O dia 20 de junho de 1999 ficou marcado na história do futebol estadual pela afirmação pessoal de Ronaldinho como futuro craque, fazendo gol e dando show na vitória do Grêmio por 1 a 0 sobre o Inter. Os mais de 40 mil torcedores presentes no Estádio Olímpico invadiram o gramado ao final do jogo para festejar mais do que o 32º título de Gauchão, mas o surgimento do camisa 10 que provocou uma festa dentro das quatro linhas e no vestiário.
O golaço do título foi também o da artilharia. Aos 44 minutos do primeiro tempo o placar foi aberto por um ainda Ronaldo que aos 19 anos anotava seu 15º gol em 16 partidas. Das cabines de imprensa do velho casarão, o grito de gol narrado por Pedro Ernesto era entrecortado pelo fanatismo de Paulo Sant'Anna.
— Pelé!, Pelé!, Pelé! — comparou o comentarista, aos gritos.
O que se viu entre a intermediária e o gol foi uma demonstração de agilidade e precisão do ataque gremista. A jogada foi orquestrada e concluída por Ronaldinho, com a assistência de tabela com Agnaldo. Uma janelinha em Anderson fez com que o meia tricolor encontrasse espaço para entrar pelo meio da defesa colorada.
Ronaldinho tocou e recebeu de volta na área, marcado de perto. Chutou com a esquerda, apenas com a força suficiente para tirar a bola do alcance do goleiro André. Estava aberto o placar.
O Grêmio, que entrara em campo campeão jogando pelo empate, foi para o intervalo com a vantagem do 1 a 0 e uma mão na taça. Além do gol, que pode ser definido como uma pintura, Ronaldinho protagonizou mais dois dribles desconcertantes sobre Dunga, na época já consagrado como capitão da Seleção Brasileira.
A cobertura de Zero Hora nos dias antes do jogo apostava em um clássico decidido na bola parada. Se do lado azul o garoto artilheiro levava perigo de frente para a área, os colorados Christian e Dunga também eram referência cobrando faltas na direção do gol. O centroavante colorado entrou em campo para a final com o mesmo número de gols que Ronaldinho. Ambos pararam em Danrlei e na defesa tricolor, eficientes por cima e por baixo.
A festa começou ainda no gramado. Torcedores invadiram o campo e carregaram Ronaldinho e outros heróis da conquista até o vestiário. Lá, mesmo os que queriam deixar o estádio rapidamente não conseguiram. A emoção pela conquista fez com que o craque fizesse até uma promessa, que a história tratou de desmentir.
— Eu gosto tanto do Grêmio que, se for sempre assim, o estádio sempre cheio e a torcida sempre apoiando, eu jogava de graça — disparou Ronaldinho.
O volante Capitão tomou banho rapidamente, vestiu um terno até tentou deixar o Olímpico. No entanto, viu a multidão na rua impossibilitando qualquer deslocamento e voltou para a comemoração com os companheiros. Há poucos passos dele, Ronaldinho, Cleison, Zé Afonso e Rodrigo Gral, que já havia conquistado o título no ano anterior, agitavam a banheira empunhando taças de espumante. Nem os repórteres escaparam da bagunça.
O presidente José Alberto Guerreiro brindou com o mesmo espumante que seus atletas. Entretanto, o fez de forma mais protocolar, envolvendo o técnico Celso Roth no ritual. O Grêmio conquistava seu segundo título no ano em seis meses — anteriormente o Tricolor havia levantado a taça da Copa Sul.
FICHA TÉCNICA
Gauchão – Final (terceiro jogo) – 20/06/1999
GRÊMIO (1)
Danrlei; Itaqui, Ronaldo Alves, Éder e Roger; Capitão, Fabinho (Djair), Émerson e Ronaldinho; Rodrigo Gral (Cleison) e Agnaldo (Zé Afonso).
Técnico: Celso Roth
INTER (0)
André; Enciso, Gonçalves, Lúcio e Régis (Almir); Anderson (João Santos), Dunga, Claiton e Elivélton; Fabiano (Manoel) e Christian.
Técnico: Paulo Autuori.
GOL: Ronaldinho, aos 44 minutos do primeiro tempo.
CARTÕES AMARELOS: Émerson, Éder, Danrlei, Agnaldo e Zé Afonso (G). Anderson, Christian, Elivélton e João Santos (I).
ARBITRAGEM: Carlos Simon, auxiliado por Flávio Teixeira e Sílvio Rogério Silva.
LOCAL: Estádio Olímpico, em Porto Alegre.
RENDA: R$ 481.288, para um público de 40.238 pessoas (34.655 pagantes).