A quarentena para os jogadores do Grêmio já dura quase duas semanas e, a partir de quarta-feira (1º), os atletas terão férias de 20 dias em razão da paralisação do calendário esportivo devido ao coronavírus. Mas ficar "preso" em Porto Alegre não é novidade ao menos para Patrick, meia gremista e único entre os profissionais do clube nascido na Capital.
Em uma conversa exclusiva com GaúchaZH por telefone, o jogador revela o que tem feito neste período em casa, como mantém a rotina de treinamentos e faz uma autoavaliação do seu início de temporada. Ele também comenta os erros do passado e diz que, seu maior desejo, é ser campeão pelo Grêmio:
— Não é só um sonho meu, mas da minha família também. Espero realizar por mim e por eles.
Confira a entrevista:
Como está sendo e o que estás fazendo neste período de quarentena?
Nesse período, não só para mim, mas para todos os atletas está sendo muito diferente. Essa é uma época que a gente costuma jogar mais, que os grandes campeonatos estão começando. Está sendo um pouco difícil a adaptação. Sabemos que vamos perder ritmo pra caramba, e torcemos para que isso acabe logo, porque precisamos estar no mesmo nível, senão melhores do que estávamos antes da parada. Isso deu uma prejudicada, mas temos de estar preparados para quando as competições voltarem.
O que os preparadores físicos passaram para vocês fazerem e o que dá para fazer em casa?
Eles passaram uma cartilha para a gente seguir, com alguns exercícios. Tenho um amigo formado também, que mora comigo, e isso facilita. Ele sabe os treinos, o pessoal do estafe do Grêmio passa para nós e a gente tenta fazer o que consegue, o que o espaço possibilita. Temos de manter as atividades e a forma física. Tenho conseguido fazer principalmente esteira e bicicleta em casa. Alguns exercícios articulares também, coisas que desgastam bastante a gente. A alimentação também é fundamental nesse período. Eu até não tenho tendência a engordar, mas imagina para quem tem. Temos de estar nos cuidando, senão de nada adianta ficar treinando separado.
Tu és o único jogador no time profissional do Grêmio nascido em Porto Alegre. O que gosta de fazer na Capital quando não estamos em quarentena?
Minha rotina em Porto Alegre, quando dá para sair, fazer as coisas, é chamar os amigos para jogar play, fazer um churrasco, essas são as coisas que a gente gosta mais. Ir no shopping também. Tento ficar bastante com eles. Dia de jogo é difícil, tem as concentrações. Mas, quando tenho tempo, priorizo minhas amizades e a minha família. Sempre tento reunir o pessoal, meus parentes, lá na Zona Norte, no bairro onde a gente cresceu.
Eles passaram uma cartilha para a gente seguir, com alguns exercícios. Tenho um amigo formado também, que mora comigo, e isso facilita. Ele sabe os treinos, o pessoal do estafe do Grêmio passa para nós e a gente tenta fazer o que consegue, o que o espaço possibilita
PATRICK
meia do Grêmio
Vocês, jogadores, conversam sobre como serão as competições depois desta paralisação? Tens preferência por pontos corridos ou mata-mata?
A gente sabe que agora vai ser tudo diferente. A competição de pontos corridos é boa, dura mais, mas mata-mata pode nos deixar mais perto do título, é mais rápido. Temos de estar preparados para as duas situações.
A equipe terá, a partir da quarta-feira, férias de 20 dias, e os jogadores terão seus salários reduzidos para enfrentar esse período. O que tu pensas sobre isso?
Os líderes do grupo, do vestiário, junto com o Renato e o presidente sabem o que é melhor para a gente. Estamos dispostos a entender que vai ser um ano diferente. Quando esses caras mais experientes costumam falar, os mais jovens, como eu, temos de ouvi-los. Sei que eles vão saber o que é melhor para nós, para o clube. Essa pandemia afeta todo mundo. Sabemos que o Grêmio é um clube grande e que vamos encarar bem essa situação.
Tu tiveste algumas oportunidades no início deste ano. Como avalia teu desempenho?
Me vejo melhor a cada dia. Cito muito o exemplo do Everton. Ele passou quatro anos no profissional até ser titular e ser o Everton de hoje. Sempre que temos oportunidades, precisamos aproveitar. Temos de estar bem preparados porque, como diz o Renato, uma hora a camisa chega. Pode ser que em uma competição a gente não esteja jogando, mas na outra podemos sair jogando e temos de aproveitar. Tive algumas oportunidades nesse início de ano e confesso que umas não me agradaram, pelo meu desempenho mesmo. Mas estou trabalhando a cada dia mais forte. Sei que sou jovem ainda, mas tenho de continuar na mesma batida para evoluir e ter mais oportunidades para ajudar a equipe do Grêmio. Acho que poderia ter ido melhor neste início de ano, fazendo uma autoavaliação. Poderia ter mostrado mais, trabalhei para isso. Mas a gente sabe que pode ter oportunidade a qualquer dia. Espero que, nas próximas, eu possa sair melhor.
Tive algumas oportunidades nesse início de ano e confesso que umas não me agradaram, pelo meu desempenho mesmo. Mas estou trabalhando a cada dia mais forte. Sei que sou jovem ainda, mas tenho de continuar na mesma batida para evoluir e ter mais oportunidades para ajudar a equipe do Grêmio
PATRICK
meia do Grêmio
O Grêmio contratou o Thiago Neves, tem o Jean Pyerre que voltou de lesão e o próprio Thaciano no meio-campo. Acha que ficou um pouco para trás nessa disputa?
É como o Renato fala: às vezes não joga em uma partida, mas pode entrar na outra. A gente nunca sabe o que vai acontecer. Ele fala diariamente que quem se escala somos nós. Sabemos que o nível no Grêmio é muito alto, mas temos de trabalhar para melhorar sempre. Se não jogar o Thiago, o Jean, eu posso entrar. O nosso plantel é grande. Temos de estar preparados, manter a batida do Grêmio, que é de alto nível. Quem se escala é o jogador, e a gente sabe disso.
Te vê atuando pelo lado do campo ou preferes jogar centralizado?
É uma posição que gosto, jogando pelo lado. Subi para o profissional como meia centralizado, mas tenho boas características para jogar pelo lado. Estou desenvolvendo mais a marcação, porque isso depende de força e eu sou mais franzino. Mas estou fortalecendo, até porque gosto de jogar ali. Nos jogos-treino mesmo, costumo atuar por ali. Contra o Pelotas joguei no lado também. Pelo Brasileirão do ano passado, entrava normalmente do lado. São duas posições que gosto e tenho de estar preparado para jogar.
Como tens trabalhado para melhorar essas questões de força e marcação, que te facilitariam para atuar pelo lado?
Na academia, costumo fazer bastante barra de ferro. No campo, tem o que a gente chama de puxada no trenó, que colocamos aqueles elásticos na cintura e vamos puxando. Isso ajuda bastante. Faço diariamente depois do treino esse tipo de exercício. Fico mais um pouco para dar essa fortalecida. Mesmo agora, sem jogos e treinos com o grupo, tento fazer esses treinos em casa.
No ano passado, fizemos uma entrevista com o Renato e ele falou que, em determinado momento, precisou te dar um puxão de orelha. Você foi emprestado ao Criciúma, voltou, e o treinador te chamou de volta para a equipe principal. O que houve para ele te dar esse puxão de orelha e como tu viu essa tua volta à equipe?
O puxão de orelha dele é fundamental. Como subi com 17 para 18 anos, fiquei deslumbrado com aquilo. Achava que demoraria para acontecer. Tinha coisas que eu não gostava de fazer, que não achava legal. Mas aquela minha postura estava me prejudicando. Acabei tomando esse puxão de orelha e fui emprestado para ver o que eu queria mesmo. O pessoal aqui falava para mim que era para eu decidir se queria ser um jogador de alto nível ou não. E eu quero ser jogador de time grande e, se Deus quiser, um dia ir para a Europa. Aquilo serviu bastante para mim. Voltei na equipe de transição, fui bem em uma excursão em Portugal e o Renato me deu oportunidade de novo. Tenho certeza que me desenvolvi um pouco, meu comportamento melhorou e, por isso, ganhei mais oportunidades. Tenho procurado escutar os mais velhos.
Quais orientações os mais experientes têm te passado?
Eles trocam ideia com a gente. Me veem aqui faz tempo, então me dão dicas. A gente passa a entender, porque queremos chegar ao nível deles e também porque já deram muitas alegrias para o clube, para a torcida, algo que eu também quero fazer. É um privilégio receber esses conselhos. Muita gente queria estar ali, e eu estou. Sou privilegiado e fico feliz por essa oportunidade.
Penso que, fazendo tudo certo aqui, cumprindo meu papel e conquistando títulos, poderia ir para a Europa. Espero que possa fazer isso e sair, um dia, pela porta da frente, para poder voltar depois, como vejo muitos jogadores fazerem
PATRICK
meia do Grêmio
Você falou em jogar na Europa. Esse é teu grande sonho enquanto jogador de futebol?
Penso, primeiro, em ganhar títulos aqui no Grêmio. Não é só um sonho meu, mas da minha família também. Espero realizar por mim e por eles. É diferente de outros jogadores que não são daqui. Sou o único de Porto Alegre, isso para mim é um privilégio maior ainda. Poucos atletas conseguem jogar por um clube grande da cidade onde nasceram. Minha família fica muito feliz, a maior parte é gremista. Faz 12 anos que estou no clube. Penso que, fazendo tudo certo aqui, cumprindo meu papel e conquistando títulos, poderia ir para a Europa. Espero que possa fazer isso e sair, um dia, pela porta da frente, para poder voltar depois, como vejo muitos jogadores fazerem.
O que dá para esperar do Grêmio neste ano, quando as competições foram retomadas?
A gente sabe que dá para brigar por títulos. Sabemos da equipe que temos. Qualquer competição, precisamos entrar para ganhar. Pode ser um grande ano se estivermos focados, trabalhando bastante. Por isso, acredito que dê para almejar grandes coisas. Espero que possamos conquistar títulos, porque assim é o Grêmio.