A eleição que definirá o presidente do Grêmio para o triênio 2020/2022 só ocorre em dezembro, mas o assunto ganha proporção nos corredores da Arena: uma nova reeleição de Romildo Bolzan Júnior. O atual mandatário tricolor foi o personagem de uma campanha que tomou as redes sociais. Tudo começou no dia 14 de fevereiro, quando a hashtag #VamosAclamarRomildo chegou aos trending topics em Porto Alegre, se tornando o assunto mais comentado no Twitter.
— Não estou absolutamente nem um pouco atrás disso. São movimentos que acontecem, a gente escuta, mas não estimulo e não vou atrás — limita-se a dizer Romildo.
Nos últimos dias, um grupo de conselheiros buscou o parecer de juristas para fazer a interpretação do estatuto do Grêmio para uma nova eleição. O entendimento inicial era de que Romildo estaria impossibilitado de concorrer mais uma vez, porque ocupa o cargo desde 2015 e já foi reeleito em 2017. Conforme o artigo 82, o presidente "será eleito para um mandato de 3 (três) anos, permitida uma reeleição". Como conselheiros aprovaram, em setembro de 2015, a mudança estatutária que aumentou o tempo de mandato presidencial de dois para três anos, o argumento seria de que Romildo está em seu primeiro triênio, podendo concorrer à reeleição para mais um. Caso esta leitura não seja consensual, o grupo não descarta uma nova modificação no estatuto.
Para conselheiros de oposição, uma possível reeleição desobedeceria o acordo feito com o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). Conforme o parágrafo segundo do artigo 4º da Lei do Profut, para que um clube se mantenha nos conformes, é exigida a "fixação do período do mandato de seu presidente ou dirigente máximo e demais cargos eletivos em até quatro anos, permitida uma única recondução". Como já ocupa o cargo há cinco anos, Romildo estaria impossibilitado de renovar sua permanência pelas próximas três temporadas.
Candidato de consenso
Mesmo que Bolzan, atualmente, não pense em reeleição, pessoas próximas devem tentar convencê-lo do contrário. Depois de ter sido reeleito há três anos com 85% dos votos dos associados, ele seria o único nome de consenso dentro do clube.
— Essa foi uma gestão de pacificação. Nem mesmo o maior movimento político que já fez oposição pretenderia apresentar um nome — comenta um conselheiro, que pediu para ter seu nome preservado.
Nas últimas duas eleições, o Movimento Grêmio Independente (MGI) foi derrotado ao apresentar os nomes de Homero Bellini Júnior e Raul Mendes, respectivamente. O cenário de consenso só se modificaria caso o candidato da situação não seja Bolzan. Nesta hipótese, além de reacender a oposição, os movimentos políticos que hoje compõem a gestão (Grêmio Sempre, Grêmio Sem Fronteiras e Grêmio Imortal, entre outros de menor projeção) poderiam se dividir.
Do Grêmio Sempre, os nomes de maior expressão são Adalberto Preis, atual membro do Conselho de Administração, e Odorico Roman, que comandou o futebol no ano da conquista da Libertadores, em 2017. Os dois seriam candidatos em potencial caso a ideia de um terceiro mandato não vingue. Do Grêmio Sem Fronteiras desponta Cláudio Oderich, e do Grêmio Imortal, Marcos Hermann – ambos vice-presidentes.
Uma outra figura que poderia manter o grupo coeso é o ex-presidente Duda Kroeff, que acumula o cargo de vice de futebol e membro do Conselho de Administração. Mas ele teria sinalizado para amigos que não deseja reassumir o clube.
Vida política
Se a questão desportiva é uma aliada para quem sonha com uma possível reeleição de Bolzan, a política pode ser um impeditivo. Nome forte do Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual foi até presidente estadual, o dirigente gremista é o nome predileto para concorrer ao governo do Estado em 2022. Ele já havia negado o convite do partido para se candidatar ao Senado em 2018.
— Em dezembro, vamos ter eleições para a direção estadual do partido e queremos ver se ele volta para a casa para voos maiores. Queremos que ele esteja na linha de frente — afirma o deputado federal e presidente estadual do PDT, Pompeo de Mattos.
Independentemente da vontade de Bolzan, um fator poderia atrapalhar os planos do PDT e de um terceiro mandato no Grêmio: uma condenação por improbidade administrativa nos tempos em que foi prefeito de Osório. Como Bolzan recorreu, o processo ainda aguarda um novo julgamento. Caso seja condenado em segunda instância, além da carreira política, o desejo de estender a gestão Romildo no Grêmio seria interrompido. De acordo com o estatuto do clube, o candidato não pode estar "enquadrado em qualquer dos casos de impedimentos previstos em lei". E a candidatura poderia ser impugnada.
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