O Grêmio dos sonhos de sua torcida ressurgiu no momento certo. Um empate, quem diria, já seria considerado um resultado satisfatório. O que dizer, então, de um time que, no jogo de ida da semifinal da Libertadores, disputado na casa do adversário, e pressionado por mais de 40 mil torcedores, aplica uma goleada de 3 a 0.
Pois foi esta a façanha do Grêmio na noite quente de Guayaquil. O resultado dá ares protocolares ao jogo de volta, dia 1º de novembro, na Arena. E, sem bairrismos, transforma a equipe de Renato Portaluppi em favorita na disputa do título, seja contra River Plate ou Lanús.
A torcida nem precisou sofrer. Depois de uma investida inicial do Barcelona, com Ariel, viu o time adonar-se de forma completa da partida, como habituou-se a fazer em seus melhores momentos da temporada.
Cometeu um único vacilo aos seis minutos, quando Geromel foi superado na velocidade por Vera. E, logo em seguida, aos sete, marcou o seu primeiro gol.
Cortez, em qualificado avanço pela esquerda, driblou Beder Caicedo com facilidade e cruzou na direção da área. A defesa afastou de forma errada e Luan, com oportunismo, concluiu para vencer o goleiro, ainda com desvio da zaga.
Os cerca de 400 torcedores que haviam feito a desgastante viagem a Guayaquil recebiam um brinde muito melhor do que o esperado. O resultado não se explicava apenas pela eficiência ofensiva.
Com marcação adiantada, em que se sobressaía Jailson, escolhido por Renato para o lugar de Michel pela melhor condição física, o Grêmio sufocava qualquer tentativa de reação equatoriana. Aos 15, Fernandinho tentou de longe, mas o goleiro defendeu sem dificuldades.
O resultado dos sonhos, expressão utilizada pela direção, começou a tomar forma definitiva aos 20 minutos. Numa prova de que o Barcelona não teve a mesma eficiência gremista para estudar o adversário, Banguera pareceu desconhecer o histórico de eficiência de Edilson nas cobranças de falta. E apenas olhou o arremate forte do lateral direito passar ao lado da barreira e encontrar o caminho do gol. Era 0 2 a 0 que deixava o caminho aberto para a garantia da vaga no jogo de volta.
O Grêmio teve um inesperado recuo, que fez com que Renato, mais de uma vez, abrisse os braços à beira do campo. Sem maiores consequências, já que, apesar da insistência de Ariel e Damián Diaz, o Barcelona não deu sequer um chute. E ainda abusou de uma sequência de faltas que a arbitragem ignorou.
Ao menos nos instantes iniciais, a entrada de Marcos Caicedo no intervalo reenergizou o Barcelona. Que só não descontou, aos três minutos, porque Marcelo Grohe fez uma defesa que pode entrar na galeria dos melhores momentos da Libertadores. Depois de cruzamento da direita, Diaz desviou de cabeça para Ariel, que concluiu quase de dentro da meta e o goleiro salvou com o braço direito.
Nada, contudo, atrapalharia a noite gloriosa do Grêmio. Aos seis minutos, Edilson deixou Beder Caicedo deitado, cruzou para trás e Luan, com um chute preciso, venceu outra vez Banguera e completou sua obra ao fazer 3 a 0.
A partir de então, o Grêmio ficou à vontade para jogar em contrataques, em estocadas rápidas com Fernandinho ou cadenciadas com classe por Luan. No máximo, correu alguns riscos em bolas altas, a especialidade do Barcelona, em que Geromel e Kannemann chegaram a se confundir. Mas sempre foi quem mais esteve perto de fazer gol.
Aos 19, Léo Moura, que havia entrado no lugar do lesionado Edilson, fez cruzamento para a primeira conclusão de Lucas Barrios, para fora. Aos 32, Luan tentou por cobertura e errou. Ramirou também foi infeliz em arremate de fora da área, pouco depois.
Ainda que abatido, a torcida do Barcelona, a mais fanática do Equador, deve ter sentido vontade de aplaudir a troca de passes do Grêmio nos minutos finais da partida. Uma qualidade que volta a aparecer na hora mais apropriada e deixa cada vez mais vivo o sonho do tri da Libertadores.