Cabelos descoloridos, perna esquerda precisa, gol em final e a alcunha de "paraúcho" transformaram Marcelinho Paraíba em ídolo relâmpago no Grêmio comandado por Tite, campeão estadual e da Copa do Brasil em 2001. À época, ele tinha entre 25 e 26 anos. Não jogou nem um ano inteiro com a camisa tricolor, mas virou figura conhecida e querida pela torcida gremista, seja pelas conquistas, pelo bom futebol ou pela simpatia. Mas, na semana passada, aos 44 anos, o jogador decidiu se aposentar.
— É um pouco da condição física, o psicológico também, o nosso mental, porque foi uma carreira bastante longa. Pouquíssimos jogadores chegam até os 44 anos atuando. Meu último jogo foi na semana passada e me questionaram por que parar agora, se eu ainda tinha condições de jogar mais um pouco. Embora eu pudesse ainda jogar mais, pelo meu condicionamento físico, acho que chegou o momento. Refleti e tenho outros projetos em mente — disse o ex-meia-atacante em entrevista ao programa Domingo Esporte Show, da Rádio Gaúcha.
A aposentadoria, porém, será apenas como jogador. Isso porque o agora ex-atleta segue trabalhando no futebol, como auxiliar técnico do Perilima, um clube de Campina Grande, na Paraíba, pelo qual Marcelinho disputou seus últimos jogos como profissional, no início deste ano.
— Já estou trabalhando na comissão técnica. Já tinha traçado isso há algum tempo, de seguir no futebol como treinador quando parasse de jogar. E o Perilima, clube em que eu estava jogando atualmente, e estou trabalhando na comissão técnica como auxiliar, me deu essa oportunidade. Acho que chegou o momento de encerrar uma carreira vitoriosa, mas já dar sequência a uma outra. Espero que possamos ter sucesso também — destacou.
O veterano é daqueles andarilhos do futebol. Vestiu a camisa de mais de 20 clubes ao longo da carreira, em quatro países diferentes: Brasil, Alemanha, França e Turquia. Mas, segundo ele, três equipes ficaram realmente marcadas no seu coração.
— Tive passagem marcante por alguns clubes, mas posso dizer com toda convicção e com muita alegria que os dois clubes aqui no Brasil que torço e amo de coração são Grêmio e São Paulo. Foi onde me destaquei aqui no Brasil. Na Alemanha, tive a melhor fase da minha carreira jogando pelo Hertha Berlin. Foram cinco anos lá, de conquistas e grandes partidas. Esses três clubes eu guardo comigo e são os que eu mais amo: São Paulo, Grêmio e Hertha Berlin — disse o ex-jogador.
O principal título de Marcelinho Paraíba no futebol brasileiro foi a Copa do Brasil com a camisa do Grêmio, há 19 anos. Ele marcou o último gol da decisão contra o Corinthians, que sacramentou o título tricolor em um Morumbi lotado, com mais de 80 mil pessoas.
— Foi marcante, até hoje lembro da jogada. Foi uma tabela muito bem feito pelo Zinho com o Fábio (Baiano). Ele chegou no fundo e rolou para mim. Eu, sozinho, na cara do gol, só tive o trabalho de empurrar para dentro. Lembro que na comemoração o Tite não se conteve e invadiu o campo, veio abraçar a gente perto do gol, parece que ele foi até expulso, mas já estava no finalzinho e a gente pôde comemorar. O Grêmio foi merecedor pelo futebol que apresentou e até hoje eu lembro — recordou.
Mas nem só de clubes se deu a trajetória de Marcelinho Paraíba como jogador. Ele teve convocações para a Seleção Brasileira que tinha o comando de Felipão, nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Disputou quatro jogos e marcou um gol importante da partida contra o Paraguai, no Estádio Olímpico, que ficou eternizado na sua memória:
— O Felipão teve uma visão extraordinária de convocar eu, o Tinga e o Eduardo Costa. Como a gente vinha em uma fase maravilhosa pelo Grêmio e o jogo era no Olímpico, ele fez a torcida jogar do nosso lado. Entramos com muita vontade, e a torcida do Grêmio empurrando. Fui titular e logo com cinco minutos o Beletti foi na linha fundo, cruzou e fiz o gol de cabeça. A gente começou na frente, deu aquela tranquilidade e a torcida fez uma festa maravilhosa.
Até mesmo por isso, o ex-jogador se sente um pouco campeão do mundo, ainda que não estivesse no grupo de Felipão na Coreia e no Japão, em 2002. Para ele, todos os brasileiros foram um pouco campeões naquele ano.
— Eu me sinto campeão do mundo também, porque os jogos em que fui nas Eliminatórias pude ajudar. A gente conseguiu classificar a equipe para a Copa do Mundo, então me sinto parte daquele time campeão também. E também porque somos todos brasileiros e nos alegramos com aquela conquista — brinca Paraíba.
Agora auxiliar técnico do Perilima, que o ex-jogador de carreira tão longa e de tanto sucesso possa repetir os feitos à beira do campo. Se depender da sua estrela e do seu carisma, títulos e admiradores não irão faltar.