Imagine ser o maior ídolo da história de um clube e ter a chance de retornar para repetir uma cena que ocorrera 12 anos antes, que o transformou em uma lenda. Imaginou? Pois isso aconteceu com Renato Portaluppi em 1995.
Ele foi o responsável pelos dois gols que deram ao Grêmio o título Mundial, em 1983, diante do Hamburgo, aos 21 anos. A vitória por 2 a 1, na prorrogação, no Estádio Olímpico de Tóquio, está na lembrança de todos os gremistas — tenha acompanhado ao vivo ou assistido aos vídeos e retransmissões da partida tempos depois. A partir dali, Renato passou a ser idolatrado pela torcida tricolor.
Doze anos mais tarde, o Grêmio estava na final da Libertadores novamente. Tinha a chance de ir ao Japão mais uma vez para encarar o campeão europeu na disputa do título Mundial. E, claro, Renato, aos 32 anos, queria ter a chance de viver essa emoção de novo.
— Jogaria com muito prazer para o meu clube do coração — disse o ponta-direita do Fluminense à época ao repórter Renato Dornelles, de Zero Hora.
A situação foi a seguinte: em julho de 1995, Renato participou de uma partida festiva com o time do Grêmio. Jogou 33 minutos contra o Flamengo e fez a jogada de um dos gols, tabelando com Paulo Nunes e cruzando na medida para Jardel marcar. Aquela boa exibição com o uniforme azul, branco e preto empolgou a torcida e, claro, ao próprio Renato.
O jogador revelou, na ocasião, que foi convidado pelo presidente Fábio Koff para retornar ao clube para a disputa do Mundial. Claro, isso se o Grêmio confirmasse a conquista sobre o Atlético Nacional-COL.
— Esse título não tem preço. Pelo Grêmio, vou até de graça — afirmou o camisa 7 à época.
A torcida ficou eufórica. Afinal, ele já sabia como era jogar o Mundial. Mais do que isso, Renato havia marcado os gols da vitória em Tóquio. Era um ídolo que poderia fazer história novamente.
— Tinha muita gente que queria essa volta dele, por toda a história do Mundial de 1983. Imaginava-se que ele poderia ser a cereja no bolo naquele time, mas o Felipão não quis — conta Antônio Carlos Macedo, que era repórter esportivo da Rádio Gaúcha em 1995.
Como todos sabem, o Grêmio conquistou a América pela segunda vez naquele ano. Porém, logo depois da conquista do título, o técnico Luiz Felipe Scolari reuniu-se com Fábio Koff e Cacalo, vice-presidente de futebol à época. Nesta conversa, ficou definido que o clube não contrataria ninguém para o Mundial.
— Nós entendemos que não seria justo, depois daqueles atletas ganharem a Libertadores, tirar algum deles do time — diz Cacalo.
A mesma reposta foi dada ao repórter Renato Dornelles, que havia conversado com Renato dias antes, por Koff. Na comemoração do título no Olímpico, no retorno a Porto Alegre, o presidente afirmou que não traria o ídolo para o Mundial.
— O Koff me respondeu que aquele grupo havia roído o osso na Libertadores e não seria justo, na hora do filé, trazer alguém de fora — recorda o jornalista.
Assim, Renato permaneceu no Fluminense, e os torcedores mantiveram em suas lembranças aqueles gols do camisa 7 em 1983. A história não se repetiu e a volta do ídolo como jogador ficou apenas na imaginação dele e da torcida.