A garagem da casa da família, em um condomínio fechado no bairro Ponte Grande, em Guarulhos, foi o primeiro "campinho" de Nonato. Ou melhor, de Gu. Em entrevista que durou duas horas na residência onde Gustavo Nonato Santana cresceu, foi assim que a família se referiu ao volante.
O primeiro "time" de Gu foi com vizinhos no primeiro andar da casa, chamado AD Juvento — porque não coube o "S" nas camisas. O uniforme, feito à mão pelos meninos, carrega além dos nomes e números, os patrocinadores — empresas das famílias dos garotos. Uma delas, a dos pais de Nonato, chamada WG3, que trabalha com alta tecnologia para a indústria de eletrônicos em São Caetano. A sigla, inclusive, se deve aos nomes do pai, Walter, e da mãe Gerceley, além dos dois filhos, Gustavo e Giovanna.
Apaixonado por futebol, Nonato é diferente da maioria dos garotos que tornam-se jogadores. Não tinha a inspiração em casa. Outra diferença é a condição familiar e o bom desempenho na escola — algo incomum a meninos que acabam focando na bola.
— Ele sempre foi inteligente. Sempre soube conciliar o estudo e o futebol. Não estudava em uma escola fácil. Então, era uma referência para nós — afirma Felipe Freitas, amigo de infância.
Os pais e a irmã lembram que ele ia muito bem em redação, tendo vencido uma olimpíada de ortografia no colégio, embora gostasse das matérias exatas, como matemática. Tanto que chegou a cursar Gestão Financeira quando ainda atuava pelo São Caetano.
Ao longo da infância, precisou conciliar estudos, futebol e, claro, a hora de brincar.
— A gente sempre deixou claro que ele tinha de fazer tudo isso paralelamente, que não poderia abrir mão dos estudos. E ele deu conta disso. Claro, saia de casa de manhã cedo e voltava tarde da noite, mas ele conseguia porque era muito dedicado — diz a mãe.
A vida mudou mesmo em 2013, quando passou a fazer parte das categorias de base do Corinthians.
— Ali nós vimos que a coisa estava ficando séria — lembra o pai.
Foi dispensado anos depois e teve a oportunidade no São Caetano em 2015. Por lá disputou Copa São Paulo de Futebol Júnior, estaduais pela base e até mesmo as séries A e A2 do Paulistão como profissional antes de chegar ao Inter, em maio de 2018, por empréstimo. O Colorado exerceu a opção de compra de 50% em setembro deste ano.
— Ele foi muito bem recebido por todos lá. Já tem Porto Alegre como sua segunda casa — conta Gerceley, que agradeceu especialmente às assistentes sociais do clube e aos jovens jogadores, como Heitor e Bruno Fuchs, que acolheram o filho, que na Capital gaúcha virou "The Lion" (O Leão, em inglês) por causa dos cabelos esvoaçantes.
— Ele gostava muito de Rei Leão. Tinha uma fantasia, subia no sofá e ficava rosnando. É uma coincidência engraçada ter esse apelido hoje — relembra a mãe.
Apelido mesmo o único que pegou foi cabeça, usado por alguns amigos. Mas ele era conhecido mesmo por chamar aos outros por nomes estranhos.
— O Gu é o rei dos apelidos. Inventa um para cada pessoa — recorda Giovanna, mais conhecida como Tuty, atriz e dubladora.
Se o futebol é a grande paixão, outros esportes já foram amantes. Na infância, andava de skate, foi goleiro de handebol e era craque no tênis de mesa. A veia artística da irmã teve influência de Nonato, que tocava teclado. Hoje, não toca instrumento, mas curte reggaeton.
Expulsão que virou aprendizado
O ano no Inter foi bom. Mas um fato marcou a temporada de Nonato: a expulsão no Gre-Nal 418, quando o Colorado levou 1 a 0.
— Ele sofreu. A gente sofreu. Mas até foi bom. O que ele amadureceu com aquela situação foi absurdo — conta o amigo Tarcisio Couto.
Por ironia, o vermelho veio após lance contra Matheus Henrique, que se manifestou horas depois dando apoio do amigo: "Somos rivais apenas em campo. Levanta a cabeça, sou um dos seus maiores fãs, te amo". Até mesmo o pai de Matheus, João, ligou para Nonato:
— É um cara muito bom. Liguei convidando para vir aqui em casa comer um churrasco, para esquecer aquilo. Ele não quis, disse que não estava no clima, e eu entendi.
Nada que não tenha ficado no passado. Para o futuro, a vontade é muito maior do que um Gre-Nal.
— O maior desejo dele, hoje, é ganhar um título com a camisa do Inter — destaca Walter.
Mas sempre surgirão as perguntas: ele sonha com a Seleção Brasileira? Ele quer jogar na Europa? A mãe, Gerceley, defende dizendo que é natural para qualquer atleta pensar nisso. Afinal, Nonato fala inglês e tem cidadania italiana, o que pode facilitar um interesse de clubes do Velho Continente.
— Ele não é de ficar falando, mas é lógico que sonha ir para a Seleção Olímpica no ano que vem. E quanto à Europa, a gente sabe que ele joga bem, tem boa qualidade, está em um time de primeira, tem cidadania europeia. Tem tudo para fazer carreira lá também — projeta a mãe.