As palavras foram duras, o choro, inevitável, mas foram dispensas de clubes maiores que uniram Matheus Henrique e Nonato. Depois de disputar uma Copa São Paulo de Futebol Júnior com 15 anos pelo Nacional-SP, Matheusinho fez teste no Fluminense, onde ficou por dois meses, mas seu destino acabou sendo o Grêmio. Sim, o guri já havia vestido a camisa tricolor.
— Me ligou chorando, bastante frustrado. Disse que tinham dado mais duas semanas para ele ficar no clube, mas ele quis ir embora na hora. Comprei a passagem e ele veio o mais rápido possível. Ficou triste, né. Mas faz parte — conta João, pai do Matheus Henrique.
Para não ficar parado, foi jogar por um time da cidade de Caieiras, organizado pela prefeitura. Em pouco mais de dois meses, disputou campeonatos e logo surgiu a oportunidade de ir para as categorias de base do São Caetano.
Já Nonato iniciou no time de futsal do Juventus da Mooca, em São Paulo. Aos 13 anos, foi vestir a camisa do Corinthians. Por lá, atuou até os 15, quando foi dispensado.
— Quando foi dispensado pelo Corinthians, chegou a pensar em parar — diz Walter, pai de Nonato.
Ainda que logo tenha ido jogar pelo Azulão, viveu dias de angústia após a saída do time da Capital. Um papo com o amigo Guilherme Antunes foi fundamental:
— Falei para ele pensar bem, porque ele estava em um lugar bom e que precisava estar pronto para quando a oportunidade aparecesse — recorda o vizinho, que cresceu no mesmo condomínio de Nonato.
Quem acompanhou os dois garotos no clube do ABC paulista foi Marquinhos Pitbull, técnico do time sub-17:
— Aprovei Matheus e Nonato no teste e jogaram comigo. Eu estava montando o time. Gostei muito deles e dei oportunidade.
Não demorou até a dupla subir de categoria. Matheus estreou pelos profissionais na Série A2 do Paulistão, em 2015, com 17 anos. Já Nonato subiu no ano seguinte, com a mesma idade do amigo.
O presidente do São Caetano, Nairo Ferreira, lembra que logo na chegada dos dois jogadores ao clube era possível perceber que eram diferenciados.
— Apostava mais no Nonato do que no Matheus. Mas me impressiona como está bem hoje no Grêmio. Aqui ele era meia. O Renato achou a posição. Hoje, como segundo volante, Ave Maria! Joga igual ao Arthur do Barcelona! — salienta o mandatário do clube paulista, que está no cargo há 23 anos.
Fora de campo, os dois eram queridos por todos dentro do clube. Do presidente aos funcionários, não há quem fale mal dos "meninos de ouro" do São Caetano.
— O Matheusinho sempre foi o mais louco, mas é uma pessoa maravilhosa, com uma índole muito boa. Já o Nonato era aquele menino de berço, com uma educação fantástica, mas era mais retraído — destaca Ferreira.
Funcionária de serviços gerais do São Caetano, Rosimeire Aparecida Gonçalves trabalha no clube há 10 anos — responsável pela limpeza dos quartos e banheiros do alojamento onde vivem 32 garotos. Fala dos dois com muito carinho:
— São meninos bons, gente fina, conversavam com a gente. Fico na torcida pelo sucesso deles.
A felicidade aumenta à medida do sucesso que Matheus e Nonato alcançam em Grêmio e Inter. Rosimeire tenta acompanhá-los à distância. A funcionária conta que se emocionou ao ver pela televisão Matheusinho jogando amistosos pela Seleção Brasileira do técnico Tite em outubro passado.
— Quando vi, eu chorei. Não pensava que ia vê-lo jogando com a camisa do Brasil. Chorei muito de alegria, porque ele merece — contou Rosimeire.