Em agosto de 2013, quando a Arena nem tinha completado seu primeiro ano de vida, escrevi um texto que serviu como meu batismo de fogo nas redes sociais. Em "A implosão do fator local", enumerei uma série de ilusões dinamitadas pelo novíssimo estádio gremista.
Ir a um jogo se tornaria um programa mais agradável? Ok, as instalações eram confortáveis, mas, além de ter se tornado longe a ponto de, para mim, contradizer os famosos versos do nosso hino (até a pé, só na Azenha), as partidas costumavam registrar alguma confusão entre torcida e Brigada Militar ou dentro da Geral. A Arena seria um novo conceito em estádio multifuncional? Ainda não havia restaurantes nem shows como os de David Gilmour e do Coldplay.
O terceiro mito derrubado foi o da "invulnerabilidade como mandante, uma fantasia cara aos tricolores que faziam do Olímpico um caldeirão temido por todos os times do Brasil". Vou refrescar a memória de vocês: o Grêmio conheceu sua primeira derrota já no segundo jogo oficial na Arena, para o modestíssimo Huachipato, do Chile, na estreia da fase de grupos da Libertadores. Pouco depois, perderia pela primeira vez no Gauchão, para o Cruzeiro. Em 8 de agosto, o primeiro revés em competição nacional, para o Coritiba – o técnico, curiosamente, era Renato Portaluppi.
Choro infantil de um gremista que chegara a acreditar que, na Arena, o Tricolor seria imbatível e os títulos viriam aos borbotões, esse texto acabou sendo interpretado como corneta colorada. Motivou até uma resposta de Fábio Koff, então presidente do Grêmio, e gerou uma onda de comentários desairosos nas redes sociais. Teve gente que se deu ao trabalho de vasculhar meu passado. Sofri calado _ naquela época, eu era um dos editores de Esporte, então não pegava bem revelar o clube do meu coração.
A partir daí, passei a curtir, secretamente, uma espécie de vingança masoquista: os sucessivos fracassos do Grêmio significavam o sucesso da "maldição da Arena". "Nunca mais vamos ser campeões", dizíamos, eu e um amigo, a cada eliminação. O sentimento era de resignação: estávamos acostumados a perder, só mudava a camisa do adversário e o alvo da reclamação _ o árbitro, a trave, o azar.
A Copa do Brasil do ano passado mudou minha relação com a Arena. Acho lindo o espetáculo protagonizado pela torcida e voltei a acreditar na mística do estádio, agora com maturidade e serenidade para encarar o infortúnio _ já vi que, sim, podemos ser campeões. Mas será que fomos mesmo campeões na Arena? O que valeu a Copa do Brasil foram aqueles 3 a 1 sobre o Atlético-MG no Mineirão, e o tri da Libertadores foi conquistado na Argentina.
Sei não se a maldição acabou. Vou precisar de mais provas. Quero mais títulos. O primeiro deles pode até ser bem longe da Arena, tipo Abu Dhabi.