O ex-volante do Grêmio, Lucas Leiva, vive de perto uma das situações mais críticas da pandemia de coronavírus. Defendendo a Lazio há três temporadas, o atleta de 33 anos mora na Itália, país com o maior número de mortos pela doença até então.
— Hoje (sexta-feira) é meu nono dia de quarentena, desde quando saiu o decreto. Na zona norte da Itália, a situação é mais crítica, mas aqui em Roma estamos todos levando as considerações do decreto de não sair de casa. Temos algumas restrições. Para ir no mercado, precisamos de autorização. Aqui está tudo fechado. Mercado, farmácia e hospitais são os lugares onde as pessoas podem ir. Está bem difícil. Diariamente, às seis da tarde, atualizam o número de mortos. A situação é crítica. A gente espera que possa resolver isso o quanto antes — revelou ele, em entrevista ao programa Bola nas Costas, da Rádio Atlântida.
Para piorar, o jogador encara a reclusão de maneira solitária. Com o avanço do contágio pelo país, sua esposa retornou para Porto Alegre com os dois filhos do casal.
— No momento que a gente percebeu que a situação estava piorando demais, pensamos que o Brasil seria um lugar mais seguro para eles. Eles chegaram ao Brasil, fizeram quarentena. Minha esposa, por vontade própria, fez o exame até mesmo para não botar outras pessoas em risco. Todos eles deram negativo. Mas agora começou a chegar no Brasil e penso que talvez seria melhor eles terem ficado aqui. Pelo menos, a família estaria junto. Agora é suportar esse momento longe da família e esperar que isso passe — comentou.
Apesar de a capital italiana não ser das mais afetadas, Lucas revela um cenário dramático pelas ruas de Roma.
— Parece uma cidade fantasma. Não tem praticamente ninguém na rua. No mercado, você tem uma fila de três metros de distância de outra pessoa. São 10 pessoas questão dentro do mercado, com luvas e máscaras. É bem chocante. No início, faltou carne nas prateleiras, mas agora eles conseguiram organizar e não está faltando mais nada. Mas, do portão de casa, só saí uma vez em nove dias. Temos que aguardar, mas o que causa ansiedade é que não sabemos quando isso vai acabar. Pode levar mais 20 ou 30 dias — analisou.
Durante a entrevista, Lucas alertou a população brasileira para não repetir os erros cometidos pelos italianos.
— Não sei se arrependimento é a palavra. Hoje a gente olha para trás e vê que muitas coisas poderiam ter sido feitas de maneira diferente. Eles fecharam de forma gradativa e isso não ajudou muito no controle do vírus. Há três semanas, nós, em Roma, estávamos jogando com portões abertos, enquanto, na região norte, já estava tudo fechado. Então, hoje vejo que foi uma loucura. Se tivesse fechado antes, seria mais eficaz — avaliou.
Enquanto aguarda o desfecho da situação, Lucas diz que mantém os treinamentos como pode, dentro de casa. Quando o campeonato italiano foi suspenso, a Lazio ocupava o segundo lugar na tabela de classificação, a apenas um ponto da líder Juventus. Pelo atual regulamento, restam ainda 12 rodadas a serem disputadas.
— A gente tem um programa de treinamento, mas, infelizmente, não conseguimos fazer tanto porque dentro de casa é mais complicado. Eu acordo, faço o café da manhã, dou uma treinada e, de tarde, procuro ler e refletir. O momento é de reflexão para todo mundo — confidenciou ele — Temos esperança que a gente consiga voltar a jogar lá por maio. Como a Eurocopa foi adiada, pode dar tempo de os jogos serem realizados. Não temos nem ideia de data. Estamos esperando também as ordens do clube para saber quando podemos voltar aos treinamentos. Mas, sinceramente, nesse momento, o futebol e o lazer ficam em segundo plano — completou.