O Gauchão de 1999 foi decidido em três clássicos, sendo o último dominado pelo Grêmio de Ronaldinho. O camisa 10 surgia como craque e mostrou naquele 20 de junho que poderia ser tão matador dentro da área quanto habilidoso fintando marcadores. A combinação vista no gramado do Olímpico fez o eterno gremista Paulo Sant'Anna, na ocasião comentarista da grande final, gritar o gol junto com Pedro Ernesto Denardin na cabine da Rádio Gaúcha.
— Pelé!, Pelé!, Pelé! — sentenciava, vibrando com o que seria o gol do primeiro título profissional da carreira do depois penta-campeão e duas vezes melhor do mundo. Uma semana depois o atacante estava na lista de convocados da Seleção para a Copa América.
Ronaldinho ainda não era chamado pelo diminutivo. O sorridente Ronaldo, sem camisa e servido de uma taça de champanhe, comemorava a conquista com os companheiros no vestiário do Olímpico quando repórteres se aproximaram. O assunto era a remuneração da promessa que havia sido artilheiro do Gauchão marcando 15 gols em 16 partidas aos 19 anos de idade.
— Eu gosto tanto do Grêmio que se for sempre assim, o estádio sempre cheio e a torcida sempre apoiando, eu jogava de graça — disparou, olhando para o repórter da TV Pampa que o entrevistava. "Jogava de graça?", repetiu o jornalista, tendo como resposta a confirmação:
— Sem dúvida, jogo no Grêmio há mais de 10 anos. Não é dinheiro que vai me fazer dar alegria a essa torcida que vem aqui e só me apoia e levanta. Acho que o que vale é jogar por amor à camisa.
O salário do menino seria dobrado nos dias seguintes. O presidente tricolor José Alberto Guerreiro anunciava um novo plano de associação para os torcedores. Gremistas poderiam ajudar o clube a manter seus talentos contribuindo a partir de R$ 20 por mês.
— Com este time, estamos credenciados para disputar titulo em qualquer competição — comemorava Guerreiro após a final.
Do lado vermelho, o atacante Christian lamentou o título perdido. Vice-artilheiro do Gauchão com um gol a menos que Ronaldinho, o camisa 9 confessou que negociaria seus números pessoais para ter uma glória coletiva:
— Trocaria um monte de gols que marquei para conquistar um título importante. Quando fui campeão gaúcho, só havia anotado três gols. Mas tudo bem, talvez seja um aviso de Deus. Quem sabe algo de bom não vai acontecer para mim e para o time no Brasileiro. Passei quatro anos levando porrada até chegar aqui. Não vou me abater porque sou um vencedor.