Exatos dois anos atrás, o Grêmio anunciava Renato Portaluppi como seu novo treinador. Era o final da tarde de domingo, 18 de setembro, o time recém havia sido derrotado pelo Fluminense, na Arena, pelo Brasileirão, e a direção entendia que somente um técnico inteiramente identificado com o clube poderia sacudir o marasmo que havia invadido o vestiário. Renato, que chegava para o lugar de Roger Machado com a missão de salvar o ano, fez muito mais do que isso. Ainda naquele restante de 2017 conduziria o Grêmio ao pentacampeonato na Copa do Brasil, interrompendo uma massacrante rotina de 15 anos sem grandes títulos.
Nesta terça (18), ao completar dois anos de casamata e com outras três taças no currículo - Libertadores, Recopa Sul-Americana e Gauchão -, o técnico estará à beira do gramado do Monumental José Fierro, na calorenta e úmida San Miguel de Tucumán, para comandar o Grêmio na arrancada rumo às semifinais da Libertadores. O adversário é o surpreendente Atlético Tucumán, um pequeno que ousou intrometer-se no mesmo palco de Boca Juniors, River Plate e Independiente, os outros argentinos classificados para as quartas de final.
A credibilidade alcançada nos últimos 24 meses serve de salvaguarda ao técnico para contornar a crise que a demissão dos médicos Márcio Bolzoni e Felipe do Canto poderia gerar. Ruidosa nos bastidores, a alteração em um setor crucial do vestiário é blindada pelo pulso forte do treinador. Foi com os problemas de dentro do campo que Renato se envolveu nos últimos dias. Entre todas as dificuldades, a de mais complicada solução é a do centroavante. Luan, ao que tudo indica, ocupará a vaga que, em condições normais, seria de Jael ou André, cujas lesões, ao que tudo indica, estão no epicentro da demissão dos dois médicos.
O jogo de volta será dia 2 de outubro, na Arena. Como se trata de um adversário argentino, ainda que sem a grife de um Boca Juniors ou de um River, Renato prevê dificuldades logo mais. Por isso, trata de aliviar a carga que recai sobre seu grupo:
— Vamos tentar trazer o menos possível de encrenca para a gente.
Confira os desafios que cruzam o caminho do Grêmio nesta terça (18)
O centroavante
Sem Jael e André, o Grêmio contará com um ataque formado por jogadores de maior mobilidade hoje à noite. Tudo indica que Luan volte a ser o chamado falso 9, o atacante que, sem ser referência entre os zagueiros adversários, infiltra-se na área para concluir. Uma fórmula exitosa nas temporadas de 2015, 2016 e 2017. Foram 70 jogos e 18 gols.
O mais importante é que não será exclusiva de Luan, que vive fase irregular, a responsabilidade de colocar a bola na rede adversária. Ele contará com o poderoso auxílio de Everton, agora um jogador com grife de Seleção Brasileira.
1 Nossa versatilidade na frente é útil. A flutuação dos jogadores de frente pode ser importante sem um jogador ali de referência no ataque. Temos que usar os espaços. Os zagueiros poderão ficar um pouco perdidos, sem saber a quem marcar — observa Everton, que já marcou 15 vezes em 2018.
Caso Luan seja mesmo o centroavante, Thaciano deverá ficar com sua vaga no setor de armação.
A força dos "cascudos"
Já são 18 Libertadores na vida do Grêmio. Tricampeão, o clube tem a competição em seu DNA e conta com um grupo que conhece os atalhos. Sobra experiência a jogadores como Geromel, Kannemann, Maicon, Cícero e Luan, eleito no ano passado o melhor jogador da América. Marcelo Grohe, por exemplo, está em sua quarta edição de Libertadores como goleiro titular do Grêmio. Em 2017, uma defesa na partida contra o Barcelona-EQU, em Guayaquil, entrou para o rol das melhores da história do futebol. Ele fala sobre os riscos do jogo de hoje.
— Enfrentar time argentino é sempre muito difícil. Nós nos lembramos do jogo em Quilmes, contra o Estudiantes, e é uma guerra, no bom sentido da palavra. Foi um time que bateu bastante, marcou muito forte, se entregou, se doou _ diz Grohe, prevendo quadro semelhante logo mais. — Certamente o Tucumán vai fazer a mesma coisa, que é a característica argentina. Eles têm muita obediência tática. Esperamos um duelo muito duro com eles.
Mais força na direita
De sombra a titular. Leonardo Gomes, 22 anos, ganhou de Léo Moura, 39, a disputa de gerações e será o lateral-direito hoje à noite. Renato, ao explicar a troca, citou a necessidade de preservação de um jogador que completará 40 anos em outubro, exposto ao desgaste de duas competições paralelas.
Quanto a Leonardo, é visível seu crescimento comparado com a temporada de 2017, quando recém havia chegado do Boa. Hoje, destaca-se por uma marcação vigorosa, facilitada pela força física, algo que será importante no enfrentamento com La Pulga, o mais perigoso atacante do Tucumán.
— Quando ele chegou do Boa, começamos a lapidá-lo, corrigi-lo, dar moral, ele aos poucos foi adquirindo confiança. Todas as vezes que precisamos, ele deu uma resposta muito boa _ explica Renato.
Renato projeta a volta de Léo Moura domingo, contra o Ceará. Dependendo da resposta a ser dada hoje por Leonardo, a interinidade poderá virar titularidade.
Casa cheia
A boa fase do Atlético Tucumán garantiu casa cheia para o jogo de hoje. A empolgação da torcida anima a direção do clube. Apesar da capacidade oficial do estádio ser superior a 30 mil pessoas, por questões de segurança, serão vendidos apenas 29 mil ingressos. E, até a noite de ontem, a previsão era de que todos os lugares para os torcedores argentinos serão comercializados.
— A nossa expectativa é de 29 mil torcedores. Casa cheia e uma linda festa _ projetou Pablo Martinez, diretor de tecnologia e um dos integrantes do departamento de comunicação do clube.
Apesar dos dois mil ingressos disponibilizados para os gremistas, a expectativa é de que apenas 400 lugares na torcida visitante sejam ocupados. A animação da direção argentina é tão grande que várias obras de melhorias no estádio seguiram noite adentro para que o palco da partida esteja nas melhores condições possíveis para hoje. O superávit de US$ 17 milhões do último ano garantiu recursos para os investimentos no estádio.
Campo reformado
A situação do gramado para o jogo foi avaliada como positiva. A única ressalva feita, e reconhecida como um problema pela direção do Atlético Tucumán, é uma mancha próxima ao círculo central. Mas o terreno do jogo está regular e não apresenta imperfeições que atrapalhem a boa circulação da bola. O clube também fez investimentos recentes para garantir uma boa condição do piso de jogo. Pela época do ano, a grama do tipo resistente ao inverno foi plantada há algumas semanas para garantir um alto nível
— O gramado ainda está melhorando, nas últimas semanas melhorou muito. Contratamos o profissional indicado pela Conmebol para realizar a supervisão da manutenção — explicou o chefe de imprensa do clube, Silvio Nava.