Eles já haviam garantido que estariam em campo na semifinal da próxima terça-feira, mas a verdade do futebol é a do campo. Então, era preciso vê-los em ação, no primeiro treino do Grêmio nos Emirados Àrabes Unidos. E o resultado foi o melhor possível.
Pedro Geromel trabalhou tão intensamente quanto na final da Libertadores, contra o Lanús. O ombro está mesmo "zeradaço", conforme ele havia afiançado na chegada ao país do Mundial de Clubes. A Maicon, após longa recuperação da cirurgia no tendão de Aquiles, falta mesmo só o ritmo de competição. Ele participou do treino como se nem tivesse tocado em seu calcanhar.
Duas boas notícias, para compensar uma péssima já digerida: a ausência do volante Arthur, cuja ascensão iluminou o meio-campo do Grêmio. Além das presenças de Geromel e Maicon como se nada tivesse acontecido, o treino registrou uma imagem que dá o tom de um novo momento, após as celebrações justificadas pelo tri da Libertadores e, até, da curtição pela presença nos Emirados para disputar um Mundial de Clubes.
Assim que os jogadores pisaram o gramado, em vez da roda de bobinho, Renato Portaluppi reuniu os jogadores no meio-campo. Sentaram-se todos ao chão. Menos ele, Renato, é claro, que permaneceu em pé com certo ar profético. Ao fundo, temperatura amena no inverno árabe, as abóbodas da principal mesquita de Al Ain contribuíam para o cenário mais grave no Estádio Thanoun Mohammed Bin Zayed, batizado em homenagem ao sheikh da cidade.
O objetivo do papo era esse mesmo. Chega de festa pelo tri e de elogios por representar o Brasil no torneio. Agora é hora de focar em questões mundanas. Tanto que o horário do treino de hoje foi adiado. Será mais tarde, a tempo de todos assistirem no hotel de Al Ain ao jogo entre Wydad Casablanca e Pachuca, em Abu Dhabi, 11h (horário brasileiro). É possível que Renato e Alexandre Mendes vejam o futuro inimigo ao vivo, no estádio.
— É o momento mais importante da minha vida, pelo que significa tudo isso. Mas agora é o momento de focar nos adversários, de ver os vídeos que a comissão técnica vai nos passar e de pensar no trabalho — concordou Ramiro.
Ramiro, a propósito, só correu ao redor do gramado, ao lado de Luan e Bressan. Foram poupados, mas nenhum deles preocupa para a semifinal de terça-feira.
— Vamos viver este momento, mas sem jamais relaxar. Nosso grupo sempre quer mais — resumiu Bressan, agora livre das desconfianças do torcedor e mais confiante, após as boas atuações quando foi requisitado, em momentos decisivos, especialmente a finalíssima da Libertadores.
O trabalho teve um sentido mais de tirar o avião do corpo após 30 horas de viagem do que propriamente preparar algo específico, mas nem por isso deixou de ser forte. A troca de passes em espaço curto, uma marca do tricampeonato da América, foi exercitada. O preparador Rogério Godoy comandou atividades de saída de gol e bola área com Marcelo Grohe, Paulo Victor e Bruno Grassi.
A concentração era tal que, a certa altura, ao entardecer de Al Ain, a nada suave sirene das orações para Meca ecoou no estádio. Desconfio que ninguém no campo percebeu. À exceção do Eduardo Peninha Bueno, que ameaçou ficar de joelhos e rezar na direção de Renato. A ordem, agora, é trabalho duro e foco no deserto. Chega de confete.