Jovens, promissores, paulistas, amigos e rivais. Essas palavras definem um pouco da relação entre Matheus Henrique, 22 anos, e Nonato, 21. Os guris que se conheceram nas categorias de base do São Caetano, ainda no sub-17, hoje são adversários em Porto Alegre, mas nada que tenha abalado a ótima relação construída.
GaúchaZH esteve em São Paulo para mergulhar nos bastidores do Azulão e conversar com familiares e amigos para reconstituir as histórias dos dois atletas.
O volante do Grêmio foi o primeiro a chegar ao clube. Em outubro de 2014, aos 16 anos, o ainda meia-atacante Matheusinho foi parar no clube do Canindé. Logo conheceu o recém-chegado Nonato, um ano mais novo e um tanto mais inibido. Por lá, formaram uma dupla de meio-campistas habilidosos e de bom passe. Mas se a relação era de companheiros dentro de campo, fora dele era de irmãos.
Os dois sempre foram muito amigos. Não só dentro de campo, mas fora também eram bem próximos. Até hoje eles se falam, me mandam fotos juntos
FELIPE PEREIRA
Colega de Matheusinho e Nonato no São Caetano
— Os dois sempre foram muito amigos. Não só dentro de campo, mas fora também eram bem próximos. Até hoje eles se falam, me mandam fotos juntos — conta Felipe Pereira, o Felipinho, que jogou com os dois no São Caetano.
Nos primeiros anos no clube, porém, nenhum deles morava na cidade localizada na Região Metropolitana de São Paulo. Ambos usavam trem ou ônibus para voltar para casa todos os dias. Matheus vivia no bairro Parada de Taipas, na região noroeste da Capital, enquanto Nonato era morador de Guarulhos, segundo maior município do Estado e mais conhecido pelo Aeroporto Internacional de São Paulo. Eles levavam quase 1h até o centro de treinamento do Azulão.
Para ganhar tempo, Matheusinho mudou-se para o alojamento do São Caetano. Viveu cerca de um ano na sede do clube, antes de subir aos profissionais e se mudar para um apartamento alugado pelo time para jogadores do Azulão. Lá, ele viveu por mais de um ano com Paulo Vinícius, meia que já atuava pelos profissionais.
— Nonato ia e voltava de Guarulhos todos os dias e o Matheus ficava no alojamento. Mas, como ele subiu para os profissionais e o clube disponibiliza apartamento, na época era solteiro e morava em um apartamento bom, que tinha três quartos, aí chamei o Matheusinho para morar comigo — lembra Paulinho.
Eles iam juntos aos treinamentos e revezavam os carros — um dia iam no dele e outro no do Matheus.
— Ele tinha um Golzinho velho, que deixava a gente na mão direto. Graças a Deus que essa situação mudou — brinca Paulo Vinícius.
Os três eram muito próximos. Tanto que, no verão de 2016, o trio estava sendo pouco aproveitado no time profissional e resolveu fugir do calor de São Caetano após um treino e pegar praia em Guarujá, distante cerca de 80 quilômetros. O problema foi a falta de gasolina no carro do Matheus Henrique.
— O Matheusinho não se deu conta que estava na reserva. Estacionamos no Guarujá e na hora de ir embora o carro não queria pegar. Não tinha posto perto para comprar gasolina. Aí começamos a chacoalhar para ver se caía um pouco de gasolina. Chacoalhamos, chacoalhamos, até que deu certo e conseguimos ir a um posto abastecer e voltar para São Caetano — recorda o jogador.
Enquanto Nonato ainda não morava na cidade, sua segunda casa era a de Matheus Henrique. Cansado, por vezes o guri colorado avisava os pais que dormiria no apartamento do amigo.
— Às vezes ele queria ficar por lá. Ele me ligava e falava: "vou ficar por aqui hoje". E ele ficava onde? Na casa que era do Paulinho e do Matheus. Eles moravam lá e ele ficava junto com os dois no apartamento eventualmente — diz a mãe de Nonato, Gerceley.
Segundo os colegas de equipe, Matheus e Nonato viraram amigos mesmo na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2015, quando os dois foram destaque de uma boa campanha do Azulão, que acabou eliminado pelo Corinthians nas quartas de final. Na segunda partida da fase de grupos, ambos marcaram na vitória por 3 a 2 sobre o Flamengo de Guarulhos.
Eles ficaram muito amigos desde a Copinha. Conviver com eles era muito bom (...). E mesmo hoje que um joga no Grêmio e o outro no Inter não viraram as costas
FELIPE PEREIRA
— Eles ficaram muito amigos desde a Copinha. Conviver com eles era muito bom, porque além de jogarmos juntos tínhamos essa amizade. Ficávamos juntos até na folga, porque a convivência era muito boa. A gente dava muita risada, sempre fomos muito amigos. E mesmo hoje que um joga no Grêmio e o outro no Inter não viraram as costas — destaca Felipinho.
Sobre essa convivência com eles, não há quem discorde de que era diversão na certa. Bagunceiros e brincalhões, Matheus e Nonato animavam o time.
— Aqueles dois são os caras mais palhaços que já vi. Juntava os dois e era só risada — relata Felipinho.
— Estavam sempre jogando videogame, brincando, se provocando no busão indo para o treino. Geral dava muita risada dos dois — acrescenta Paulinho.
Não à toa a dupla é bem quista nos grupos de Grêmio e Inter. Reparem: seja em campo, nos treinamentos ou nas entrevistas, Matheus e Nonato deixam claro que a boa relação com os companheiros é algo natural, que trouxeram dos tempos de São Caetano. Talvez inspirados pela proximidade um com o outro, inclusive. Porque além de colegas de trabalho, os dois ganharam verdadeiros irmãos no futebol.