Uma reunião na Federação Gaúcha de Futebol (FGF) nesta segunda-feira (16) pela manhã vai decidir o futuro imediato das competições organizadas pela entidade em razão da ameaça do coronavírus. Depois de uma rodada sem torcida no Gauchão, a tendência é de que seja anunciada a suspensão do campeonato por tempo indeterminado. A medida seguiria o caminho tomado pela CBF, que determinou a paralisação de todos os campeonatos nacionais em andamento. E acompanharia uma tendência mundial, já que praticamente todos os eventos esportivos foram interrompidos nas últimas semanas.
O presidente da FGF, Luciano Hocsman, acenou com a possibilidade de parar tudo. Segundo o dirigente, houve contatos com autoridades do governo estadual para buscar dados que embasem a decisão. Um encontro de representantes do Palácio Piratini com autoridades da saúde também deve apresentar novas diretrizes, e é a partir delas que será fechada a posição oficial da entidade organizadora do futebol gaúcho.
Entre os participantes do Gauchão, não haverá oposição à suspensão do campeonato. Todos os clubes prometem acatar, sem contestações, as recomendações dos órgãos sanitários. A tendência é de que haja unanimidade no apoio à paralisação.
A pressão do domingo (15) deu indícios do tom que terá a reunião entre clubes e federação. O Grêmio, no primeiro jogo do dia, entrou com máscaras para protestar contra a decisão de seguir o campeonato sem público. Ao final da partida, que terminou com vitória tricolor sobre o São Luiz por 3 a 2, o técnico Renato Portaluppi fez declarações fortes:
— Jogador de futebol, comissão técnica, todo mundo envolvido com o futebol também é gente. Nós não estamos imunes ao vírus. Quero saber de quem vai ser a responsabilidade, caso alguma coisa mais grave aconteça. Ou será que as pessoas não estão ligadas nisso? Será que o futebol brasileiro não tem que parar? O mundo inteiro está parado. Vamos precisar fazer uma greve? Será que precisaremos chegar nesse ponto? Acho que não precisamos chegar a isso. As pessoas responsáveis têm de ter bom senso de paralisar os campeonatos. Está dado o recado. Espero que as autoridades se botem no lugar do jogador. Se não quiserem parar, que assumam as responsabilidades.
Do lado colorado, as manifestações ocorreram antes mesmo das partidas. D’Alessandro, que na sexta-feira já havia criticado a decisão de seguir o Gauchão, voltou a se manifestar. Além dele, o jogador Musto escreveu nas redes sociais: “O que esperam? Parem tudo, filhos da p... Brincam com a vida das pessoas como se fosse um videogame. Parem antes que seja tarde demais”.
À tarde, a CBF anunciou a suspensão, a partir de hoje, por prazo indeterminado, das competições nacionais que estão em andamento. A medida vale para os jogos da Copa do Brasil, de Campeonatos Brasileiros Femininos A1 e A2, do Campeonato Brasileiro Sub-17 e da Copa do Brasil Sub-20.
Em relação aos campeonatos estaduais, as federações organizadoras terão deliberações específicas para cada competição. Em Minas Gerais, já foi informado que o torneio vai parar.
Saúde e finanças
Há dois pontos a serem considerados na paralisação das competições, um de saúde e outro de finanças. O diretor médico da FGF, Ivan Pacheco, afirmou que os prejuízos de se jogar com portões fechados são mais determinantes para a suspensão do Gauchão do que a recomendação de saúde:
— Temos de fazer uma análise científica, e não baseada na emoção. Precisamos entender a questão de pandemia. Nenhum deles (casos de gaúchos infectados) pegou em comunidade, ou seja, (contraíram) de viagens ao Exterior. Tecnicamente, hoje, não teria motivo para suspender o Gauchão a não ser as medidas que já tomamos, de jogar sem torcida, por causa da aglomeração. Não adianta pararmos o campeonato se eles não pararem de treinar. Irem para shopping, igreja e depois se encontrarem no trabalho e transmitirem entre eles.
Procurados, os clubes do Gauchão afirmaram ainda não ter posicionamento sobre procedimentos a serem adotados a respeito de treinos e atividades. Ao redor do mundo, as agremiações estão parando de trabalhar. O River Plate, por exemplo, levou W.O. na Copa da Superliga ao se negar a jogar – e de abrir o Estádio Monumental de Núñez — para a partida contra o Atlético Tucumán, depois que um atleta da categoria de base está com suspeita de coronavírus.
O clube mandou uma cartilha de exercícios para os jogadores realizarem de casa para manter a forma.
A outra questão é financeira. Apesar do apoio à paralisação do campeonato, os dirigentes demonstram preocupação. Há óbvio prejuízo econômico e de imagem em atuar sem torcida, mas estender o campeonato significará também solucionar problemas, como a necessidade de pagar salários sem a entrada das receitas de bilheteria ou até prolongar contratos com os profissionais. O presidente do Caxias, Paulo Cesar Santos, incluirá entre as sugestões a suspensão do pagamento do Profut nos meses em que o torneio estiver paralisado. No caso da Divisão de Acesso, que foi interrompida, o desafio é ainda maior:
— Os clubes têm de acatar as resoluções dos órgãos de saúde. Se isso se prolongar muito, talvez precisaremos liberar os atletas, paralisar as atividades até que haja liberação. Estamos em sintonia com a FGF e tomaremos a melhor alternativa — ponderou o presidente do União-FW, Edison Cantarelli.
A Terceirona, que tinha previsão de começar na primeira semana de abril, também deverá ser adiada. A reunião desta segunda servirá para apresentar as alternativas para todos os campeonatos do Estado.
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