Futebol, futebol, futebol. Esses eram os "três" objetivos da vida de Matheus Henrique de Souza. Não à toa tornou-se jogador de Seleção Brasileira devido às boas atuações com a camisa do Grêmio. Antes desse sucesso aos 22 anos, viveu momentos de altos e baixos até virar profissional no São Caetano aos 18 anos, em 2016.
Ainda criança, começou a trajetória esportiva no Nacional, de São Paulo, com oito anos. Mas não foi assim ao natural. O pai, João Henrique, técnico em enfermagem, e a mãe, Cláudia Cristina, pedagoga, não tinham condições financeiras para bancar a escolinha.
Mas Matheusinho, sempre acompanhado de uma bola, queria jogar. Na escola, era o craque da turma. De tanto ouvirem que o filho era acima da média, os pais resolveram colocá-lo para treinar.
— As pessoas nos falavam que ele jogava muito. Ele amava aquilo. Sempre gostei de futebol, mas não jogava — brinca João.
O início não foi fácil. Com apenas oito anos, para ir até a escolinha, tinha de pegar ônibus sozinho. Levava meia hora para chegar. O pai conta que o esforço da família para Matheus jogar sempre teve um motivo maior por trás:
— Ele respirava futebol. Então, a gente se esforçou para dar condições. Sabíamos que dando esse caminho, teria menos chance de se perder no crime ou nas drogas.
A família não esbanjava dinheiro. Pelo contrário, passava apertos. Mas João garante que ele e Cláudia sempre fizeram de tudo para dar suporte a Matheus e à irmã dele, Giulia, hoje com 15 anos.
— A gente não dava o que não podia. Mas o essencial nunca faltou — afirma o pai, que teve Matheus aos 19 anos.
Com 12 anos, foi jogar no Liderança, clube amador do bairro Pirituba, em São Paulo. Foi lá onde conheceu Arthur Contrera, o Tutu, que hoje atua no Paulista de Jundiaí. Eles moravam perto um do outro e estudavam e treinavam juntos. Mesmo quando Matheus voltou para o Nacional-SP, desta vez como atleta das categorias de base, e não na escolinha. Por lá, em 2013, disputou a primeira Copa São Paulo de Futebol Júnior, com 15 anos. Entrou em dois dos três jogos. Passou dois meses no Fluminense, mas não se adaptou.
— O Matheus nunca tinha dormido uma noite sequer fora de casa. Ele ligava chorando, dizendo que queria ir embora, que não queria ficar lá — releva o pai.
Matheusinho voltou para São Paulo, mas logo teve sua primeira passagem pelo Grêmio. Em Porto Alegre, teve uma adaptação mais fácil. Ficou até o fim de 2013, quando acabou dispensado. Sem clube, chegou a jogar no futebol amador para não ficar parado até que surgiu a chance no São Caetano. No ABC Paulista, além de conhecer Nonato, reencontrou Tutu. Desta vez, no entanto, como adversário.
— Eu estava no Nacional-SP e ele no São Caetano sub-17. A gente se via todos os dias na escola, mas dentro de campo o bicho pegava — conta o amigo.
Assim como a situação vivida por Matheus e Nonato hoje, amigos e de clubes adversários em Porto Alegre, a parceria com Arthur era fora das quatro linhas. Conforme Tutu, essa rivalidade fora de campo nunca atrapalhou a amizade:
— Era até mais motivador. A gente apostava, e quem perdia pagava o lanche a semana inteira. Foi uma época muito feliz.
O amigo lembra que, desde esse período, era difícil competir com Matheus. A qualidade do garoto, que hoje brilha com a camisa tricolor, era acima da média.
— Ele era diferenciado demais. Muito rápido. Na época ele era atacante e não tinha como pegar a bola do pé dele. Sou suspeito para falar, mas acho que ele merece estar mesmo na Seleção e logo estará em algum grande da Europa — avalia Tutu.
Da reserva até a seleção, um ano inesquecível
O destaque no São Caetano o recolocou no Grêmio. O sucesso foi rápido. Para um garoto que sequer estava na lista da Libertadores de 2018, alcançar a titularidade e vestir a camisa Canarinho foi um salto inimaginável na vida da família.
— A convocação pelo Tite foi uma surpresa. É uma emoção que não sei descrever. Só se compara com a primeira vez que ele esteve na lista dos profissionais do Grêmio — diz o pai de Matheus.
A vida da família mudou da água para o vinho. Pai, mãe e irmã saíram de São Paulo para viver com Matheus, em Porto Alegre. Deixaram emprego, família, amigos, para morar em um condomínio fechado na Zona Norte da Capital gaúcha. Nada que tenha mudado a essência dos Souza.
— Somos uma família muito unida. Era difícil ficarmos longe — ressalta João.
Fã de videogame, música brasileira (pagode, sertanejo e funk) e do ex-volante Iniesta, o pai acredita que, se o filho não fosse jogador, restaria a opção de ser comediante. Conhecido pelas brincadeiras, 2019 foi o ano em que Matheus deixou de ser Matheusinho para tornar-se Matheus H., tal qual mostra a camisa da Seleção Brasileira exposta na sala da casa onde mora com a família. E se 2019 foi bom (era reserva no Grêmio até abril, quando entrou no time ao lado de Jean Pyerre), 2020 pode ser ainda melhor.
— Acreditamos que no ano que vem virão os títulos e ele vai ficar marcado na história do Grêmio. É isso ele mais quer — expõe o pai.