A passagem por Porto Alegre não foi tão longa, os títulos bateram na trave, mas a qualidade do volante Souza segue na lembrança dos torcedores do Grêmio. Hoje, aos 31 anos, o atleta atua no Al-Ahli, da Arábia Saudita, e lembra com carinho do período que viveu no Rio Grande do Sul.
— Passei dois anos no Grêmio. Foi muito bom poder jogar e representar essa camisa — comenta Souza.
Adaptado ao futebol árabe, o jogador ainda não pensa em retornar ao Brasil. Mas ressalta que, se fosse para voltar ao país, teria três destinos possíveis: Vasco (o time do coração), São Paulo e Grêmio. Justamente as únicas três equipes em que atuou em solo brasileiro.
Aliás, esse carinho por Vasco e Grêmio fez com que o volante torcesse bastante ao lado do goleiro Marcelo Grohe, ídolo tricolor, na Libertadores do ano passado. O confronto com o Flamengo, nas semifinais do torneio sul-americano em 2019, foi de frustração para a dupla.
— Ano passado estávamos juntos assistindo à semifinal da Libertadores, torcendo pelo Grêmio. Infelizmente não deu, o Marcelo por ser gremista desde criança, eu por ter jogado no Grêmio e também ser vascaíno, a gente torceu para caramba. Mas não deu certo — recorda.
Um dos problemas para assistir aos jogos daqui é o fuso horário. A diferença de seis horas para o Brasil complica a rotina dos atletas que estão na Arábia Saudita quando querem acompanhar alguma partida da América do Sul.
— Os jogos mais legais aí são à noite, pela Libertadores, e aqui já é madrugada. Mas quando tem alguma partida importante, a gente procura dormir um pouco mais cedo para acordar e assistir — conta.
Parceria com Marcelo Grohe
A parceira entre Souza e Marcelo Grohe vem desde os tempos do Grêmio. Eles atuaram juntos em 2012 e 2013, quando o volante chegou do Porto e o goleiro ainda era reserva de Victor e, depois, de Dida. Agora em outro país, longe de casa, a amizade cresceu. Ainda que os clubes dos dois sejam rivais, Souza ajudou Grohe em sua chegada à Arábia.
— Tenho muito contato com o Marcelo Grohe, por estar aqui no mesmo bairro. A gente é rival, porque o Al-Ahli e o Al-Ittihad são adversários. Mas vivemos na mesma cidade e, por termos jogado junto no Grêmio, nossas famílias se conheceram. Hoje em dia estamos bem próximos novamente. Assim que ele chegou, dei bastante auxílio para ele, porque teve de vir sozinho. Teve problema na mão, então, como eu moro com um fisioterapeuta aqui, demos auxílio para ele — revela.
Como são permitidos sete estrangeiros na liga local, os clubes são repletos de brasileiros. Alguns deles também conhecidos do público gaúcho.
— O Marcelo é o que eu tenho mais proximidade. Mas também falo com o Giuliano, porque jogamos junto tanto na seleção sub-20 quanto no Fenerbahçe, antes de vir para cá. Nos falamos, nos encontramos uma hora ou outra, seja nos jogos, nos aeroportos, e a gente procura sempre trocar experiência, que é sempre bom — destaca Souza.
O volante, inclusive, faz um alerta aos brasileiros — que não são flamenguistas, claro: torçam para a saída de Jorge Jesus do Flamengo. Durante seu período no Porto, o técnico português era o comandante do rival Benfica. Ainda que o time azul tenha tido vantagem à época, Souza rasga elogios a Jesus:
— O Jorge Jesus realmente tem uma capacidade muito grande de extrair o melhor dos atletas. Os jogadores que vão jogar com ele precisam ter muita personalidade, porque ele cobra muito. O Alan Kardec (ex-Inter) é meu irmão e a mesma época em que eu estava no Porto ele jogava no Benfica, e a gente sempre trocava ideia. Ele falava muito do jeito de trabalhar do Jorge Jesus, que é um pouco atípico, mas que se você entendesse e aceitasse cresceria como profissional. Isso que ele vem fazendo no Flamengo já fazia há muito tempo no Benfica.
Quanto à utilização de três volantes no Grêmio, tema que foi recorrente antes da paralisação devido ao coronavírus, Souza acredita que ser ofensivo ou defensivo depende da ideia do treinador e da característica dos atletas. Com Lucas Silva, Maicon e Matheus Henrique no meio, e tendo à frente atletas como Everton e Diego Souza, ele entende que é possível atacar bastante.
— Você pode jogar como o Barcelona, com três volantes de origem, e que não deixa de ser ofensivo porque tem lá na frente Messi, Suárez e Griezmann, que fazem a diferença. Quando joguei no Grêmio mesmo, com o Renato, ele usava três volantes. Eu era o mais recuado e jogavam comigo no meio o Ramiro e o Riveros. Aquela equipe jogava um pouco mais recuada, saindo nos contra-ataques. A gente até conseguiu bons resultados, terminamos o campeonato em segundo lugar, e o Cruzeiro foi campeão. Isso depende muito do que o treinador tem em mãos, para saber se é defensivo ou ofensivo. Pode ter três volantes e ser ofensivo, mas depende dos jogadores — salienta Souza.
Defensivo ou ofensivo, boa parte dos gremistas gostaria de ter um volante como Souza na equipe. E Renato, certamente, está entre eles.