Artilheiro do time na temporada e mais novo titular de Renato Portaluppi: este é o status adquirido por Marinho a partir dos gols marcados sobre o Veranópolis. Parece que finalmente o jogador está compensando os US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 9 milhões) investidos nele na metade do ano passado. Aos 28 anos, o atacante tem no Grêmio a melhor média de gols de sua carreira: 0,67 gol por jogo. Mas não foi sempre assim. Nem aquele 2016, quando ajudou o Vitória a se livrar do rebaixamento, iguala a arrancada de 2019 vivida pelo jogador.
— Acho que o Renato está conseguindo entender a cabeça dele. No ano passado, ele veio em uma situação diferente. As pessoas já queriam que, nos primeiros jogos, fosse o "Di Marinho" do Vitória. O jogador que vai lá para fora precisa de um tempo de adaptação. Agora, ele fez uma pré-temporada, está melhor fisicamente. Precisava se sentir feliz no lugar, se sentir querido — explica Argel Fucks, que o comandou em Salvador.
Antes do Vitória, Marinho cruzou o caminho de Argel no Caxias, quando fez seis jogos pela Série D de 2011, sem ter marcado nenhum gol.
— Eu o peguei muito garoto. Foi muito pouco tempo e ele ainda teve uma lesão no joelho — recorda Argel.
O Caxias foi apenas um dos clubes que o Marinho peregrinou, emprestado pelo Inter, que não o utilizava no elenco principal depois de tê-lo trazido do Fluminense como uma grande joia. De fato, o jogador demorou a desabrochar. Rodou por Paraná, Goiás, Ituano e Náutico, jogando Estaduais e Série B do Brasileirão, e em todo este período (de 2011 a 2014) fez os mesmos quatro gols desta temporada.
O ano que marcou o ressurgimento de Marinho para o futebol nacional foi 2015, defendendo o Ceará. Primeiro, chamou a atenção por uma entrevista pós-jogo em que, comunicado pelo repórter na saída de campo de que estava suspenso para a rodada seguinte, disparou: "Que m*! Não sabia, não!". A resposta inesperada, misturando palavrão e ingenuidade, viralizou nas redes sociais. Dentro de campo, foi marcar o primeiro de seus nove gols somente em março, na 12ª partida disputada. Dali, foi contratado pelo Cruzeiro, de Vanderlei Luxemburgo.
— Quando eu cheguei ao Ceará, eu colocava o Marinho e a torcida me vaiava. Depois, quando eu o tirava, era vaiado. A gente acabou sendo campeão da Copa do Nordeste e ele foi um dos caras importantes. Antes da proposta do Cruzeiro, ele recusou uma oferta do México. Como joguei muitos anos no San Lorenzo, e eles gostam muito de mim lá, o indiquei para o San Lorenzo. Vi que era uma oportunidade de ter um jogador brasileiro para dar sequência no que eu fiz. A esposa dele ficou amiga da minha mulher. Ele tem uma personalidade forte, entra e só pensa em ganhar. Não tem medo de nada. Os caras batem, ele aguenta muito bem a pancadaria — comenta Silas, hoje técnico do São Bento, que treinou Marinho no Ceará.
Em Minas Gerais, Marinho só balançou as redes uma vez: justo na estreia, contra o Athletico-PR. De resto, foi um 2015 em branco. Poderia ser um indício de que o estoque de gols seria gasto na temporada posterior, pelo Vitória. Inicialmente comandado por Vágner Mancini, o atacante marcou duas vezes nas seis primeiras rodadas do Campeonato Baiano. Mas foi sob o comando de Argel, mais uma vez, que o jogador transformou-se na referência da equipe. Tanto que, nos últimos quatro meses daquele ano, fez oito gols em 11 jogos (único recorte em que apresenta média superior à atual).
— O time estava na vice-lanterna e nós escapamos com uma rodada de antecedência. E isso muito graças ao Marinho, que era nosso melhor jogador. Ele virou o "Di Marinho" — brinca Argel, usando o trocadilho com o argentino Ángel Di María, cunhado pela torcida baiana.
Pela Superliga Chinesa de 2017, com o Chanchung Yatai, Marinho deixou o "Di Marinho" para trás: foram 17 rodadas e apenas três gols. Teve números inferiores em 2018, quando vestiu a camisa tricolor em 16 rodadas e balançou as redes uma única vez (quando o time reserva venceu o Flamengo, pelo Brasileirão). O 2019 de Marinho, de fato, começa diferente.
Confira os números de Marinho ao longo da carreira:
2010: Inter - 1 jogo e nenhum gol
2011: Inter - 3 jogos e nenhum gol
2011: Caxias - 6 jogos e nenhum gol
2011: Paraná - 7 jogos e 2 gols
2012: Goiás - 6 jogos e nenhum gol
2013: Ituano - 11 jogos e 1 gol
2014: Náutico - 21 jogos e 1 gol
2015: Ceará - 28 jogos e 9 gols
2015: Cruzeiro - 12 jogos e 1 gol
2016: Vitória - 43 jogos e 21 gols
2017: Chanchung Yatai - 17 jogos e 3 gols
2018: Chanchung Yatai - 5 jogos e nenhum gol
2018: Grêmio - 16 jogos e 1 gol
2019: Grêmio - 6 jogos e 4 gols