido dominados no primeiro tempo, criando apenas cinco finalizações contra 12 dos donos da casa, os comandados de Renato Portaluppi evoluíram na etapa final, tendo uma posse de bola muito maior (69%) e gerando chances de gols que por pouco não renderam a virada no placar. GZH ouviu comentaristas que analisaram o duelo, apontando o que deu certo e o que deu errado na estratégia gremista usada na partida, que pode ser encarada como uma prévia da decisão.
Errado
Quando todas as projeções de equipe apontavam para uma dúvida entre os volantes Darlan e Maicon, Renato surpreendeu ao começar com Thaciano. A aposta, porém, não surtiu o efeito desejado. O polivalente meia não ultrapassou a linha da bola e fez com que Jean Pyerre recuasse demasiadamente para buscar o jogo na etapa inicial. Além disso, com menos de um minuto, o camisa 10 quase repetiu o cenário vivido na Vila Belmiro, contra o Santos, quando errou um passe e gerou contra-ataque para o rival.
— Renato Gaúcho alterou a configuração habitual do meio-campo. Não funcionou. Imagino que utilize Darlan, Lucas Silva ou Maicon como titular na final — sentencia Alexandre Lozetti, comentarista do SporTV.
No entanto, para Diogo Olivier, comentarista do Grupo RBS, os problemas apresentados pelo Grêmio vão além de uma escolha individual.
— O Grêmio entrou completamente desligado, contra um time que estava ligado o tempo inteiro. Isso se traduziu taticamente em um descompromisso coletivo — avalia.
A imagem de passividade deixada pelo Palmeiras contra o River Plate, na semifinal da Libertadores, pode ter feito o Tricolor imaginar que seria o propositor do jogo também no Brasileirão. Porém, o português Abel Ferreira modificou sua estratégia, improvisando o ex-zagueiro colorado Emerson Santos como volante e alterando o sistema tático e a postura da equipe paulista. Mesmo com alguns titulares preservados, o time da casa imprimiu uma marcação alta bem agressiva, que sufocava a saída de bola gremista.
— A gente via o Diego Souza e o Jean Pyerre, quando o time não tinha a bola, caminhando em campo. O Pepê também não fechava o corredor. Só aí já são três jogadores de frente que não faziam nenhum obstáculo aos zagueiros do Palmeiras. É um erro dizer que o Thaciano e o Matheus Henrique marcaram mal. Eles não tiveram nenhuma colaboração dos caras de frente. Enquanto no Palmeiras, Willian e Rony faziam falta no Kannemann para impedi-lo de sair jogando. Então, coletivamente, esse é o momento não do Grêmio. Ele não pode repetir isso na Copa do Brasil nem por 10 minutos — complementa Diogo Olivier.
Outro ponto que serve de alerta está no setor defensivo. A ausência do centroavante Luiz Adriano no time inicial do Palmeiras trouxe uma novidade: Willian Bigode atuava aberto pela esquerda, e o ágil Rony surgia como a referência do ataque paulista.
— O Grêmio tem zagueiros que saem à caça e Rony, centralizado no ataque do Palmeiras, os tirou do lugar, gerando espaços perigosos — completa Lozetti.
Certo
A volta do intervalo apresentou uma nova postura do Grêmio na marcação. Mesmo que os donos da casa seguissem exigindo boas defesas do goleiro Vanderlei nos minutos iniciais, o Tricolor passou a equilibrar as ações no decorrer do tempo, se impondo também fisicamente.
— O ponto positivo é que o Grêmio conseguiu reagir. Retomou, inclusive, a superioridade em posse de bola, adiantando as linhas de marcação, mordendo mais um pouquinho. Mas o grande elogio é que, a partir da entrada do Maicon, o time tomou conta do jogo. O Palmeiras não é o São Paulo. Não dá para adotar uma estratégia defensiva, com linhas baixas, porque não vai ter jogo. E aí é importante ter o Maicon nas finais, nem que seja por 20 minutos — analisa Diogo Olivier.
No vestiário, Renato também repaginou seu meio-campo. A troca se mostrou mais evidente a partir da primeira substituição, aos 27 minutos. Com a saída de Thaciano, o chileno Pinares assumiu a função de armador central, enquanto Jean Pyerre baixou de vez para volante. Olhando o campo de frente, o camisa 10 conseguiu ser mais útil na construção das jogadas. Assim, quando Maicon entrou, aos 36, o Tricolor tomou as rédeas da partida.
— O Jean Pyerre deu 93 passes no jogo, 30 a mais do que o segundo colocado (zagueiro Luan, do Palmeiras, com 63). Sua influência no jogo do Grêmio é tremenda, mas o time só se desencaixotou quando teve a profundidade de Luiz Fernando e a infiltração de Maicon — cita Alexandre Lozetti, fazendo referência à tabela entre os dois atletas que gerou o gol de empate, anotado por Diego Souza.
A pressão exercida nos minutos finais, com Weverton evitando a virada gremista, mostrou um jogo completamente diferente àquele que iniciou na Arena do Palmeiras. Portanto, é possível afirmar que, mais do que trocar golpes, as equipes também usaram a partida do Brasileirão para testar estratégias. Nem que seja para chegar à conclusão de que tudo precisará ser modificado outra vez para os embates que definirão o dono da taça.
— Uma final de campeonato e um jogo de pontos corridos são situações como água e óleo. Elas não se misturam. Óbvio que existem observações que podem ser feitas, mas não vejo muita coisa que possa ser projetada deste jogo (de sexta-feira) para as finais da Copa do Brasil. As estratégias dos treinadores serão distintas. São mundos diferentes, principalmente pela distância que haverá entre os jogos — opina o comentarista do SporTV Maurício Noriega.