A nova investida do Napoli por Everton, noticiada pelo jornal Gazzetta dello Sport no último domingo, poderá render R$ 78,5 milhões ao Grêmio. Segundo a publicação, o valor da oferta dos italianos seria de 25 milhões de euros (R$ 157 milhões). Como detém 50% dos direitos do atleta, o Tricolor receberia metade do total da transação — o que equivale a cerca de 10% do valor da multa rescisória do atleta, de 120 milhões de euros (R$ 753,6 milhões).
Esta não é a primeira especulação envolvendo a provável saída do jogador para a Europa. Outros clubes, como PSG, Milan, Borussia Dortmund e Everton, da Inglaterra, já foram citados como possíveis interessados no atleta.
O Cebolinha tem vínculo com o Grêmio até o final de 2023. O novo contrato, que foi assinado em 2019, ampliou a multa rescisória de 80 para 120 milhões de euros. Quando o acordo foi selado, o valor era equivalente a R$ 535,4 milhões. Com a crise econômica pela pandemia do novo coronavírus, hoje a quantia saltou para R$ 753,6 milhões, já que a cotação do euro está na casa de R$ 6,28. O próprio clube sabe que não irá vender o Chuteira de Ouro da última Copa América pelo valor estipulado como cláusula rescisória.
— Estamos prontos para avaliar valores mais baixos do que os da cláusula, estou ciente de que o coronavírus mudará o mercado — comentou o presidente Romildo Bolzan Junior em uma entrevista no mês de abril.
Dessa forma, o novo cenário econômico mundial poderá tornar uma oferta de 25 milhões de euros algo considerável, já que o Cebolinha é um jogador que já tem 24 anos e este é um fator levado em conta no mercado internacional. Em recente publicação, o site Transfermarkt (um dos mais respeitados sobre transferências) informou que a médio e longo prazo, as consequências ainda não são previsíveis. Porém, de acordo com a plataforma especializada, os valores devem apresentar desvalorização geral de 20%, com exceção de jogadores nascidos depois de 1998, que devem sofrer perda de 10% de seu potencial econômico.
Nesse novo quadro, a plataforma coloca Everton cotado em 28 milhões de euros. Esse valor é 7 milhões inferior ao que o próprio Transfermarkt havia estabelecido em janeiro. Mas se o Napoli confirmar proposta de 25 milhões de euros, considerando ofertas anteriores, o atual contexto mundial, com uma maior desvalorização do real em relação ao euro e o fato de que o clube detém 50% dos direitos dele, seria bom negócio para o Grêmio? GaúchaZH ouviu a opinião de três comentaristas para falar sobre a questão.
— Everton nunca valeu os 80 ou 120 milhões de euros que o Grêmio imaginou. Estava um patamar abaixo disso. Mas também não era jogador de 25 milhões de euros, como parece estar taxado agora. A questão é que a pandemia colocou água fria em um mercado que borbulhava de forma perigosa. Todos os valores foram readequados, e o dinheiro escasseou. Everton valeria mais de 25 milhões de euros em um mercado atuando dentro da normalidade. Só que agora, nesse cenário de recessão e crise e com ele aos 24 anos, essa cifra cai como uma luva para o Grêmio, que ainda pode buscar com os parceiros uma fatia maior do que seus 50% — avalia o colunista de GaúchaZH e comentarista da Rádio Gaúcha, Leonardo Oliveira.
O comentarista dos canais SporTV, Sergio Xavier Filho, concorda que a questão cambial e a crise irão preponderar nesse momento, especialmente em um mercado economicamente frágil, como o brasileiro.
— Com essa questão dólar e euro, as propostas antigas acabam se tornando muito mais vantajosas. Primeiro, porque o valor do câmbio disparou. Segundo, porque a ausência de receita, aqui, faz que um dinheirinho se transforme em um dinheirão. O pós-pandemia vai ser um divisor de águas no sentido de qual clube conseguirá resistir mais e manter os planos traçados no início do ano. Quem tinha finanças frágeis terá que fazer negócio. O Grêmio não está na primeira prateleira em matéria de organização do futebol brasileiro, onde estão Flamengo e Palmeiras, mas está num patamar imediatamente abaixo, com finanças relativamente tranquilas - avalia.
— No caso do Everton ficou a impressão de que o trem dele estava partindo. Então, pelo conjunto da obra, e pelo fato das finanças estarem abaladas, faz que essa proposta pareça muito boa mesmo - diz Xavier, que lembra que o meia Luan, hoje no Corinthians, foi um caso assim ao não ser negociado no auge.
Mas para o jornalista gaúcho essas condições especiais não refletem o real valor do atacante que marcou 70 gols em 273 jogos com a camisa gremista.
— Pra mim não faz sentido, é um revolvedor de jogos. Jogador de três pontos. Deveria valer muito e ser disputado a tapa. O problema é posição dele, onde há muitos no mundo e idade, onde o mercado mudou e compra muito mais cedo que há cinco anos, vide Lucas Paquetá, Rodrygo e Vinicius Junior. A conclusão é que é uma pena que seja mesmo um excelente negócio. Mas no mundo atual, é —diz Sergio Xavier.
O Grêmio mantém a posição de que ainda não recebeu uma oferta concreta por Everton, mesmo que seu nome esteja constantemente no noticiário do mercado de transferências.
— Eu contrataria um segurança para levá-lo ao aeroporto com a missão de só largar quando o avião sair. Venderia na hora. Não tem jeito. Os dirigentes estão bem assustados. A salvação literal imediata dos clubes virou a venda de um jogador, apesar de todos os prejuízos técnicos. E olha que o Grêmio tem quatro anos de superávit de gordura. Eu estava pensando: nesse momento tão excepcionalíssimo, analisando o contexto, talvez esses 25 milhões de euros sejam os exagerados 80, 120 que o Grêmio sonhou lá atrás — afirma o comentarista da Rádio Gaúcha e colunista de GaúchaZH, Diogo Olivier.
Observando os números do Transfermarkt, Everton é o jogador mais bem cotado da Série do Brasileirão. Em escala mundial, seu valor de mercado o coloca como 209º atleta mais valorizado junto ao volante Bruno Guimarães (Lyon), o lateral-direito francês Pavard (Bayern Munique) e o atacante mexicano Hirving Lozano (Napoli).
— Os outros clubes devem estar morrendo de inveja do Grêmio, que tem um Everton para vender — avalia Diogo Olivier.