Os problemas financeiros em decorrência da pandemia do coronavírus também afetarão os clubes. Sem jogos e com recomendação de que as pessoas fiquem em suas casas, a dupla Gre-Nal sentirá, a partir das próximas semanas, o impacto de não ter arrecadação de bilheterias, premiações, queda na venda de produtos e até mesmo nos quadros sociais.
Por isso, os clubes já começaram a economizar e buscar alternativas junto aos governos Federal, Estadual e Municipal, com auxílio da CBF, para enfrentar a crise causada pela covid-19. Do lado gremista, o presidente Romildo Bolzan Júnior tentará renegociar os pagamentos de tributos para que o fluxo de caixa do clube não seja tão prejudicado.
— Há um trabalho geral no Brasil para tentar a prorrogação de pagamentos, a renegociação de contratos. Ainda estamos aguardando o Governo Federal em relação às obrigações do Profut (programa de renegociação de dívidas). A Comissão Nacional de Clubes está organizando algumas sugestões de medidas, de ordem tributária e de contratos, para garantir o fluxo financeiro das equipes. Não queremos um favor, mas um alongamento dos prazos. Vamos pagar, mas o que vem pela frente é um quadro extremamente difícil para manter a normalidade das instituições — afirma o presidente do Grêmio.
A situação não é diferente no Inter. O vice-presidente eleito Alexandre Chaves Barcellos destaca que o clube precisa das receitas provenientes dos jogos, como renda e premiações pagas pelas competições. Sem elas e sem a certeza de quando as competições poderão retornar, fica inviável até mesmo planejar as ações.
— Dificilmente os clubes conseguem criar um respiro durante a temporada para aguardar uma paralisação como essa. Realmente a situação é gravíssima, porque não temos perspectiva de retomada. Óbvio que os salários continuam sendo pagos e a as receitas seguem minguando. Estamos cortando o que dá de despesas, proibindo contratações e diminuindo o investimento em manutenção. Estamos fazendo o possível, mas não temos como nos livrar dos nossos compromissos — pondera Barcellos.
Com a suspensão dos campeonatos por tempo indeterminado, o Grêmio calcula que deixará de arrecadar um valor entre R$ 20 e 25 milhões nos próximos três meses. Essa quantia diz respeito à cota de 1 milhão de dólares (cerca de R$ 5 milhões) paga pela Conmebol por partida como mandante na Libertadores, uma parcela de R$ 3 milhões referente ao Campeonato Gaúcho que ainda não foi paga, mais R$ 2,6 milhões das oitavas de final da Copa do Brasil. Outros R$ 3,6 milhões são referentes à venda de produtos do clube, já que as lojas estão fechadas, mais R$ 3 milhões de projeção de queda no quadro social e, ainda, R$ 2 milhões por perda estimada de patrocínio.
— Se tivermos medidas compensatórias, como suspensão de tributos e de tudo aquilo que possa ser oferecido aos clubes, como renegociação de contratos e pagamentos, talvez a gente consiga passar por esse período sem sobressaltos. Senão, vamos recorrer a empréstimos para poder pagar nossos funcionários — ressalta o presidente Romildo Bolzan Júnior.
Do lado colorado, ainda não foi feito um cálculo a respeito dos valores que deixarão de entrar nos cofres do clube. Contudo, as quantias referentes a premiações são as mesmas do rival, já que ambos estão em fases iguais nas mesmas competições. Outro ponto que preocupa a direção do Inter é a janela do meio do ano, normalmente a que movimenta mais o mercado do futebol europeu, que em razão da crise causada pelo coronavírus deverá diminuir os investimentos dos gigantes do Velho Continente.
— São várias rubricas isoladas. Não sabemos o reflexo financeiro ainda. Vamos ter essa noção lá por agosto, setembro, quando poderemos avaliar melhor o prejuízo. Mas nos assusta muito até mesmo a questão da janela, que certamente terá negócios muito menores do que os clubes brasileiros previam. E, aqui no país, todas as equipes dependem dessas vendas — lamenta Alexandre Chaves Barcellos, vice-presidente do Inter.
A dupla Gre-Nal, ao longo deste período, fará campanhas pedindo aos sócios que continuem contribuindo. A arrecadação do quadro social está entre as principais dos dois clubes e, por isso, os dirigentes fazem apelo para que os associados, que tiverem condições de manter suas mensalidades em dia, façam os pagamentos normalmente. Ainda assim, tanto de um lado quanto de outro, há o entendimento de que essa será uma renda afetada, já que a crise atinge a todos e os jogos, principal produto oferecido, não estão ocorrendo.
Inicialmente a Dupla não acionará o artigo 503 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que possibilita aos empregadores reduzir em até 25% os salários de seus funcionários "em caso de força maior ou prejuízos devidamente comprovados". Mesmo que a covid-19 possa se enquadrar neste artigo, a ideia é evitar, ao menos em um primeiro momento, discutir essa diminuição nos vencimentos.
— Estamos ainda no terceiro dia. Vamos nos esforçar ao máximo para manter os nossos funcionários com o mesmo salário e sem demissões. Óbvio que não sabemos o que vai acontecer e, se ficar difícil, algumas medidas serão tomadas, mas ainda não é o momento para discutirmos essas medidas drásticas — garantiu Barcellos.
O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, disse que essa possibilidade ainda não está na mesa. O clube irá aguardar o cenário para ver o quanto o coronavírus afetará as finanças da instituição. Porém, ele não descarta que essa ideia seja colocada sob análise:
— Possivelmente, venha como sugestão aos clubes brasileiros, com a proporcionalidade de supressão de salários mediante redução de carga horária. Neste momento, até a semana que vem, é isso. Depois, se conseguirmos suprir essa situação, vamos tocar assim. Se tivermos de ajustar, adequar, vamos examinar essa medida. Ela ainda não está na mesa, mas está no rol das ações.
Com boa parte de seus funcionários trabalhando em casa, a Dupla aguarda os anúncios por parte das autoridades. Enquanto isso, o pedido é de apoio dos torcedores, que sigam comprando os produtos oficiais nos sites dos clubes e mantendo as mensalidades em dia. Porque, como qualquer empresa, em época de crise, qualquer contribuição será bem-vinda.
Cálculo de prejuízo no Grêmio
- Com as lojas fechadas: R$ 1,2 milhão (por mês)
- Perdas do quadro social: R$ 1 milhão (por mês)
- Possível perda de patrocínio: R$ 2 milhões
- Cotas de dois jogos em casa da Libertadores: R$ 10 milhões
- Parcela da cota do Gauchão que ainda não entrou: R$ 3 milhões
- Cota das oitavas de final da Copa do Brasil: R$ 2,6 milhões
Cálculo de prejuízo no Inter
- Com as lojas fechadas: R$ 1,5 milhão (por mês)
- Perdas do quadro social: não estimado
- Possível perda de patrocínio: por ter contratos anuais, acredita que não terá perdas
- Cota de dois jogos em casa da Libertadores: R$ 10 milhões
- Parcela da cota do Gauchão que ainda não entrou: R$ 3 milhões
- Cota das oitavas de final da Copa do Brasil: R$ 2,6 milhões